30 de julho de 2007

Voltamos a nossa programação normal... sem aviso

_____Em maio escrevi um artigo anunciando que o Masp havia passado a abrir diariamente e que toda segunda-feira o ingresso caríssimo do museu passava a ser gratuito. Escrevi feliz, apesar de reclamar que não haviam anunciado a mudança de horário.

_____Aproveitando meus últimos dias de férias fui, hoje, segunda, ao museu e descobri que, após o fim da exposição do Darwin, o horário voltou a ser o antigo. Saí um pouco bravo por não ter sido informado da mudança de horário.

_____Para que nenhum leitor que tenha lido o artigo de maio apareça no Masp desavisadamente em uma segunda, saiba que agora o museu voltou a ficar fechado no primeiro dia útil da semana e que o novo dia gratuito é terça.

26 de julho de 2007

Provas com blogs (parte II)

_____Continuando a série sobre questões de provas com a utilização de postagens de blogs, hoje vou publicar duas questões que fiz para uma turma que estava estudando a Idade Moderna. O texto introdutório foi retirado do blog surra de pão mole.

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_____A introdução:

Paralelas

Após assistir programas sobre terrorismo ontem no canal THC (não é um canal para maconheiros, sua besta, é o The History Channel), foi inevitável traçar um rápido paralelo com a situação tupiniquim.

Madrid, 2004:

- Al Qaeda explode trens.

- A população se mobiliza através da troca de milhares de SMSs e enche as ruas com protestos por todo o país.

- Trocaram de governo nas eleições, dias depois.

São Paulo, 2006:

- PCC realiza ataques, queima mais de 80 ônibus, mata dezenas de policiais, etc.

- A população se mobiliza através de milhares de e-mails e do Orkut, e também enche as ruas da capital paulista. De bundões apavorados, fugindo pra casa.

- Lula e Serra serão re-eleitos.

Eita povinho mais bunda, diz aí. (Texto publicado no dia 12/IX/06, no blog surra de pão mole).

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_____As questões:

_____Utilizando o texto e seus conhecimentos, responda:

a) Qual atitude se assemelha mais com uma atitude iluminista, a de Madrid ou a de São Paulo? Justifique.

b) No século XVI a burguesia mercantil se via perseguida pela Igreja Católica que, entre outras coisas, condenava o lucro, pregava que poupar dinheiro era pecado. A Igreja, por outro lado, obtinha um bom dinheiro vendendo relíquias sagradas, cometendo usura, vendendo indulgências, etc.. Explique qual foi a reação da burguesia em alguns lugares da Europa e compare sua reação com o caso de Madrid ou o de São Paulo.

24 de julho de 2007

Meu cavalo por um comentário descente...

_____Li um monte de reportagens de jornal e postagens de blogs sobre o acidente do avião da TAM no aeroporto de Congonhas. Algumas lindas, várias revoltantes, muitas corretas; a maioria, emocionada. É tão difícil não cruzar com esses comentários quanto não ouvir o que algumas pessoas têm a falar sobre a morte do ACM*. Há pouco encontrei uma opinião realmente sensata e que merece destaque sobre o desastre. Ficam os links para duas postagens do Rafael Galvão.


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* Postagem atualizada.

21 de julho de 2007

É hoje!

Lançamento em Sampa

_____Pode parecer coisa de fã bobo, mas nem quero saber. Gosto muito do Biajoni e acho o Alex Castro o máximo e, como eu já havia anunciado, é hoje o lançamento dos livros dos dois aqui em São Paulo. Não percam de maneira alguma.

_____Nem vou falar algo do tipo “Se você não estiver fazendo nada, apareça.”, pois discordo totalmente. Sinceramente, se você tiver algo de bom para fazer na hora, largue e vá para o evento. Um monte de gente interessante reunida, dois autores talentosos, bons livros para comprar (com autógrafos), minha presença (modesto... tá bom, a presença da minha linda namorada também) e, com certeza, ótimos motivos para se dar risada. Duvida? Olha as promoções dos livros/cardápio (já que o evento vai ser em um bar) que eles fizeram:

Promoções/Cardário

_____Se você não deu risada de nada no “cardápio”, saiba que o dono da editora Os viralata, que está lançando os livros, é Albano Martins, o famigerado Branco Leone, autor do livro Os melhores (e alguns dos piores) textos de Branco Leone, livro com a mais engraçada propaganda de livros que já vi. Confira e, depois de dar risada, siga meu conselho: vá se divertir no lançamento também.


