29 de agosto de 2009

26 de agosto de 2009

Enigma literário

_____Ser historiador é interessantíssimo. Por mais que se saiba de alguma parte do passado, sempre existe um detalhe que escapa, alguma interpretação que pode trazer novos vieses. A qualquer momento podem descobrir um novo documento histórico e tudo o que se sabia sobre algo mudar. É como o trabalho de um detetive, sem a desvantagem iminente de se levar uns tiros.
_____Entra aí, também, o meu gosto por desvendar enigmas. Sempre me divirto descobrindo de tudo, mesmo as coisinhas mais bobas. Adoro formular hipóteses sobre qual das personagens vai morrer no início de um filme, fico interessadíssimo com explicações sobre poemas e – de Sherlock Holmes a Guilherme de Baskerville, de House a CSI – babo por boas histórias com mistérios a serem desvendados.

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_____Aproveitei uma horinha livre no trabalho e fui, completamente despreparado, para a Casa das Rosas. Para minha sorte, uma surpresa bastante agradável me esperava por lá: Jun Yokoyama está exibindo alguns trabalhos na exposição Imagine – GraphiGrama e Flash Stories. Até então, se minha memória não me trai, nunca havia ouvido falar do artista. Mesmo assim, como a exposição estava na Casa das Rosas, também conhecida como Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, entrei com a esperança de encontrar algo do meu interesse.



_____Assim que pisei na primeira sala, dei de cara com a imagem de umas chamas com algumas letras um pouco acima. Entre as letras, as seis primeiras unidas eram minhas velhas conhecidas: “GOETHE”, o nome do autor dOs sofrimentos do jovem Werther e de Fausto. Pouco abaixo da figura, um rascunho de explicação, um pequeno esquema utilizado por Jun para produzir a obra.




_____Parando um pouco para pensar, seria fácil ligar o nome de Goethe e do fogo com a história de Fausto fazendo um pacto com o Demônio. Com algum esforço, talvez eu até conseguisse tirar um ou outro detalhe extra de lá. O fato é que aquela guisa de explicação abaixo da obra havia tirado todo o enigma da minha mão.
_____Como o resto da exposição trabalhava com o mesmo esquema, caminhei com mais cuidado. De cada obra que me aproximei, fiz questão de só olhar primeiro apenas para a figura. Tentava descobrir a qual autor Jun se referia. Se descobria ou se a resposta era evidente, tentava descobrir porque o artista havia montado a imagem daquela forma. Só então eu olhava a explicação e ficava sabendo se algo me havia escapado. Meu pequeno mistério literário. No fim das contas, eu me diverti tanto que quase perdi o horário.

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_____Os leitores paulistanos que gostaram da brincadeira têm até o dia 28 para ir resolver os enigmas literários na Casa das Rosas. Quem não é de Sampa pode se divertir no site do artista.
_____Como amostra grátis, deixo abaixo mais um dos trabalhos de Jun. Não é difícil para quem gosta de Literatura. Olhem e pensem.



_____Uma graça, não?
_____Para quem não conseguiu, dá para ver o rascunho da resposta aqui. Como extra, deixo para os detetives menos talentosos o conselho para que passem, também, por aqui.

24 de agosto de 2009

Como escrever um romance de sucesso

_____Estou lendo O Amante de Lady Chatterley, de D. H. Lawrence. O começo do romance, tal qual o título, é bem chamativo. Logo na primeira página, o leitor é jogado no interessante turbilhão que assola a personagem principal:




_____“[Constance] Casara-se com Clifford Chatterley em 1917, durante uma licença por ele passada em Londres. A lua-de-mel durou um mês. Terminada que foi, partiu o moço para o front, em Flandres, donde regressaria seis meses depois, aos pedaços. Constance tinha então 23 anos e ele 29.
_____“A tenacidade da vida em Clifford revelou-se maravilhosa. Não morreu. A cirurgia soldou seus pedaços numa operação de dois anos. Dada alta, pôde retornar à vida, com metade do corpo, da cintura para baixo, paralisada para sempre.”


_____Ando perto da metade e o livro, até agora, não engrenou como eu havia imaginado no começo. Mesmo assim, acho bom eu não reclamar. Na última página que eu li, o narrador onisciente diz que é “Por isso é que essa bisbilhotice é vergonhosa, e a maioria dos romances, sobretudo os de sucesso, são uma vergonha: o público gosta somente do que lhe lisonjeia os vícios.”.
_____Talvez Constance Chatterley esteja comportada demais até o momento para o gosto dos meus vícios.

