27 de fevereiro de 2009

O Museu Paulista (Parte 1)


_____A História de São Paulo fede. Por muito tempo, a região que hoje engloba o estado foi completamente irrelevante tanto para Portugal, como para a colônia em si. A cidade, então, foi, por séculos, um lugar paupérrimo, antro de bandidos e homens que eram obrigados a abandonar suas famílias para ganhar seu sustento em locais distantes fazendo, muitas vezes, atividades pouco louváveis (caçando escravos foragidos, destruindo quilombos, escravizando índios). Não foi à toa que Sampa foi um dos campeões na utilização de indígenas como escravos no Brasil Colônia até meados do século XVIII.


_____Quando deixou de ser irrelevante, São Paulo foi, para dizer o mínimo, escroto. Graças aos ganhos advindos do café desde o século XIX, o estado presenteou o país com os famosos “Governos do Café com Leite”, que praticamente definiram as bases da corrupção e do clientelismo na República brasileira.


_____Os ricos Barões do Café paulistanos, no entanto, utilizaram seus recursos para redimir a História do estado e transformar Sampa em um local teoricamente essencial para o Brasil. Historiadores e mais historiadores tiveram que fazer um esforço hercúleo para transformar a nossa visão do passado.  Hoje, parece que tudo o que o país teve de bom, o que houve e o que há de melhor, são dívidas que os brasileiros têm com a região Sudeste e, mais precisamente, com São Paulo. O exemplo máximo de tudo isso é o famoso Museu do Ipiranga.




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Próxima parte: Análise do acervo.


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P.S.: Domingo, às 11h, irei encontrar alguns amigos na porta do Museu do Ipiranga (Parque da Independência, s/n.º – Ipiranga) para fazer um pequeno passeio. Meus leitores que estiverem em Sampa, como de costume, estão convidados. Para mais informações, é só entrar em contato.
P.P.S.: Publicarei o restante deste texto após o passeio. Quem aparecer, verá, ao vivo, uma prévia mais bem ilustrada.

24 de fevereiro de 2009

Steven #0



_____Já ouviram falar em Doug Allen? E no Steven, sua mais famosa personagem? Ainda não?
_____Pois bem, aguardem que, a partir de março, os frequentadores deste blog terão o privilégio de conhecê-los muito bem. Espero que vocês apreciem.

22 de fevereiro de 2009

Que pressa!

_____O Carnaval mal começou e eu já encontro ofertas de ovos de Páscoa no supermercado?



_____Aposto que, na Quarta-feira de Cinzas, vão começar a arrumar as prateleiras para o Dia das Crianças.

20 de fevereiro de 2009

Igual-desigual

_____Em um exercício de comparação, tudo fica muito mais fácil quando os focos comparados são bem diferentes. Tentar comparar fanáticos por futebol, por exemplo, é um desafio considerável. Excetuando o uniforme dos times, ao olhar atentamente alguns torcedores, percebe-se que todos os espécimes são enfadonhamente iguais. Agem de forma muito parecida, usam os mesmos argumentos irracionais, demonstram, em público, uma bobeira típica e assim por diante. Ainda bem que existem comparações mais simples de se fazer.
_____Nesta semana tive a chance de comparar, com muita facilidade, um casal de atores no mesmo palco: Isabella Lemos e Marcelo Pacífico. A comparação foi tranquila porque Isabella foi extremamente mais talentosa do que o rapaz.
_____Tendo como base os diálogos e rusgas de um casal, a peça Mão na Luva, de Oduvaldo Vianna Filho (o Vianinha), pode ser montada, como no caso, com pouquíssimos recursos. Tanto que, praticamente, apenas os dois atores seguram a peça por quase uma hora e meia.
_____Sem nenhuma distração por perto além dos atores, não era possível esconder como Isabella Lemos conseguia levar melhor a sua personagem. As mudanças de voz e de feições eram claras entre as situações do passado feliz e do presente conflituoso. Marcelo Pacífico, entretanto, continuava praticamente com o mesmo jeito bruto e espalhafatoso não importando a situação. Só mesmo com a sua sonoplastia de metais é que ele parecia fugir um pouco da sua interpretação mais pobre.
_____Talvez Marcelo estivesse em uma noite ruim. Se, no entanto, em todas as apresentações ele fica tão apagado assim perto de Isabella, acho melhor arrumar uma peça com mais atores na próxima vez ou se acostumar com esse tipo de comparação. A diferença é grande demais para não ser notada.