20 de julho de 2007

"Esse foi para o céu." (Atualizada)

_____Hoje Antonio Carlos Magalhães morreu. Sabe o que isso significa? Significa que vou ficar alguns dias sem abrir nenhum jornal. O ACM era um porco, um podre, um inútil, só que agora o maldito morreu e tem um monte de gente no mundo que acha que todo morto é santo e vão começar a glorificá-lo: “O Antonio Carlos fazia a diferença.”; “Teve uma carreira política inigualável.”; “Um exemplo de político.”; “O Toninho Malvadeza foi o representante máximo de uma época.”. Credo! Vou ficar sem ler jornal para não me irritar. Espero mesmo que ele tenha morrido sofrendo e sofra mais ainda no inferno.

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(Atualização – 24/VII/07)

Foi pro saco
Abençoado por André Dahmer.
_____Graças a Clio que fiquei sem ler jornais, mas blogs eu continuei lendo.

19 de julho de 2007

Provas com blogs (parte I)

_____Dando início à série que anunciei ontem, vou transcrever algumas questões de provas que fiz com a postagem intitulada “Pequeno profeta”, publicada no blog Jesus, me chicoteia!, de Marco Aurélio Gois dos Santos.

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_____A postagem do JMC:

Pequeno profeta

Enquanto esperava o ônibus para iniciar mais um dia agradável e nada estressante, assisti a uma cena que me fez voltar aos tempos do Velho Testamento. Na calçada, um moleque aplicava uma gravata no pescoço de outro. O que sofria a tentativa de estrangulamento primeiro recorreu a mim:

— Tio, ele tá me matando.

Vendo que eu só dava risada, ele resolveu argumentar com o outro:

— Cê tá apertando meu pescoço. Pára.

E o outro apertando.

— Olha que Deus tá vendo...

O outro nem aí. Emputecido ao limite, o moleque apelou de vez:

— Ô, Deus. Mata ele pra mim.

É ou não é um típico profeta dos tempos da juventude de Javé? Só o que estragou é que o outro moleque parecia um agnóstico daqueles bem ranhetas: relaxou um pouco o apertão e, vendo que não havia sinal de raio que o fulminasse, retomou a tortura.

O mal do mundo é essa falta de fé na ira divina. (24/XI/2006, do blog Jesus me chicoteia!).

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_____As questões:

_____Em uma sala em que eu estava ensinando sobre as reformas religiosas e afins, o enunciado do exercício foi:

_____O texto acima foi publicado no blog Jesus, me chicoteia! (blog que, normalmente, reflete sobre religião, baseado na sátira). Após lê-lo com atenção, responda as questões que se seguem:

a) O autor do texto termina sua crônica afirmando que “O mal do mundo é essa falta de fé na ira divina.”. Qual a religião protestante que tem a como seu ponto chave para a salvação humana? Justifique sua resposta, explicando um pouco mais sobre as principais características dessa religião.

b) O surgimento das religiões protestantes foi um claro sinal do enfraquecimento da Igreja Católica Apostólica Romana no século XVI e, talvez, parte do princípio do enfraquecimento das instituições religiosas e da fé no mundo contemporâneo. Tal declínio das instituições religiosas e da fé permite que hoje exista e faça sucesso um blog que tem como tema principal o escárnio reflexivo da religião. Cite e explique alguns fatores que contribuíram para o enfraquecimento da Igreja na Idade Moderna (1453-1789) e utilize parte da crônica “Pequeno profeta” para apresentar (e justificar) um motivo para a falta de fé nos dias atuais.

_____Em outra sala, em que eu estava trabalhando com História do Brasil republicano, após o texto introdutório do Marco Aurélio, fiz as seguintes perguntas:

a) Qual das personagens do texto acima (o narrador, Deus, o estrangulador ou o estrangulado) pode ser vista como populista? Justifique sua resposta.

b) O garoto estrangulado do texto, ao não agüentar mais o abuso, clama pela ira divina. No Brasil, graças aos abusos cometidos pelos governantes da época do “café com leite”, alguns movimentos de oposição ao governo foram aos poucos ganhando forças; o principal deles foi o tenentismo. Explique-o e relate se o resultado final dos movimentos tenentistas foram os mesmos obtidos pelo garoto que pediu a ajuda de Deus.

