_____Tenho acompanhado, com muito interesse, a divertida 2ª edição da Copa de Literatura Brasileira. Para quem não sabe, o objetivo da Copa é escolher, por enfrentamento direto entre as obras, qual o melhor romance brasileiro lançado no ano passado. Em um tipo de mata-mata, jurados previamente escolhidos “apitam uma partida” entre duas obras e decidem qual passará para a próxima fase do torneio.
_____Na última partida – em que Alex Castro foi o juiz da disputa entre O filho eterno, de Cristovão Tezza, e Rakushisha, de Adriana Lisboa –, fiquei impressionado com o tom exaltado dos comentários que alguns leitores fizeram sobre o “jogo”. Como achei a disputa muito bem apitada, resolvi escrever este pequeno texto para apontar alguns elementos importantes em uma boa análise. Meu objetivo não é, nem de longe, defender o Alex (que é bem grandinho e não precisa de ninguém para defendê-lo), mas, sim, mostrar para os comentaristas agressivos o que é uma boa análise para que eles não dêem mais escândalo sem razão. Meu objetivo não é ajudar o resenhista, mas, sim, ajudar os leitores.
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_____Para que este texto faça sentido, leiam, antes de continuar a leitura, o texto do Alex.
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_____A maior parte dos comentaristas agressivos simplesmente leu o que quis, não o que o Alex escreveu. Por exemplo, Dina Zagreb disse: “é um equívoco esperar que um personagem cresça ou conclua alguma coisa, como queria Alex Castro, para quem a literatura em que ‘nada acontece’ precisa de ‘poderosas viagens internas que lhes causam toda sorte de revelações até que, ao final, literalmente não são mais as mesmas’. Que medo!”.
_____Apesar de Dina ter usado parte de uma frase escrita pelo Alex, ela acabou esquartejando a frase verdadeira e usando-o de maneira errada, maliciosa. O que o Alex realmente disse foi que, em geral, nos romances em que nada acontece, há um caminho de aprendizado e mudança. Ele não disse, em momento algum, que isso é uma necessidade na “literatura em que nada acontece”; ele citou um bom exemplo de “literatura em que nada acontece”, o Água viva, da Clarice Lispector, mas não disse, em momento algum, que esse é o Único e Verdadeiro caminho para essa literatura.
_____Outro ataque desmedido foi de um comentarista que colocou no espaço destinado ao seu nome um singelo “Prefiro Não Dizer”. O anônimo comentou que acha “Triste [um] país onde os melhores leitores lêem O Filho Eterno como um livro sobre Síndrome de Down.”. Minha vontade é dizer, simplesmente, “Triste um país que tem comentaristas que reclamam de como um livro foi lido sem ler direito a análise feita.”. Mas, como me propus a refletir sobre os comentários, vou ser mais educado do que isso.
_____Literalmente, as palavras do Alex foram: “A princípio, confesso, O filho eterno, de Cristovão Tezza, não me apeteceu. Não conheço ninguém com síndrome de Down e o assunto não me interessa.” (grifos meus). Ele não falou que o livro é, meramente, sobre Síndrome de Down, disse, na verdade, que achou que era antes de começar a ler a obra. Diga-se de passagem, o Alex, inclusive, acabou por separar alguns dos principais temas presentes no livro (algo bem mais importante em uma crítica do que um mero resumo): “[O Filho Eterno] É daqueles livros gigantescos e gigantescos que, tomando qualquer tema como mote, seja a caça a uma baleia branca ou a destruição de um arraial no interior da Bahia, rapidamente alçam vôo e abarcam o bem, o mal, a condição humana, a inteligência, a autoria, a paternidade, a masculinidade e tudo o mais.”. Caso o comentarista que preferiu não se identificar tivesse lido mais do que, apenas, o primeiro parágrafo, talvez o comentário feito fosse um pouco mais sensato.
_____Por fim, de todos os ataques pesados, o que merece maior atenção é o do Pedro, que acusou o Alex e outros juízes da Copa (que não entrarão nestas minhas reflexões) de estarem muito preocupados consigo mesmos. Apesar de ter me feito dar risada dizendo que esse “estar preocupado consigo mesmo” ao comentar livros é como se “a MariMoon partisse para a crítica literária.”, o Pedro, na verdade, acabou enxergando os trechos pessoais de uma maneira muito preconceituosa, o que, no fim das contas, prejudicou sua análise.
_____Relatar acontecimentos pessoais, principalmente se estiverem ligados às impressões que o resenhista teve ao ler a obra, não desqualificam, a priori, a resenha. Humanizar uma crítica não é necessariamente ruim. Se as pessoas não encararem com preconceitos, casos pessoais podem, sim, enriquecer uma crítica, pois podem tornar as idéias expressas pelo autor mais claras, podem tornar o texto mais palatável, mais divertido, mais fortemente argumentado. Ou alguém acha que boas são as resenhas regadas de um academicismo sério, carrancudo e semi-ilegível? Se alguém aqui acha, creio que a Copa de Literatura Brasileira não é bem o seu lugar.