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P.S.: Vale ressaltar que essa montagem está retomando uma antiga tradição há muito esquecida nos palcos: apresentações em quase todos os dias da semana. Durante o carnaval, o casal irá se apresentar todos os dias. Que quebrem a perna (principalmente o Marcelo).


19 de fevereiro de 2009

Seleção natural coreana

_____Trabalho em uma escola no bairro do Bom Retiro. No caminho da escola até o metrô, um oriental que eu conheço da academia de dança me encontrou. Alegremente, ele veio em minha direção.
_____– Olá!
_____– Oi! – respondi. Esses cumprimentos informais praticamente provam que um não sabia o nome do outro. Mesmo assim, em nome da boa conduta, a conversa continuou.
_____– O que você está fazendo por aqui?
_____– Trabalho aqui perto, naquele colégio. – falei, apontando. – E você?
_____– Eu também trabalho aqui.
_____Naturalmente eu esperava que ele me dissesse em que ele trabalhava ou, pelo menos, onde. Como a conversa não parecia seguir, perguntei:
_____– Em quê?
_____Com a maior cara de espanto, ele me respondeu:
_____– Oras, sou coreano. É claro que trabalho em uma confecção.
_____A conversa terminou pouco depois. No caminho para casa, porém, não consegui deixar de pensar no fim do diálogo. Está certo que perto do metrô Tiradentes as confecções de coreanos são mais comuns do que canções em desenhos da Disney, mas, mesmo assim, dizer “Oras, sou coreano. É claro que trabalho em uma confecção.” é um pouco demais. Ou será que trabalhar em confecções é uma característica genética dos coreanos? Acredito que Darwin, se soubesse disso, teria colocado no capítulo IV dA Origem das Espécies que apenas os coreanos que conseguiram se adaptar a trabalhar com tecidos e a não questionar o governo é que sobreviveram.
_____Tá certo que, se esse negócio de característica genética para certas atividades realmente for correto, eu estou precisando muito arrumar mais amigas francesas.

15 de fevereiro de 2009

Tudo o que não invento é falso.

_____“[O] cu de uma formiga é mais importante para o poeta do que uma Usina Nuclear.”.


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_____Encontrei a divertida frase acima (e a do título) no livro Memórias Inventadas – A Segunda Infância, de Manoel de Barros. O livro é a “continuação” do primeiro Memórias Inventadas, cujo subtítulo é “A Infância”.
_____Quem não conhece, deveria aproveitar a dica. Além da leitura gostosa da prosa poética do escritor, o livro tem um formato bastante inusitado: as páginas vêm soltas, levemente amarradas por um lacinho, dentro de uma caixa. Como já li o primeiro livro, posso afirmar que, pelo menos nele, a brincadeira das páginas soltas não é apenas um efeito estético, mas, sim, um complemento ao que é falado no texto – só que é necessário lê-lo com muita atenção para desvendar o mistério.
_____Eu só fico muito curioso para saber quem foi o coitado que fez o lacinho de cada um dos exemplares.


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P.S.: Quando fui procurar referências sobre os livros antes de publicar esta postagem, descobri que, o Manoel de Barros anda dando uma de cineasta com mania de trilogia. Ele acabou de lançar o Memórias Inventadas – A Terceira Infância. Nunca vi o livro ao vivo. Só sei que tenho dó do produtor gráfico dele.
P.P.S.: Se algum dia eu resolver fazer algo do tipo, sei muito bem qual o produtor gráfico que eu planejo sacanear.

14 de fevereiro de 2009

Cena inédita do filme Watchmen

Atenção: Este texto contem spoilers.


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_____Quem já leu Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons, sabe que, por mais interessante que a HQ seja, ela não é famosa pelas suas cenas de sexo. Tais cenas existem, mas são razoavelmente pudicas; perdem, de longe, para as cenas de violência.
_____Talvez um dos momentos mais picantes esteja no terceiro volume, quando Jon Osterman, o Dr. Manhattan, tenta excitar Laurie com um ménage à trois (com ele mesmo). Confiram abaixo:




_____A sequência do filme que vazou na internet também foi bem uma cena com múltiplos Doutores Manhattan. Não é a mesma dos quadrinhos acima, não tem nada de sexual, mas ficou bem interessante de ver.


httpv://www.youtube.com/watch?v=0s7xKv6ObqQ


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_____Eu estava querendo contar essa piada fazia meses. Espero que vocês tenham dado risada.
_____De qualquer modo, não há tanto o que reclamar. Assistir o pessoal do Blue Man Group sempre vale a pena, não?