18 de julho de 2007

Provas com blogs (Introdução)

_____Caso algum leitor não saiba, começo esta postagem explicando: sou professor. Ensino História. Já ensinei em cursinhos, supletivos e faculdades, já lecionei para alunos da 5ª série ao 3º colegial. Experimentei diversos tipos de público e uma constante em meus cursos, pouco importando qual o público, é tentar aproximar meus alunos de alguma maneira da cultura, inclusive a não escolar. Sempre indico filmes (de preferência, os que estão em cartaz nos cinemas), peças de teatro, livros atípicos (inclusive clássicos pouco trabalhados normalmente pelos professores), levo meus alunos para exposições (vou levar um grupo dia 28 à Pinacoteca para refletir sobre a exposição "Imagens do Soberano" - Acervo do Palácio de Versalhes), etc..

_____Comecei em meados de 2005 a acompanhar alguns blogs e afirmo, sem a menor sombra de dúvidas, que uma produção cultural de qualidade altíssima tem sido publicada. Como acredito que aproximar meus alunos da leitura de bons blogs vale tanto quanto convencê-los a ler ou ir ao cinema, sempre indico alguns blogs para serem acompanhados dependendo do tema que estou trabalhando. Muitas vezes trabalhei com textos de blogs nas minhas aulas, utilizei quadrinhos ou montagens publicadas na internet como catalisadores de debates e por aí vai.

_____As provas que aplico são, em sua maioria, dissertativas, avaliações em que a interpretação, a reflexão e a capacidade argumentativa contam muito mais do que, simplesmente, o decorar vazio de alguma informação. Bem diferentes das avaliações aplicadas normalmente no ensino fundamental e médio, bem diferente do fraco “Provão” que tive de fazer quando de minha formatura. Tento fazer uma avaliação bem mais próxima dos melhores vestibulares do país (não os mais concorridos, mas sim os que melhor avaliam) ou de ótimos professores com os quais cruzei e cruzo na Universidade.

_____Toda essa introdução foi para dizer que resolvi publicar uma série (sem número certo de posts) com textos de provas em que cito alguns blogs, em que utilizo material produzido por blogueiros como base para a reflexão acadêmica. Acredito que, sendo este um blog, o meio é mais do que profícuo para o debate. Quem sabe assim não repenso e melhoro minhas avaliações e, talvez, até ajude alguns blogueiros a refletirem mais sobre a própria produção.

_____Publicarei amanhã a primeira postagem da série com algumas perguntas que fiz com uma antiga postagem do Marco Aurélio, do Jesus, me chicoteia!. Espero que meus leitores apreciem.

P.S.: Antes que alguém aproveite para fazer algum comentário maldoso, eu não digo para os meus alunos que tenho um blog e nem uso meu nome verdadeiro aqui no Incautos do ontem (para falar a verdade, não divulguei meu blog para ninguém que conheço. Os amigos que fiz por aqui, surgiram daqui mesmo). Se algum aluno encontrar uma pergunta de uma futura prova navegando pela internet, creio que atingi alguns dos meus objetivos: (I) fiz com que o aluno passasse a buscar um pouco mais de cultura na internet, nos blogs; (II) ensinei ele a pesquisar, a encontrar o que acha importante/interessante.

15 de julho de 2007

O autor assombrado pelos demônios

_____Minha sogra tem muitas crenças e muitos preconceitos, só que parece falar as mesmas coisas que falavam há dez anos como se nada no mundo tivesse mudado. Para ela, signos são como as leis da natureza, a homeopatia salvará a raça humana, homossexualismo é uma doença, os negros e judeus... tá, eu vou parar por aqui. Pelo menos aqui eu paro de falar. Quando ela está a fazer seus discursos sou obrigado a sempre questionar e ficar em um debate inútil por um bom tempo. Ah, se a filha dela não fosse tão maravilhosa...

_____O Sebastianismo foi um movimento místico-secular, surgido em Portugal pouco após o “desaparecimento” (leia-se “a morte”) do rei d. Sebastião, em 1578, na Batalha de Alcácer-Quibir. Depois da morte de dom Sebastião a vida para os lusitanos foi se tornando cada vez mais difícil, ainda mais que, dois anos depois, Portugal foi dominado pela Espanha por mais de meio século. Com dificuldades cada vez maiores, é fácil imaginar como uma boa parcela da população portuguesa seguiu facilmente a idéia messiânica de que o rei d. Sebastião iria reaparecer para conduzir Portugal novamente para uma época de prosperidade. Entretanto, acreditar na volta do rei no nordeste brasileiro, em pleno século XIX (leia-se “seguir cegamente os discursos de Antônio Conselheiro, em plena Guerra de Canudos”), é muito mais complicado. Um rei “desaparecido" voltar alguns anos depois até vai, porém mais de 300 anos depois não existe nem mais o que discutir (mas, é claro que o Elvis Presley ainda está vivo).

