30 de setembro de 2008

Dia da secretária

_____A esposa do médico vira para a secretária e comenta:


_____– Você já reparou como o seu patão se veste bem?


_____– Sim! E você já reparou como ele se veste rápido?



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_____Não sei se quem não tem médico na família sabe, mas eles (principalmente aqueles que têm consultório) são constantemente presenteados. Os laboratórios e afins vivem entregando amostras grátis, brinquedos e outros tipos de propagandas agrados. Como sou filho de médico, desde criança sou acostumado a ver meu pai chegar em casa com bloquinhos de anotação, canetas, cubos-mágicos e coisas do tipo (todas, claro, devidamente propagandeando a marca de algum medicamento).


_____Puxar o saco das secretárias dos médicos também é comum. Como os propagandistas sabem que elas podem dificultar bastante o trabalho deles, as secretárias não costumam ficar de mãos abanando – muito menos no dia 30 de setembro, o dia da secretária.


_____Dito isso, eu gostaria de contar que hoje chegou ao consultório do meu pai dois pacotes: um presenteando a secretária e outro para o meu pai. Para a secretária, mandaram velas perfumadas; para o médico, um vinho tinto.


_____Espera um pouco. O estereótipo de patrão tendo caso com secretária chegou tão longe que já estão enviando vinhos para os patrões e velas perfumadas (sabe, estilo motel, para dar um clima) para as secretárias?


_____Não deixa de ser interessante. A mentalidade dos laboratórios farmacêuticos subiu muito no meu conceito. Só fico curioso para saber que tipo de lingerie eles enviam para as enfermeiras no dia delas.


29 de setembro de 2008

Efeito das mudanças

_____Mudar de casa dá muito trabalho (e não só para os carregadores dos caminhões), mesmo se a mudança for para um local melhor. No começo do ano eu mudei de apartamento. Gosto bastante do novo apartamento: é bem localizado, tem uma boa vizinhança (e uma vizinha boa, vocês tem de ver as curvas da moça do 63), a maioria dos funcionários é bacana, meu quarto ficou muito bem arrumado (inclusive com estantes para os meus livros). Mesmo assim, mudar foi um caos.
_____A balbúrdia foi tanta que as caixas só saíram do corredor quando os outros moradores começaram a me ameaçar. É claro que fico feliz em deixar meus livros organizados (algo que facilita absurdamente as minhas pesquisas), mas, por causa dessa história de guardar, retirar, reorganizar, tem um volume do Freud que, até hoje, eu não consegui encontrar. Minhas algemas e o chicote eu também nem imagino onde foram parar. Mesmo assim, creio que o saldo da mudança foi positivo.
_____Semana passada completou um mês que eu mudei o meu blog aqui para o Ops!. Por mais que eu tente me organizar, é bem complicado; parece que muitas coisas ainda estão dentro das caixas. Não consegui transferir ainda todos os comentários; o Wordpress e eu estamos nos estranhando mais do que político e vergonha na cara; não consigo resolver alguns problemas da barra lateral; e, pior de tudo, alguns leitores antigos devem ter pegado o ônibus errado e nunca apareceram aqui na casa nova.
_____Em compensação, mesmo tendo que aturar algumas latas de cerveja que o Felipe de Amorim deixa jogadas pelo condomínio, ganhei uma vizinhança maravilhosa. Aprendi um monte de coisas, conheci muita gente interessante, novos leitores vieram para cá, projetos muito bons surgiram pela frente...
_____No fim das contas, se alguém quiser saber, estou muito feliz e satisfeito com a mudança. O Ops! é maravilhoso e os planos que rolam por aqui são bem interessantes. Só é uma pena que não tenha uma gostosa no 63 para eu fingir que encontro por coincidência no corredor.

27 de setembro de 2008

O homem que calculava

_____Saindo do metrô, vejo um vendedor ambulante que se esgoela tentando vender umas balas de goma:
_____– Uma é cinqüenta, duas é um real!
_____É impressionante como tem gente que não sabe como fazer uma promoção.