21 de agosto de 2009

Ulisses, o bom amante

_____Dia desses, encontrei no MSN uma antiga amante que eu não via há um bom tempo. Ela exibia no perfil apenas uma foto dos seus pés. Elogiei-os e ela disse: “mas vc gosta de pé?”.
Eu: Não sou fissurado... mas, gosto... como da maior parte do corpo feminino.
Eu: Vc sabe... fissurado eu sou por barrigas...
Ela: hahahaaha eu lembro
Eu: rs...
Eu: E vc? Por o q?
Ela: ã??
Eu: Vc é fissurada por algo q eu não saiba?
Ela: eu?
Ela: hahhahahaha
Ela: não, depende da pessoa
Eu: Cada pessoa com quem eu já tive alguma coisa me fascinou com uma parte diferente do corpo (eu babava pelas suas pernas)... mas, a barriga é uma constante...
Ela: com vc...era o papo, o humor...
Ela: e as suas habilidades de dançarino...

_____Puro e ingênuo que sou, disse: “Ué, mas nós nunca dançamos nada.”.
Ela: digamos que...dançamos...de outra maneira
_____Por algum motivo o meu ego achou que seria bastante válido publicar o papo aqui no blog.

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P.S.: Para quem gosta da brincadeira, tenho outra interessante conversa de MSN publicada aqui.

19 de agosto de 2009

A obrigação de se cumprir horário e a mentalidade não-acadêmica de algumas instituições de ensino

_____A maior parte dos colégios aqui de Sampa voltaram das férias de meio de ano nesta semana. O atraso no calendário escolar foi causado pelo medo (inclusive governamental) da gripe suína. Umas escolas adiaram as aulas, avisaram a todos os frequentadores e as férias foram prolongadas (com planos de reposição anunciados). Outros, entretanto, dispensaram os alunos durante esse pequeno alongar de recesso e colocaram em prática um costume execrável comum em certas empresas: obrigaram os funcionários a cumprir horário.
_____Os alunos não tinham de ir à escola, mesmo assim os professores deveriam estar na escola nos horários em que normalmente lecionariam. Em outras palavras, já que o patrão tem de pagar por àquelas horas, ele quer que os funcionários apareçam, mesmo que seja para esperar o Godot.
_____Para justificar a ida dos professores, para impedir que eles ficassem por lá conversando, jogando pôquer ou organizando um swing, o empresário patrão de uma das escolas em que trabalho proibiu qualquer atividade estranha ao colégio – incluindo pesquisar, ler e debater. Os funcionários tiveram, simplesmente, de ficar revisando o material didático da instituição.
_____Tudo bem, eu entendo que, com isso, a escola fica com um material um pouco melhor. Eu só não entendo porque é necessário obrigar os professores a cumprir o horário dentro da escola. Os lentes são adultos e, mais do que isso, são acadêmicos. Pesquisar, mesmo que fora de quaisquer muros, faz parte do trabalho deles. O material poderia ter sido bem melhor corrigido se, tal qual uma pesquisa para um artigo ou para uma aula, os professores o levassem para um local em que ficassem à vontade. Pura falta de visão acadêmica.
_____É horrível ver escolas com uma exagerada mentalidade de empresa. Conhecimento não precisa bater cartão antes de começar a trabalhar.

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P.S.: É válido acrescentar que episódios parecidos já aconteceram em diversas instituições de ensino em que trabalhei. Pensar a Educação apenas como um negócio parece cada vez mais comum.

16 de agosto de 2009

Falta de assunto?

_____Sempre fico perplexo com crônicas de escritores que dizem não saber o que escrever. "Não tenho assunto. Não sei o que dizer. Como vou concluir este texto assim? Olha só, pelo menos a primeira linha já se foi. Blá, blá, blá. Flap, flap, flap.". O que acontece com essa gente? Como eles conseguem ficar sem assunto para escrever? Eles vivem dentro de um cubo? (Não este, óbvio. Este renderia bons textos para qualquer um. Espero.).