_____Minha sogra chega bem perto de ser uma sebastianista em pleno século XXI, acreditando literalmente. Sério. A nova mania dela é diagnosticar que todo ser humano que aparece precisa de uns cinco anos (no mínimo) de análise para resolver problemas que teve na infância. E ela conclama isso aos sete ventos, como se fosse a mais nova verdade universal.

_____Graças a Clio, o Adão Iturrusgarai faz com que eu me sinta melhor.

Reciclagem de futurologos, Adão Iturrusgarai

P.S.: Para quem não entendeu a referência do título, explico aqui e deixo recomendada a leitura do livro O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro, de Carl Sagan.

P.P.S.: Para quem concorda com alguma das crenças da minha sogra, a leitura do livro de Sagan é obrigatória.

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Leitura também recomendada: “Pessoas-Que-Acreditam-em-Coisas”, de Alex Castro.

11 de julho de 2007

Tem programa para sábado?

Propaganda dos lançamentos dos livros do Alex e do Biajoni

_____Sábado, dia 14 de julho, às 19h30min, Alex Castro e Luiz Biajoni vão fazer o lançamento oficial de seus novos livros no Rio de Janeiro. Biajoni lançará o romance Virgínia Berlim (uma experiência) e Alex Castro lançara dois livros: o e-book Radical Rebelde Revolucionário – Crônicas Cubanas, com crônicas de sua viagem a Cuba, e o livro em formato clássico Liberal Libertário Libertino – Crônicas, com uma seleção de textos de seu famoso blog.

_____Eu já comprei o Radical Rebelde Revolucionário. Vindo em formato e-book, estou feliz de saber que vou poder começar logo a leitura (e também fazer comentários e perguntas no blog do livro, com uma postagem e caixa de comentários ligada a cada capítulo do livro – idéia para lá de profícua e interessante para permitir um maior contato com o autor e dar mais interatividade à obra). Entretanto, os outros dois livros eu vou esperar, pois eles serão oficialmente lançados aqui em São Paulo, no sábado posterior (dia 21 de julho, às 19h), a menos de cinco quarteirões da minha casa, no Bar Canto Madalena (que eu sempre chamei de “Canto da Vila” por algum motivo). Esperar uma semana a mais vale a pena para que eu possa conhecer dois autores que admiro muito e, é óbvio, para sair com meus exemplares autografados.

P.S.: Quem tiver pressa e quiser logo os livros na mão, eles já estão a venda no site da editora Os vira-lata, pela qual as obras estão sendo lançadas. Quem comprar mais de um dos livros ganha desconto.

P.P.S.: O engraçado release anunciando os lançamentos pode ser baixado aqui.

P.P.P.S.: Se eu ainda não convenci vocês a comprarem os livros, deixo aqui indicado três textos completos do livro RRR, do Alex Castro. São textos que se completam naturalmente e aconselho que sejam lidos na seqüência indicada. São os meus preferidos até o momento: “Os Jineteiros”, “Dionisio, Um Chileno Malandro” e “As Jineteiras”. Depois de ler, quem não quiser comprar ou é pão-duro ou não sabe o que é uma boa crônica.

8 de julho de 2007

Revolta preconceituosa

_____As pessoas se revoltam por cada coisa. Para ser mais exato, é impressionante como as pessoas ficam revoltadas por umas bobeiras enormes e parecem nem ligar para outros assuntos realmente revoltantes. Uma das revoltas de botequim do momento é reclamar do infeliz do norte-americano que escreveu em um quadro no Riocentro a frase “Welcome to the Congo”.

_____Eu pergunto, e daí? Grande porcaria. Se ele tivesse escrito “Welcome to the França”, “Welcome to the Inglaterra”, “Welcome to the Suiça”, “Welcome to the Austrália”, “Welcome to Canadá” ou “Welcome to Raio que o Parta” alguém estaria reclamando? Se é que o comentário teve algo de preconceituoso, para se ofender com o comentário você também tem que ser bem preconceituoso. Diga-se de passagem, os brasileiros, tão revoltados de serem comparados ao Congo, acham o Congo tão ruim assim? Preconceituosos!

_____Um dos diálogos mais emocionantes do cinema atual foi feito no filme Hotel Ruanda, de Terry George (2004). Nele o africano Paul Rusesabagina (personagem de Don Cheadle) agradece ao operador de câmera de uma emissora de televisão, Jack Daglish (interpretado por Joaquim Phoenix), por gravar imagens do massacre que estava acontecendo na região, pois, graças àquelas cenas, haveria chance de alguém do “mundo civilizado” intervir. O cinegrafista, então, informa que provavelmente ninguém irá intervir no massacre. Espantado, Paul Rusesabagina pergunta como poderiam não intervir após verem tais atrocidades. Após um longo suspiro, Jack Daglish explica para o seu interlocutor: “Eu acho que as pessoas vão ver as imagens em um jornal, comentar ‘Oh meus Deus, é horrível.’ e vão terminar seus jantares.”.


_____Coisas assim acontecendo o tempo todo no mundo, no Brasil e as pessoas se preocupam com uma piadinha de um norte-americano, sem nem notar os próprios preconceitos, as próprias atitudes. Pessoas que só mudaram o mundo daquela maneira que o Greenpeace falou em uma de suas novas campanhas.


P.S.: Aproveitando para lembrar (ou contar, já que ninguém na América conhece nada sobre a África), a maior cidade do Congo e também sua capital chama-se Brazzaville. Brazzaville, começando com as mesmas letras do internacional Brazil.

6 de julho de 2007

Variações sobre o mesmo tema

_____Ontem eu fui ao cinema assistir o filme O despertar de uma paixão (The Painted Veil), de John Curran. Vale a pena, mas não é disso que vim falar. Resolvi falar rapidamente da gostosa experiência que foi ter assistido ao filme após, por coincidência, assistir novamente o Depois da chuva (Ame Agaru), filme baseado no último roteiro escrito por Akira Kurosawa e dirigido por Takashi Koizumi, um de seus discípulos.

_____Assista aos dois. Duas histórias bem diferentes, com estilos muito diversos, esbarrando em uma idéia comum. Confie em mim, você vai se divertir.

4 de julho de 2007

Mal educados e caras-de-pau

_____Toda segunda-feira, por volta das 19h30min, acontece, no auditório do MASP, um evento fantástico, o Letras em cena. Nele, alguns atores são convidados para ler um texto qualquer. Lêem de tudo, desde pequenos poemas, até peças completas de teatro (normalmente, a atração principal). Além disso, o evento começa com uma apresentação musical, uma performance, etc.. Também no começo há uma distribuição de brindes (livros, na maior parte das vezes). E, para o santo desconfiar, saiba que é completamente gratuito (o bom tom manda as pessoas se inscreverem no site alguns dias antes e chegar meia hora mais cedo). É realmente maravilhoso. Gosto tanto que até já enviei para eles o romance de um dos blogueiros que mais admiro (com o devido aval do autor), só falta aprovarem.
_____Mas, apesar de estar aproveitando o espaço para divulgar o Letras em cena, não é exatamente sobre ele que vim falar. Vim relatar algo que aconteceu em uma das segundas-feiras que consegui tempo para comparecer e aproveitar o evento.
Letras em cena - público
Uma foto do público do Letras em cena em um dos dias de leitura. Eu apareço nesta foto. Pago um ingresso de teatro (eu escolho a peça) para quem adivinhar quem sou eu. Pode colocar a resposta nos comentários.

_____Terminei de auxiliar uma jornalista amiga minha a revisar umas matérias e, aproveitando que o trabalho terminou mais cedo do que eu planejava, corri para o metrô para ir ao Letras em cena. Cheguei cedo (sou minimamente educado, obviamente eu nunca entraria atrasado no evento) e, mesmo sem ter me inscrito antecipadamente no site, consegui um ingresso. Entrei calmamente, com meu livro na mão, e sentei lá pela quarta, quinta fileira.

_____Apesar de ter levado um livro (o evento não costuma atrasar, eu é que não costumo sair de casa sem um livro na mão), nem o abri ao entrar no auditório do MASP. Assim que entrei, ouvi um som de piano e, portanto, após escolher o meu lugar, fiquei a apreciar o pianista e sua música. Porém, mais gente foi chegando e o auditório foi enchendo. Não que ele tenha ficado lotado (nunca vi ficar completamente lotado), apenas a parte da frente é que ficou realmente cheia.

_____Pois bem, o auditório foi ficando cada vez mais cheio e as pessoas, apesar do pianista tocando no placo, entravam como se não houvesse mais nada por lá, só uma comum busca por um lugar para sentar. Aquela manada de mal-educados entrava conversando e continuava conversando, falando em voz alta mesmo, dando risada. Uma menina peituda atrás de mim resolveu mudar o toque do celular. Um grupo de velhinhos sentou-se separado e, após alguns instantes, um dos velhinhos começou: “Roberto! Pâmela! Aqui, ô! Tem lugar sobrando aqui do lado, vem sentar aqui!”. E o infeliz que eu acho que chama Roberto, na primeira fileira, respondeu, também em voz alta: “Não quero! Ela disse que prefere ficar aqui na frente.”. E o outro retrucava: “Deixa disso, fica com a gente! Vem prá cá.”. Isso por vários minutos.

_____Creio que o pianista tocou umas três músicas desde o momento em que eu entrei. Só que as duas últimas eu nem consegui ouvir direito, dada a balbúrdia que estava aquele lugar.

_____Então, o que aconteceu? O pianista terminou de tocar a última música, levantou-se para sair e... o que o público fez? O que aqueles animais que pareciam ter sido criados em um celeiro fizeram? Aplaudiram! Fervorosamente o público aplaudiu. Não é possível. As pessoas não podem ser mais caras-de-pau. Aqueles símios nem tinham ouvido o trabalho do infeliz do pianista. Por que diabos começaram a aplaudir? Eles deveriam era abaixar a cabeça e murmurar um pedido de desculpas. Deveriam sair de lá e se auto-flagelarem em casa. Deveriam sair do MASP e se jogarem todos na frente de um ônibus, na Avenida Paulista. Vão todos para o meio do inferno. Cambada de mentirosos. Aplaudiram como se tivessem ouvido. Pena que o pianista agradeceu. Eu teria baixado as calças e mostrado a bunda.

_____Pelo menos durante a leitura da peça as pessoas respeitaram e não fizeram barulho. Com exceção do celular da menina atrás de mim que tocou (com o toque novo) bem perto do fim da peça.


P.S.: A leitura da segunda-feira vindoura será uma reunião de textos louvando os atores, chamada de “Ser ator”. Serão apresentados textos de Fernando Pessoa, Cassiano Ricardo, Louis Jouvet, Plínio Marcos, Luis A. de Abreu, Tankred Dorst, Shakespeare, Antunes Filho, Bertolt Brecht, Caetano Veloso, Laurence Olivier, Chico de Assis, Antonin Artaud, Fernando Veríssimo e Fernando Bonassi, com a participação de Antônio Petrin.

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Imagem: Foto de Márcia Nicolau, disponível em http://www.letrasemcena.art.br.

1 de julho de 2007

Meus influentes leitores... fazendo os outros de bobo

_____Não é que realmente alguém muito influente lê este blog? Outro dia reclamei da falta de faixa de pedestres em algumas ruas e, poucas semanas depois, as faixas foram pintadas. Desta vez, há uns 15 dias, contei que os meus bilhetes de metrô estavam falhando e não é que já resolveram o problema.

Cartão Fidelidade

_____O metrô de São Paulo inventou o “Cartão Fidelidade”. Ao invés de andar com pequenos bilhetinhos fáceis de amassar, o metrô agora resolveu fazer um cartão dá um desconto de vinte centavos a cada viagem. Tudo isso só porque eu escrevi sobre o tema.

_____Que coisa... Acho que perdi a chance de fazer o pessoal do Blue Man Group não cobrar aquele preço absurdo pelos ingressos.

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_____Deixando minhas piadinhas irônicas de lado, acho que alguns comentários sérios devem ser feitos sobre o novo cartão do metrô. O primeiro é o absurdo que é cobrarem uma grana extra (dois reais) para que as pessoas tenham o direito ao desconto por falta de organização da própria instituição. O segundo é só permitir que os cartões sejam recarregados em lugares terceirizados (ou bancas de jornal ou na Rede Pague Express), arrumando um meio de diminuir o número de funcionários realmente contratados pelo metrô. O terceiro, de maneira muito perspicaz, foi feito por um leitor, após ler outro artigo que escrevi sobre o metrô paulistano. O Gustavo, do Pensamentos macarrônicos, disse:

Essa historia dos [novos descontos nos] bilhetes eu tbm nao engoli, o pior é que vc tem que fazer uma escolha, se quiser pagar mais barato p/ usar integração metro-onibus nao pode comprar os múltiplos, só bilhete único, se quer desconto [tipo “Cartão Fidelidade”] esqueça integração [com os ônibus.]

_____Bom saber que nem todo mundo é feito de otário, acreditando que é para o próprio bem.

Propaganda do metrô