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P.S.: Para quem ficou com vontade de ver umas cenas do filme, o meu trailer preferido é este aqui.

12 de fevereiro de 2009

Concurso público especial

_____Eu não acredito que duendes existam. Porém, se algum dia eu cruzar com um, podem apostar que tirarei uma foto.


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_____Olhem só que inusitado. Eu estava entrando no metrô quando vi um cartaz anunciando um concurso público de algo que eu, como professor, nem sabia que existia: um Agente de Organização Escolar. Tive de tirar uma foto.



_____Sério. Nunca vi tal agente em nenhuma escola em que entrei em toda a minha vida. Tanto que, quando cheguei em casa, fui conferir no site. Achei o máximo. Sabiam que, para a semana que vem, vão abrir inscrições para concursos públicos de Fadas Madrinhas, Coelhos da Páscoa, Elfos e Namorados que Prestam? Bacana, né? O de Papai Noel só abre em novembro.


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P.S.: Deem, também, uma lida no texto "A Supervisora de Ensino e o Bicho-papão" - um dos clássicos sobre Educação deste blog.

10 de fevereiro de 2009

Comparação injusta

_____Depois de passar o dia todo correndo para cima e para baixo, eu estava sentado à porta de uma sala da academia de dança, uns 10 minutos antes do início da aula. Aproveitei a pequena pausa para tirar uma insípida barrinha de cereal da mala (única refeição em horas).
_____Mal abro o saquinho, chega uma amiga minha. Educadamente, ofereço.
_____– Não, obrigado. Acabei de comer um pedaço enorme de um chocotone da Cacau Show que tem lá em casa.
_____Não contente em esfregar isso na cara de alguém que está comendo uma barrinha de cereal, ela continuou: "Você sabe como é esse chocotone?". Sem esperar que eu falasse nada, ela começou a tortura descrição. Dizia quanto chocolate tinha, como era a cobertura, que a massa era muito macia, que derretia na boca, o quanto ela ficou lambuzada comendo e assim por diante.
_____Aquela pequena barrinha, que já não tinha gosto de nada, ficou pior. Acabei entrando para a aula com mais fome ainda. Estou em dúvida se minha amiga gosta mesmo de mim.

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P.S.: Esta crônica não foi patrocinada pela Cacau Show, mas se eles quiserem mandar algum chocotone ou outro docinho qualquer para me agradar, eu aceito com prazer.
P.P.S.: Se alguma marca de barrinha de cereal quiser me enviar algumas caixas, também agradeço. Não vou gostar tanto quanto do chocotone, mas prometo que paro de fazer careta enquanto estiver comendo em público.

7 de fevereiro de 2009

Vestibular: Lista dos aprovados

_____Segue, abaixo, minha livre adaptação à realidade do cartum publicado no dia 5 pelo divertido Caco Galhardo:



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P.S.: Para quem se interessa pelo assunto, vale citar, como complemento, este texto que eu escrevi utilizando uns vídeos dos Barbixas.

5 de fevereiro de 2009

Dublagem preguiçosa

_____Fui ao cinema assistir Um faz de conta que acontece (Bedtime Stories), de Adam Shankman. Nenhuma surpresa para quem já tinha visto o trailer: uma comédia para o público infantil, com as macaquices clássicas do Adam Sandler. No entanto, como grassa a idéia de que só crianças vêem esse tipo de filme e que nenhuma delas é capaz de ler, todas (todas!) as cópias da cidade são dubladas.
_____Sem escolha, vi uma cópia dublada. Não que isso tenha sido o fim do mundo, mas fiquei incomodado com a preguiça dos dubladores. Dêem uma olhada no trailer:

httpv://www.youtube.com/watch?v=jDBWRa9Ouss



_____Do trailer para a cópia oficial dos cinemas aconteceram algumas melhoras. O nome do Porquinho da Índia, por exemplo, passou de Bugsy para Zoiudo. Foi uma forma de trazer realmente graça para a piada em território nacional; puro trabalho de tradutor. E, vale dizer, a dublagem de todo não é ruim, só a chamei de preguiçosa por causa de um trecho específico.
_____Em um momento do filme Adam Sandler, após ser “amaldiçoado” pelo seu sobrinho com uma bola de fogo, liga o rádio e só consegue ouvir músicas que têm a palavra fogo na letra (1’13” do trailer acima). A brincadeira não é nova, já foi utilizada em diversos filmes. Que eu me lembre, o mais recente foi o A Família da Noiva (Guess Who), de Kevin Rodney Sullivan (confiram no trailer).
_____Na versão que está nos cinemas, entretanto, resolveram dublar até essa piada. Só que, para terem menos trabalho, ao invés de procurarem referências musicais em português e encaixá-las, simplesmente colocaram frases que falam de fogo no trecho. Funciona, ainda é engraçado, mas poderia ser melhor. E olhem que nem seria um desafio tão grande assim. Ou ninguém aí consegue lembrar, agora, de cabeça, pelo menos umas duas ou três músicas que falam de fogo?

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P.S.: Para quem gostou do Zoiudo, aproveito para indicar o Porquinhos da Índia Falantes, o blog em que o Mad Max Andrade traduz os divertidos quadrinhos homônimos de Jeff Mumm.

2 de fevereiro de 2009

Irreprimível



_____Existem momentos em que acho que meus amigos devem passar um pouco de vergonha por serem reconhecidos como tal. Mesmo sendo muito tímido, estranho, antissocial, avoado, blogueiro, chato e um bocadinho prepotente, consigo, durante a maior parte do tempo, disfarçar e parecer um marciano humano normal. O problema é que, em diversas situações, de maneira completamente espontânea e irreprimível, tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas. Para citar um exemplo simples, saibam que quando leio não me controlo nem um pouco.
_____Por certas obras, já me debulhei em lágrimas em praças, bibliotecas, filas, na varanda de um Starbuck’s de Nova Orleans. Chegaram, mais de uma vez, a interromper minha leitura para perguntar se eu precisava de alguma ajuda. Além do choro, também fico abobalhado, catatônico, olhando para um ponto específico no vazio, pensando, quando acabo de ler algo interessante. Ou, campeão dos olhares de esguelha dos passantes, caio, ruidosamente, na gargalhada.
_____Comecei a ler a comédia Lisístrata – a greve do sexo, de Aristófanes. Eu, que já adoro o teatro grego, estou impressionado: o texto é ótimo e mais engraçado do que eu pensava. Ontem, no metrô, eu ria tanto que um cara tatuado que sentou do meu lado quase me bateu achando que eu ria dele.
_____Para não ficar só no campo da leitura, vale contar que fui à Estação Pinacoteca para ver as novas obras de Marcello Nitsche. Sua série Explosões (fotos acima e abaixo) é fantástica. Telas-esculturas com a forma das explosões, imagens escondidas no fogo e na fumaça, reflexões urgentes para o momento.*
_____Não foi à toa que passei muito tempo, sentado, olhando cada um dos trabalhos. Tanto tempo parado, sem mover mais nada além dos olhos, acabou me valendo um segurança vindo perguntar se havia algo errado comigo. Achar estranho alguém rindo com um livro, eu quase entendo. Entretanto, eu pensei que alguém parado, olhando as obras de uma exposição era algo normal. Como sou ingênuo.

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_____Já que eu comentei sobre o trabalho do Nitsche e sobre a peça do Aristófanes, como complemento, creio que a imagem abaixo e um trecho do diálogo entre Lisístrata e o Comissário pode muito bem servir como base para se pensar sobre os últimos acontecimentos do mundo.





Comissário – Primeiro eu lhes pergunto: por que resolveram trancar as portas da Acrópole?
Lisístrata – Para dominar o tesouro. Onde está o tesouro está o poder. Sem dinheiro, não há guerra. Compreende-se que queremos a paz?
Comissário – Com que, então, o dinheiro é a causa da guerra?
LisístrataE, usado na guerra, falta na paz. Por isso a guerra é opulenta e a paz é miserável. Pisandro, o oligarca, vive pregando mil rebeliões, e a cada uma aparece mais rico e mais potente. Pois resolvemos acabar com isso. Nem mais uma dracma do povo será gasta na guerra.
(p.51-2, grifos meus)


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P.S.: Quem quiser aproveitar, as obras de Marcello Nitsche (inclusive seu clássico Buum!) ficarão na Estação Pinacoteca até o dia 22 deste mês.



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* Eu sei que a idéia inicial do artista não era trabalhar, especificamente, o que está acontecendo agora e, sim, o episódio do 11 de setembro de 2001. Mesmo assim, um dos temas do trabalho é a violência e, portanto, as obras podem ser usadas muito bem para falar sobre o que está acontecendo no mundo hoje.