_____Nunca falta assunto para os meus textos. O que falta é tempo para escrever sobre todos. O mais interessante é que não consigo tempo para redigir porque tenho outras mil coisas para fazer e elas acabam por me render mais assuntos.
_____A dificuldade que me assola é outra. Enquanto alguns textos são redigidos rapidamente, com uma facilidade extraordinária (só demora o processo de poli-los, de relê-los por diversas vezes), outros teimam em não vingar, não importa quanto e como eu os regue. Fico igualzinho o “escritor atormentado” descrito por Italo Calvino, no recomendadíssimo Se um viajante em uma noite de inverno.
_____Mesmo assim, escrever não costuma ser um tormento. É, sem dúvida, uma delícia sem tamanho. Sempre me divirto. Deve ser porque me sobram assuntos.

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P.S.: Vale acrescentar, qualquer assunto é válido se o texto que ele render for bom, até a falta de assunto. Mas, tem de ser realmente bom. Deixo de exemplo, para mudar um pouco de área, duas ótimas tirinhas sobre falta de piadas. Uma do cartunista argentino Liniers e outra do Rafael Sica.



14 de agosto de 2009

12 de agosto de 2009

Papagaio come o milho e periquito leva a fama

_____Dia desses fui ao Museu da Língua Portuguesa dar uma olhada na exposição “O Francês no Brasil em todos os sentidos”. Foi simplesmente a cara do que costuma ser exposto por lá: vale mais pela montagem do que por qualquer outro elemento. Queira ou não, interessante.
_____Entre uma informação exposta de maneira estranha e outra, acabei encontrando, em um jogo de luz, a seguinte informação sobre a França Equinocial:



_____“No litoral maranhense os franceses constroem o forte de São Luis, cujo nome é uma homenagem ao rei Luis XIII.”? É verdade que, em 1612, Luis XIII – mesmo sendo um pirralho de pouco mais de 10 anos – era o governante da França. Já que o garoto era o rei do país, é bem provável que fizessem de tudo para louvá-lo. Mesmo assim, ele nunca foi chamado de São Luis!
_____Tá certo, eu não sou ingênuo. Eu sei que a Avenida Salim Farah Maluf, o Complexo Viário Maria Maluf, a Praça Oscar Jorge Maluf e outros mil exemplos não têm esses nomes à toa. É óbvio que, quando governou Sampa, o porco do Sr. Paulo Maluf escolheu esses nomes para propagar o próprio nome, para fazer propaganda de si próprio. Só que, queira ou não, a Avenida Salim Farah Maluf é uma homenagem ao pai de Paulo Maluf e ponto.
_____O forte de São Luis pode até ter sido nomeado assim para dar uma puxada no saco do rei da época, mas é também, sem dúvida, uma homenagem a Luis IX – vulgarmente conhecido como São Luis.
_____Convenhamos, é uma sacanagem histórica. São Luis participou de duas cruzadas, patrocinou artistas e teve uma história tão grande de justiça e fervor religioso que até virou santo. Vão querer que apenas o Luis XIII leve a fama? Gente maldosa.

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P.S.: Para quem tiver fôlego, existe uma pesquisa sobre o santo, feita pelo historiador francês Jacques Le Goff, chamada São Luis – Biografia. Se não me engano, o Luis XIII nem é citado. ;-)

9 de agosto de 2009

Matemática cruel

_____É difícil não ficar morrendo de dó dos atores quando o número de pessoas no palco é maior do que o número de pessoas na platéia. Pior ainda fica quando a peça é boa.
_____Sábado, fui ao Viga Espaço Cênico, com a minha namorada, assistir Pedreira das Almas – texto de Jorge Andrade, dirigido por Brian Penido Ross. Que trabalho lindo. Bem montado, ensaiado e dirigido. O texto por si só já é interessante. Além dele, as interpretações estavam primorosas (do elenco principal aos coros) e a organização da peça não deixou nada a desejar.
_____É verdade que, mesmo sendo um bom teatro, o Viga tem uma sala principal que conta com apenas 74 lugares. É verdade que subiram ao palco 25 atores. É verdade que, naquele horário, o número de bobos vendo alguma novela provavelmente foi grande. Mesmo assim, não era para ter uma platéia com menos de dez pessoas (e, pelo que eu pude constatar nos comentários pós-espetáculo, mais da metade do público era de parentes de algum dos atores).
_____Uma peça com a qualidade dessa montagem de Pedreira das Almas não merece ficar vazia daquele jeito. Ela ficará em cartaz até o dia 30 deste mês, com apresentações às quartas, quintas, sextas, sábados e domingos. Recomendo enfaticamente.



Serviço:
Local: Viga Espaço Cênico.
Temporada: Até o dia 30 de agosto.
Horários: quartas e quintas, às 21h; sextas e sábados, às 21h30min; domingos, às 19h.
Ingresso: Quartas a sextas, R$ 20,00; sábados e domingos, R$ 30.