24 de setembro de 2008

Nada de bom em cartaz

_____“Não ando vendo nada. Não tem nada de bom passando.”.
_____É muito comum, em rodas de amigos, quando o assunto cinema ou teatro está rolando, que algum idiota, ao ser questionado sobre o que viu de bom ultimamente, reproduza as frases do parágrafo anterior. Apesar de tentar demonstrar-se superior ao assunto que está sendo discutido, o babão nada mais faz além de externar sua mediocridade.
_____Em São Paulo (ou outro pólo cultural qualquer), falar que não tem nada de bom em cartaz é o mesmo que dizer que falta homem olhando o decote daquela sua amiga peituda. A oferta de filmes e peças de teatro é tão grande que você tem de se esforçar para que seu gosto não seja contemplado. Tem de tudo: de clássico a pipoca, de alternativo a proibidos para menores, de caríssimos a gratuitos.
_____Obviamente, ninguém é obrigado a aproveitar a maravilhosa e incessante oferta de filmes e peças que São Paulo oferece. Aceitáveis ou não, motivos para não assistir nada – “Não tenho tido tempo e nem sei o que está passando.”, “Ando muito cansado.”, “Minha dominatrix me mantém amarrado em todas as minhas horas livres.” – existem às pencas. O que não é aceitável, com certeza, é menosprezar as inúmeras ofertas que a cidade oferece afirmando que nada é bom, em uma vã tentativa de proteger a própria ignorância.

22 de setembro de 2008

Não sei...

_____Sexta de manhã. Aula particular na casa de um garoto que eu nunca havia visto na vida.
_____– Oi, Artur. Prazer, meu nome é Ulisses.
_____– Oi.
_____– Então, o que eu vim ensinar para você?
_____– História.
_____– Eu sei, mas qual conteúdo da matéria de História?
_____– Puxa... Não sei.
_____– Sabe o que vai cair na sua prova?
_____– Também não sei.
_____– Hum... Deixe-me ver o seu caderno.
_____– Esqueci na escola.
_____– OK. Liga para um colega seu e pergunta o que vai cair na prova.
_____– Tá bom.
_____Depois de uns minutos o garoto volta e fala:
_____– Ele falou que só vão cair os capítulos 1 e 3.
_____– Legal. Sobre o que são esses capítulos.
_____– Não sei.
_____– Passa o seu livro para cá.
_____– Esqueci o livro com o caderno.
_____– Liga para o seu amigo e pergunta sobre o que são os capítulos 1 e 3...
_____O resto da aula até que rolou direitinho. Mas, se a mãe desse garoto me pedir mais uma aula particular sem me informar, novamente, qual a matéria que eu vou ensinar, eu dobro o preço.

20 de setembro de 2008

Surfista de trem

_____Adoro São Paulo. Aqui sempre existe algo divertido para se ver, pessoas estranhas para se encontrar. Não importa que esteja um frio de doer; não faz diferença que aqui não tem praia. Em Sampa é possível encontrar de tudo, até mesmo um surfista no metrô, bem no meio da semana.



18 de setembro de 2008

Traga seu amor de volta com a ajuda da Globo

_____Dia desses, falei sobre um spammer engraçado que apareceu aqui no Incautos tentando vender sementes de maconha. Tirando as pessoas chatas que ficam enviando correntes de auto-ajuda por e-mail para os amigos (?), a população normal odeia spammers. Mesmo assim, tenho de admitir, de quando em vez aparece algum spam minimamente engraçado – como o do traficante.
_____Desta vez, a spammer engraçada apareceu em uma postagem que escrevi tirando sarro de um curso de Psicologia Experimental, cujo tema era “Relacionamento amoroso: teoria e pesquisa”. Como o título que eu escolhi para o meu texto foi “Como trazer a pessoa amada em um semestre”, a spammer colocou, nos comentários, um texto sobre uma “SIMPATIA E AMARRAÇÃO PODEROSA PARA QUE O SEU AMOR SE ARREPENDA E VOLTE”.
_____Além de extremamente tosco, o texto indica um site que vende (é óbvio!) um “KIT AJUDA SENTIMENTAL”. Eu teria apenas rido moderadamente, caso eu não tivesse cruzado, no site, com a seguinte propaganda:



_____Achei o máximo. Mais umas duas dessas e eu vou assistir o Fantástico no próximo domingo.

P.S.: Quem quiser se divertir mais um pouco com o assunto pode dar uma lida, também, no texto “Trago Pessoa Amada em Três Dias”, do meu amigo Alex.

P.P.S.: Alterei o link do spam nos comentários da minha postagem (coloco novamente quando me derem parte dos ganhos), mas deixei o endereço por lá para quem quiser entrar no site para fazer o ex voltar dar risada.

16 de setembro de 2008

Abnegada

_____Admiro muito quem sofre pelo bem do próximo, quem se doa, quem se esforça para melhorar a vida dos outros.
_____Hoje cedo saí de casa, a pé, para ir trabalhar. Eu não tinha mais sono, pois o frio era tanto que Hipnos, o deus do sono, com certeza havia saído de perto de mim e ido se enrolar nas cobertas da própria cama. Eu mal conseguia segurar meu livro de bolso enquanto caminhava sem pensar que meus dedos tinham chance de gangrenar.
_____Então, no meio da minha martirizante caminhada, passa, bem na minha frente, uma morena alta, usando uma saia muito curta, com belas pernas (interminavelmente longas e nuas). A parte de cima da roupa dela também não cobria muita coisa. Não sei o que aconteceu, mas não prestei atenção no frio enquanto ela ainda embelezava o meu campo de visão e, também, durante um bom tempo depois.
_____É obvio que aquela morena estava com frio, deveria estar morrendo de frio. Mas, isso não pareceu importar de nada: ela queria melhorar alguns instantes da vida das pessoas à sua volta e, portanto, saiu de casa daquela maneira para embelezar o mundo. Abençoada seja a moça.

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P.S.: Aproveito para indicar o divertido texto “Pela regulamentação da profissão de Bonito”, da Juliana Cunha, como um complemento ideal para esta minha crônica.

14 de setembro de 2008

Inversão de valores

_____Dia desses uma amiga minha soltou a seguinte frase: “Depois que me tornei motorista, eu virei uma pedestre muito mais cuidadosa.”. Enquanto eu pensava em uma maneira educada de dizer que ela é que deveria ser uma motorista mais cuidadosa por ter sido pedestre ou algo do tipo, minha amiga completou: “Tento não ser como os pedestres normais. Eles atrapalham demais.”.
_____Pára tudo! Será que os carrodependentes do mundo se esqueceram que quem dirige aquela arma de mais de uma tonelada (também conhecida como automóvel) é que deve tomar cuidado com os pobres civis? Os motoristas não têm o sacrossanto direito de andarem como querem, por onde querem, com a quantidade de álcool no sangue que querem. Eles estão portando uma arma, nada de errado pode acontecer com os desarmados. Nunca.
_____Imagine a cena. Um cara bombado, tentando se fazer de macho na frente dos amigos, comenta:
_____– Depois que o meu pit bull cresceu eu percebi o quanto essas pessoas que andam na rua são um porre. Dá para acreditar que elas têm a pachorra de não mudar de calçada quando estou passando com o Bush Hussein?
_____Espero que os carrodependentes do mundo consigam entender que o dono do pit bull é que deve tomar conta do seu cachorro e não os transeuntes que têm de mudar de calçada.
_____Claro que é necessário tomar cuidado. Ninguém deve ir lá e pular na frente de um cão potencialmente bravo. O ideal é que quem está passando perto de um cara com um pit bull preste atenção, mas é o dono do cachorro que tem de ser o mais cuidadoso. Se existe o perigo – mínimo que seja – de que o animal morda alguém, coloque uma focinheira. Ou alguém vai achar normal se o bombadão falar:
_____– Que porcaria. Estão vendo esta mancha aqui na minha calça? O Bush Hussein mordeu uma criança e espirrou sangue na minha perna. Por que aquele guri de merda tinha que chegar perto? Agora a mancha não sai.
_____A fala do bombado parece absurda? Não mais absurda do que “Os pedestres atrapalham demais.”. Discorda? Então, pode se preparar para escutar em um breve futuro algo como “Ainda bem que eu passei por cima daquela velhinha, ia demorar muito para ela atravessar a rua. Só espero que não tenha amassado o pára-choque.”.

12 de setembro de 2008

O trágico fim dos livros de bolso

_____Conheço gente que adora livros de edições de luxo: capa dura, papel cuchê image fosco e outras viadagens quaisquer. Eu, pessoalmente, adoro livros de bolso.
_____Os pocket books são ótimos por diversas razões: são baratos, fáceis de carregar e guardar, mais baratos, os de boa qualidade (como os da L&PM Pocket) são resistentes, não são caros, contam com os clássicos da literatura mundial, o preço é baixo, são encontrados até em bancas de jornal e – não sei se eu já citei – o preço é mais acessível do que o dos livros em média. Quando vou comprar livros, sempre que posso, privilegio as edições de bolso.
_____Como são fáceis de carregar, sempre que saio de casa levo um pocket comigo. Leio no ônibus, metrô, em filas, andando, esperando o elevador. Quase qualquer lugar é um bom lugar para “tirar o livro do bolso” e começar a ler. O único problema é que, assim como os outros, esses livros, uma hora, aproximam-se do fim.
_____Sempre que um livro de bolso está para terminar, vivo uma pequena tragédia pessoal: se saio com o livro, corro o risco de terminá-lo fora de casa e não ter o que ler na rua; se levo outro livro, como estepe, caso o primeiro termine, acabo tendo de carregar dois – o que elimina a enorme comodidade que é carregar os pequenos pocket books. Obviamente, como, normalmente, estou empolgado para terminar o livro, não quero deixá-lo em casa. Sem contar o pequeno drama coadjuvante que é decidir qual o próximo pocket que devo escolher para me acompanhar.
_____Resultado: ler um livro de bolso é maravilhoso; terminá-lo, um martírio. Vale dizer, um martírio pelo qual estou passando.

10 de setembro de 2008

O Swingueiro na Suruba

_____Por adorar swing sou, constantemente, motivo de chacota entre meus amigos não-dançarinos. Agora, creio que as coisas vão piorar bastante. Como tenho andado com os maus elementos d’O Pensador Selvagem, fui convidado para participar da Suruba.
_____Suruba ou Uma Mulher Chamada Suruba é uma novela escrita pelas muitas mãos dos escritores do Ops!. Parece uma mistura entre as pornochanchadas, o livro Cândido, do Voltaire, textos do Marquês de Sade e as novelas mexicanas que aportaram por aqui. Começou pela genial pena de Marconi Leal e eu sou, agora, o autor do quinto capítulo. Espero que vocês gostem.

8 de setembro de 2008

Entendidos em Bossa

_____Ontem fui ao Parque do Ibirapuera aproveitar o último dia da exposição Bossa na Oca. Não posso dizer que não foi divertido (e barato, pois, como era a última semana do evento, a entrada foi gratuita), mas acredito que a exposição poderia ter sido melhor. Não que a pesquisa não tenha sido boa, que a montagem não estivesse interessante ou que não tivesse muita coisa fora do comum, o problema é que, pelo visto, o pessoal que montou a exposição entendia de Bossa Nova até demais. Ou, pelo menos, entendia bastante das críticas feitas ao movimento.
_____A Bossa Nova foi um movimento musical muito criticado. Seus desafetos reclamavam dos sons fora do comum, do estilo peculiar, da música baixinha. Não foi à toa que os músicos da Bossa foram, mais de uma vez, acusados de “desafinados”.
_____Pelo visto, Marcello Dantas e Carlos Nader, os curadores, estavam bem cientes dessas críticas, pois, por mais interessante que estivesse a exposição, os sons eram péssimos. Mal dava para ouvir as falas da maioria dos vídeos; as músicas, então, nem se fala. Eram tantos ruídos, vindos dos diversos ambientes da Oca, que os sons, já baixinhos, ficaram mais inaudíveis ainda.
_____Saí um tanto decepcionado com a exposição. Fui lá porque queria ouvir Bossa, talvez até ensaiar uns passos de gafieira com a minha namorada. No final, só treinei meus ouvidos e passei vontade.

6 de setembro de 2008

Ménage à trois – Dia do Sexo

_____Diálogo entre eu e uma dançarina amiga minha pelo MSN:



Amiga diz:
vc faria sexo a tres se fosse vc, uma menina e outro homem?
Amiga diz:
(e nao, isso nao eh um convite)
Amiga diz:
hahahahaha
Ulisses Adirt diz:
Dentro de certos parâmetros, faria sim.
Amiga diz:
hehehehe
Ulisses Adirt diz:
Vc tem vontade?
Amiga diz:
hum.. pra falar a verdade nao..
Amiga diz:
=/
Amiga diz:
se fosse duas meninas e um cara, acho q talvez sim...
Amiga diz:
mas dois caras e eu provavelmente nao
Ulisses Adirt diz:
Ok, já sei a quem chamar...
Amiga diz:
gracinha ¬¬
Amiga diz:
Vc jah fez?
Ulisses Adirt diz:
Ainda não... mas, tenho vontade...
Ulisses Adirt diz:
Hum... vc... hum... faria algo com a minha namorada?

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_____Vou censurar a continuação. Deixo o resto para a imaginação dos meus leitores.
_____Quanto ao diálogo posterior – entre eu e a minha namorada –, não pretendo publicá-lo aqui no blog. Nem a conversa, nem as fotos dos meus hematomas.

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P.S.: Este texto foi publicado com o devido apoio da Olla.








P.P.S.: Podem entender “devido apoio” como vocês bem quiserem.

4 de setembro de 2008

Minhas camisetas do Che

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_____Classicamente, os historiadores têm fama de serem comunistas. Não apenas comunistas, devotos de São Marx. Como Fiéis de Marx, alguns preceitos religiosos devem ser seguidos: ser hiper-esquerdista, revolucionário, ficar sem cortar a barba e o cabelo, não tomar muitos banhos e, para finalizar, usar camiseta com o Che Guevara estampado.
_____Claro que isso é um estereótipo. Só que é um estereótipo aceito por muita gente, inclusive por historiadores. Tive inúmeros colegas na faculdade de História que compraram a idéia do esquerdista clássico e eram exatamente assim: militantes ferrenhos, fedorentos, cabeludos, demonizadores da Coca-Cola e usuários de camisetas do Che.
_____Eu sou de esquerda, mas nunca procurei seguir nada desse bobo lugar-comum. Não que eu procure fugir do estereótipo, só não gosto de andar sujo, militar aos quatro ventos e rezar cinco vezes ao dia, voltado para Moscou,  segurando o Capital.
_____A questão é que meus parentes e amigos sabem que sou historiador e pensam que eu tenho algo de “comunista clássico”. Resultado: quando alguém resolve me presentear, logo escolhe uma camiseta do Che Guevara. Quem vê o presente logo fala “Olha só! Combina mesmo com um historiador.” e, no ano seguinte, acaba me dando outra. Tenho umas cinco no armário e, acreditem, todas eu ganhei de presente.
_____Não me entendam mal, eu gosto do Che (e também gosto de ganhar presentes). Acho que ele foi uma boa pessoa, tentou fazer bem para mundo. Entretanto, gostar do médico argentino não me faz um adorador. Não preciso ficar andando por aí com a cara dele no peito. Só que camiseta é camiseta. Desde que a estampa não tenha nenhum dizer que eu condene completamente (“Deus é Fiel”, “Morte aos gays”,  “100% Branco”, “Miss Cangaíba”, “Vote Maluf”), eu uso sem problemas. Normalmente, pego a primeira camiseta da gaveta e visto quase sem prestar atenção em qual escolhi.
_____Feita toda essa introdução, pergunto: Sabem o que acontece quando eu saio com uma das minhas camisetas do Che Guevara? Invariavelmente aparece alguém e comenta algo como “Historiador é assim mesmo, sempre com camisa do Che.”.
_____Eu mereço.

2 de setembro de 2008

A Supervisora de Ensino e o Bicho-papão

_____Logo após as férias do meio do ano, a coordenadora pedagógica de um dos colégios em que eu trabalho começou a cobrar os diários dos professores. Mesmo sabendo que eu faço questão de entregar os meus diários logo para que não me importunem, acho os diários de classe de uma inutilidade ímpar. Eles só servem para assassinar árvores e dar dor-de-cabeça para os professores. Ninguém utiliza aquelas porcarias para nada útil; eles são apenas marcas de uma burocracia que só serve para “provar” trabalho gastando papel.
_____Como de costume, mesmo com as cobranças da coordenadora, grande parte dos professores não fez a menor questão de colocar os diários em dia. Certa manhã, então, ao entrar na sala dos professores, vi um teatrinho que eu já presenciei em várias versões, nas mais variadas escolas: a coordenadora estava meio descabelada, com um leve tom de desespero na voz contando que a Supervisora de Ensino havia passado na escola e pegado alguns diários não preenchidos. “A Supervisora saiu daqui fula! Ela bronqueou comigo e disse que volta na sexta para ver se eu arrumei esta confusão.”.
_____Receosos, naquela semana, os professores ficaram mais tempo no colégio colocando os diários em dia. Desde então, não se ouviu mais falar da Supervisora.
_____Vou contar um segredo para os professores que lêem este blog: supervisoras de ensino não existem. Elas são parte do folclore pedagógico e servem para assustar os professores. Sério. Elas são como o Bicho-papão, o Homem do Saco, o Lobo Mau ou qualquer uma dessas criaturas devaneadas que as mães inventam para fazer com que as crianças se comportem.
_____“Se você sair na rua, Mariazinha, o Homem do Saco vai pegar você, colocar em um saco cheio de crianças desobedientes e você nunca mais vai voltar.”. “O Bicho-papão come as crianças que não vão dormir antes das 21 horas, Joãozinho.”. “A Supervisora de Ensino pegou bem o seu diário de classe, professora Helena, e disse que vai voltar na sexta-feira para ver se você preencheu o que faltava.”.
_____Vocês acham que, do modo como as escolas estão, existe alguém realmente supervisionando? Isso é uma lenda. Uma lenda surgida para que as escolas consigam manter todas as suas inutilidades burrocráticas em destaque e os problemas reais (como professores mal preparados) sejam varridos para debaixo dos papéis.