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P.S.: Aproveito a deixa para indicar outra boa peça em cartaz: Mediano, do meu querido Otávio Martins (com o fantástico Marco Antônio Pâmio e direção de Naum Alves de Souza). Vi quando estava em cartaz no Espaço Parlapatões e, ao contrário da Pedreira, estava bem cheia (ainda bem, um monólogo com mais atores do que público seria problemático). Agora está em cartaz no Teatro Folha e torço para que continue caminhando bem. Merece o sucesso que está fazendo.




Serviço:
Local: Teatro Folha.
Temporada: Até 10 de setembro.
Horário: quartas e quintas, às 21h.
Ingresso: R$ 20.

6 de agosto de 2009

Inspirem

_____Quem tem o bom gosto de acompanhar também o LLL já deve ter visto, mais de uma vez, o Alex Castro dizer que Uma das grandes questões do nosso tempo é o modo como as empregadas domésticas são tratadas. Não é à toa que, frequentemente, ele as compara com os escravos – uma das grandes questões sociais de outros tempos.
_____Concordo com o Alex, sem sombra de dúvidas. Mesmo assim, creio que também vale à pena jogar muitas fichas em outro ponto. Se hoje nós olhamos para a Idade Moderna e para o início da Idade Contemporânea abismados com o modo como os escravos eram tratados, aposto que, no futuro, as pessoas vão olhar para nós e tentar entender como conseguimos ter essa nossa absurda relação com os automóveis.
_____Hoje, sem perceber qualquer absurdo, as pessoas sacrificam tempo, espaço, saúde, bens e – pasmem – vidas aos carros. Do mesmo modo como a escravidão parecia algo completamente natural no século XVI, em pleno século XXI a vida com os automóveis parece inevitável.
_____Calçadas que facilitam a entrada de garagens e não a passagem de pessoas, semáforos que deixam quem anda esperando mais tempo do que os usuários de máquinas, postes de iluminação que iluminam as ruas (para automóveis com faróis) ao invés do local em que as pessoas (que não possuem luzes externas naturalmente embutidas) circulam, o uso abusivo de recursos naturais para alimentar máquinas. Todo esse avilte à vida humana é natural para quase todo mundo. Podem sair perguntando, vocês vão ver.

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_____Na última semana, indo para casa, cruzei com um grande relógio, em contagem regressiva, dizendo “Faltam X dias para São Paulo respirar melhor!”. Sonhador inveterado que sou, pensei no quanto seria maravilhoso se, ao término da contagem, a Terra da Garoa pudesse realmente respirar melhor. Já imaginaram que maravilha seria se alguma medida fosse tomada para que as pessoas passassem a utilizar os poluidores automóveis de maneira racional? Não seria fantástico poder respirar o ar da cidade sem esse excesso de escapamentos? Os estudantes de medicina não teriam mais pulmões enegrecidos de moradores de centros urbanos para olhar. O número de problemas respiratórios diminuiria.
_____É só um sonho, eu sei. O mais triste é saber que é um sonho com o qual quase ninguém mais acha válido sonhar. Quase todo mundo crê que a nossa vida com a poluição e outros males causados pelos carros é natural. Que só é possível viver assim. Triste.


_____O relógio? Ah... é só a contagem regressiva para o início da lei antifumo. Nada que vá fazer a Cidade realmente respirar melhor.

5 de agosto de 2009

A Ursinha do metrô

_____Como eu já disse outras vezes, encontra-se tudo que é tipo de maluco aqui em São Paulo. Faz umas semanas, por exemplo, a minha namorada tirou fotos de uma menina vestida de urso polar em plena estação Brigadeiro do metrô.



_____Além de me divertir com a foto, fiquei contente de ver que a minha namorada pensa nas maluquices que posto por aqui mesmo quando não está comigo. Só acho uma pena que ela não pensa em outros aspectos da nossa relação. Seria tão bom se ela tivesse trazido uma ursinha de pelúcia para dormir conosco na cama.

1 de agosto de 2009

Automóveis e árvores

_____Depois da temática ecológica da última postagem, encontrei, andando pela rua, uma “incrível reforma” bem interessante.



_____O artista transformou partes de objetos que causam mortes e um número imenso de males ao planeta em um simulacro de algo vivo e que faz bem para o mundo. Viva a ironia.



_____De qualquer modo, nunca é demais lembrar: