___Depois de corrigir as provas, pedi para minha namorada somar as notas. Quando ela terminou, perguntei:
___– Como foi, amor? Muitas notas vermelhas?
___– Nem tanto. – ela respondeu.
___– Mas, tiveram algumas vermelhas, né?
___– Ô!
28 de junho de 2010
Notas Vermelhas – Conto para assustar alunos
26 de junho de 2010
Masturbe-se com moderação
___Como eu tenho leitores muito bem humorados, recebi o vídeozinho que vai abaixo com os dizeres “Complemento importante ao seu texto de quinta.”. Divirtam-se.
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P.S.: Claro que este é apenas um post divertido, só para complementar o “Eu bato punheta!”, da última quinta. De qualquer modo, para evitar os chatos, fica um texto do sempre ótimo LLL: “Masturbação sem Culpa”.
24 de junho de 2010
Eu bato punheta!
___Existem certos assuntos-tabus que, mesmo sendo largamente praticados, a moralidade imbecil da nossa sociedade praticamente nos impede de falar deles livremente. Um deles, clássico, é a masturbação.
___Livre como ela pode ser, a Literatura, teoricamente, poderia falar do tema. É só colocar o ato nas mãos de uma personagem (literalmente) e pronto. Em primeira pessoa, entretanto, é mais difícil. Por sorte, alguns escritores são corajosos e fazem isso.
___Um dos meus textos preferidos, em primeira pessoa, sobre o majestoso “cinco contra um”, é o “Parrrede!”, de Manoel de Barros. Ei-lo.
Quando eu estudava no colégio, interno,
Eu fazia pecado solitário.
Um padre me pegou fazendo.
– Corrumbá, no parrrede!
Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e
decorar 50 linhas de um livro.
O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésima
de Vieira.
– Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.
O que eu lera por antes naquele colégio eram romances
de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.
Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei
embevecido.
E li o Sermão inteiro.
Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!
E fiz de montão.
– Corumbá, no parrrede!
Era a glória.
Eu ia fascinado pra parede.
Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato.
Decorei e li o livro alcandorado.
Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.
Gostar quase até do cheiro das letras.
Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.
Ficar no parrrede era uma glória.
Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.
A esse tempo também aprendi a escutar o silêncio
das paredes.
___O texto é lindo. Não só pela prosa poética de Manoel de Barros, como, também, pelo belo paralelo montado: a paixão pela Literatura surgindo quase que no mesmo momento em que ocorre o aflorar da sexualidade do Manoel de Barros estudante. Mesmo assim, não prima tanto pela coragem da confissão. Dizer “Eu me masturbava quando era moleque.”, depois de velho, é fácil.
___Por isso mesmo, fiquei impressionado com o texto “Pensamentos imundos”, de Carlos Heitor Cony, publicado na Folha desta semana. Apreciem-no abaixo.
___Não sei como nem quando inventaram ou descobriram a existência dos Anjos de Guarda. Apesar de ter sido seminarista, não me lembro de ter aprendido qualquer coisa sobre o assunto. Somente a certeza de que, cada ser humano, eu inclusive, temos um ser angelical que toma conta da gente.
___Conheço a iconografia a respeito dessas simpáticas entidades. Um menino está a beira do precipício, colhendo uma flor. Uma cobra se aproxima. O perigo é duplo: ou o menino cai no abismo, ou a cobra o ataca. Mas atrás do menino está o anjo protetor, que impedirá qualquer desgraça.
___Apesar de ateu, sou devoto do Anjo de Guarda, atribuo a ele a salvação de enrascadas em que me meti ou me meteram. Tenho secreta vergonha dele, na medida em que ele deve ter vergonhas causadas pelo meu comportamento que nunca chega a ser angelical.
___Lembro também uma imagem piedosa, muito comum na minha infância. O menino não está a beira do precipício, nem ameaçado por uma cobra.
___Pelo contrário: está pensando numa mulher, nua e provocante, e vai se entregar àquele pensamento que os catecismos chamam de 'imundo'.
___O Anjo da Guarda, ao seu lado, nada pode fazer. Recolhe as asas protetoras e enquanto o menino leva as mãos para baixo, o anjo leva as mãos para cima e cobre o rosto. Chora de vergonha pelo feio ato que o menino está praticando.
___Havia uma variante para esta cena. O menino no confessionário, dando conta do seu pecado solitário, e o padre recriminando-o: 'Você não tem vergonha de seu anjo da Guarda? Fazendo coisas feias diante dele?'
___Meu anjo da guarda, por essas e por outras, muito deve ter chorado de vergonha por minha causa. Tem sido fiel a mim muito mais do que eu a ele.
___Gosto mais do texto do Manoel de Barros, mas vejo com bons olhos o trabalho literário de Cony. O admirável, entretanto, o que me faz ter vontade de alardear o texto do Cony aos sete ventos, é o modo natural com que ele diz que não só já se masturbou, como ainda se masturba.
___Tenho sincero dó de uma sociedade que foge da masturbação, que ensina seus filhos que isso é errado, sujo, que deve ser evitado. Tenho dó de uma sociedade reprimida e que vive com menos prazer do que poderia viver. Por isso, admiro pessoas como o Cony. Por isso, escolhi sem receio o título desta postagem. E quem não gostou, espero, sinceramente, que não vá se foder.
22 de junho de 2010
Lápis de olho
___Para manter os alunos interessados, sempre tento utilizar os mais diferentes recursos. Já fiz fogo em sala de aula, amassei urucum, organizei lutas de espadas, dancei, interpretei peças, montei aulas sensoriais e assim por diante. Por vezes, infelizmente, essas atividades viram tropeços no meu cotidiano.
___Dia desses, dei uma aula sobre o Egito Antigo e, durante a explicação, falei para uma aluna pintar um dos meus olhos com lápis de olho. Por mais horrível que tenha sido (as mulheres são masoquistas!), funcionou. A classe prestou atenção, expliquei o que eu queria e pronto. A aula acabou. Fui para casa com o olho daquele jeito, almocei, tomei um banho e fui para o outro trabalho.
___Trabalhei até às 23h. No fim do dia, saída do serviço, uma amiga minha chega e pergunta:
___– Ulisses, fiquei a noite toda querendo saber: por que você está usando maquilagem? E mais, por que está usando em um olho só?
___Só então me toquei que só tomar banho, só lavar o rosto no chuveiro não havia tirado o lápis do meu olho. Passei o resto do dia parecendo o Alex DeLarge, do Laranja Mecânica.
P.S.: Falando de Alex DeLarge, sua personagem é tão emblemática que não faltam exemplos de brincadeiras com ele. Desde a clássica figura do olho, ao Bart Simpson e, até, a Hello Kitty.
P.P.S.: Para os mais consumistas, vi, no Blog de Brinquedo, uma figura de vinil do Bart. E, vale dizer, procurando por aí, existem vários outros exemplos.
19 de junho de 2010
O futebol é o criacionismo dos esportes
___Com toda essa exposição mais exagerada ainda do futebol, eu, que não gosto do esporte bretão, tenho fugido o mais que posso de qualquer menção a ele. O inteligente Daniel Lopes, entretanto, indicou-me um ótimo texto do Biajoni: “O futebol é o criacionismo dos esportes”.
___O texto já é maravilhoso, mas, em época de Copa do Mundo, fica mais imperdível ainda. Aproveitem.
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P.S.: Como o texto do Bia, claro, causou polêmica, se quiserem, vejam um pouco da continuação do debate aqui.
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Texto relacionado: "Crentes".
18 de junho de 2010
O casamento de Sheldon e Penny
___Tensão sexual é um dos truques mais manjados e divertidos de contação de histórias. Estabelece-se um conflito básico em que as personagens querem se pegar, mas algo impede a consumação do desejo. O seriado The Big Bang Theory é exemplo sem que seja necessária qualquer explicação mais aprofundada.
___Penny, a bonitinha da história, é desejada por quase todas as personagens masculinas. Entretanto, são nas tentativas de Leonard ficar com ela que a tensão sexual acaba por se configurar em sua totalidade durante a série. Provavelmente esse seria até o mote central do seriado.
___O porém é que o Dr. Sheldon Lee Cooper, a personagem interpretada por Jim Parsons, roubou a cena. Físico brilhante, cheio de manias estranhas e melhor amigo de Leonard, Sheldon é tão marcante que acaba por chamar a atenção para si em quase todas as cenas que participa.
___As características da personagem, entretanto, impedem qualquer tipo de tensão sexual. Para falar a verdade, acontece exatamente o oposto, há uma anti-tensão sexual, com Sheldon demonstrando um completo desinteresse por qualquer tipo de troca de fluídos corporais. Sendo assim, os fãs normalmente nem chegam a cogitar a possibilidade de algo entre o verdadeiro astro (Sheldon) e a musa (Penny) do seriado.
___Pelo menos era assim que eu pensava, ingenuamente, até ir ao cinema assistir Tudo pode dar certo, o novo filme de Woody Allen.
___Ao que tudo indica, o maluco do Sr. Allen resolveu montar uma história em que um brilhante físico teórico, cheio de manias, que não gosta de seres humanos e parece não ter muita chance de viver bem em sociedade, acaba ficando junto de uma bela moça. Quase tudo combina com o Sheldon, desde o desinteresse do físico por sexo, até as ofensas constantes dele à inteligência dos demais. As divergências estão apenas na idade do acadêmico e na passividade e falta de esperteza da moça.
___Claro que provavelmente a associação entre o seriado e o filme não deve ter sido proposital, mas qualquer fã da série vai se divertir procurando paralelos. Boa diversão.
14 de junho de 2010
12 de junho de 2010
Ilíada
___Ó, Gloriosa Musa. Ó, filha de Zeus e da Memória. Ó, Divina Clio. Acorde e abençoe o grande Martín Cristal.
___Clio, você que concede fama, dê toda a sua atenção a Cristal. Coroe-o, também, de louros, pois hoje os préstimos que ele forneceu à História foram, sem dúvida, dignos de um panteão.
___Deixando minha empolgação afetada de lado, acho bom explicar porque resolvi convocar uma divindade grega para elogiar Martín Cristal.
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___Desde o finalzinho de 2008, o escritor argentino Martín Cristal resolveu publicar em seu blog alguns gráficos e esquemas que ajudam a organizar as principais ações da Ilíada, de Homero.
___Sem ler o livro, não tem tanta graça. É bom ter em mente que o trabalho de Cristal é um apoio à leitura da obra. O fato é que está tudo tão bem marcado e organizadinho que não tem como não ficar com vontade de pegar a Ilíada e começar uma (re)leitura.
___Acho que já vou preparar algumas aulas sobre Grécia Antiga para o ano que vem.
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P.S.: Descobri o trabalho fabuloso de Martín Cristal graças ao blog Chapéu, Chicote e Carbono-14. Que Clio também o abençoe.
P.P.S.: Aproveitando o assunto, os mapinhas que costumam traçar o caminho que Dante percorreu na Divina Comédia também são ótimos para acompanhar a leitura. Não adentre o Inferno sem um.
10 de junho de 2010
Literatura e Quadrinhos
___Não é novidade nenhuma desenhistas resolverem ilustrar alguma obra literária. Tenho até hoje grande carinho pelas imagens de Gustave Doré, que acompanharam a minha leitura da Divina Comédia.
___Mais recentemente, tornou-se comum cartunistas produzirem quadrinhos adaptando algumas obras mais famosas. O trabalho de Robert Crumb com o “Gênesis”, por exemplo, é lendário.
___Mesmo assim, tristemente, na maior parte das vezes, as ilustrações costumam ser apenas apêndices que provavelmente não fariam falta alguma às obras. As adaptações em quadrinhos, então, dão mais dó ainda. Costumam ser resumos bastante fracos do trabalho original; quase ofendem os textos que os inspiraram.
___É por isso que fico feliz quando consigo encontrar algum bom trabalho com imagens fazendo ligações (propositais ou não) com Literatura. É o caso de uma das minhas postagens de abril, “Esperando Godot”, em que eu simplesmente escrevi o título e postei a interessante tirinha do Rafael Sica. Claro que só quem leu ou viu a peça de Beckett entendeu a brincadeira.
___Como o jogo me agrada, aproveito para repeti-lo. Só que dessa vez, com o conto “A Cartomante”, de Machado de Assis, e uma tirinha do Laerte. Portanto, já digo, se não leu o conto, leia agora – a brincadeira só vai ter graça assim.
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“A Cartomante”, de Machado de Assis
7 de junho de 2010
Orgulho LGBT
___Ontem, durante a manhã, fui assistir a um debate sobre música, no Sampa Dança (um bom congresso sobre dança de salão que aconteceu por aqui), e, logo em seguida, fui passar o resto do domingo com a minha namorada. Como ela mora na Paulista e a Parada Gay costuma deixar as estações de metrô da região excessivamente cheias, fui a pé. Desse modo, não só eu iria economizar, como, também, teria a chance de ver a passeata.
___No meio da Paulista, ouço alguém gritar "Professor! Professor!". Quando me viro, vejo um rapaz mais alto que eu, todo maquilado e sorridente.
___– Professor! Que bom ver o senhor por aqui. Lembra de mim?
___Mexendo os ombros, digo que não.
___– Sou eu, o F.... Estudei com o senhor faz alguns anos... Fui seu aluno no Colégio P....
___– Hum... lembro sim. – E, descendo os olhos para a mini blusa, saia e meia-calça que ele estava usando, completei: – Mas, eu não sabia que você era gay.
___Ele abriu novamente um sorriso enorme, abraçou-me e disse:
___– Ah, professor, mas eu sempre soube que você era.
___Não tive coragem de frustrar o garoto. Apenas sorri, conversamos mais um pouco e segui o meu caminho.
4 de junho de 2010
Obrigação de professor de dança é divertir o aluno... Not!
___Empresário, reunido com um grupo de professores de dança de salão, usa toda a sua lábia e demonstra que o importante em uma aula é divertir o aluno.
___– As pessoas vão aprender a dançar para se divertirem. Quanto mais eles se divertirem, mais alunos eles vão trazer para vocês, mais tempo eles vão pagar o curso. Obrigação de professor de dança é divertir o aluno! – conclui o pilantra com um gesto magistral.
___Os professores, hipnotizados com as promessas de riqueza feitas pelo empresário, olham boquiabertos e concordam. Só eu faço uma indisfarçável cara de nojo – o que rende um extra da pregação por alguns minutos. (Tenho de aprender a disfarçar.).
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___Obrigação de professor, meus queridos, é ensinar.* Não importa o que o infeliz ensina, a obrigação dele é ensinar aquele treco. Se o que está sendo ensinado não é importante, ele que deixe de ser um enganador e vá fazer outra coisa. Quem tem obrigação de divertir platéia é humorista e político.
___Já conheci professores muito engraçados, caras que davam aulas nas quais os alunos ficavam gargalhando o tempo todo – mas não ensinavam. Eu entendo, a tentação é muito grande. Eu mesmo vivo fazendo meus alunos rirem e dá vontade de continuar com o teatrinho infinitamente. Porém, não é o correto. Existem momentos, dias e até assuntos em que é necessário parar e usar outra abordagem. Por vezes é necessário introspecção, concentração, reflexão, participação e um monte de outros ãos que deixam as risadas de fora.
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___Quem paga por uma aula de dança, quer se divertir? Claro que quer. Mas, antes de tudo, quer aprender a dançar. A diversão é uma conseqüência que pode acontecer na aula e que vai acontecer a cada vez que a pessoa puder dançar durante a vida.
___Uma aula voltada só para a diversão do aluno, faz com que sua diversão seja fugaz, momentânea. Ele vai se divertir enquanto o professor estiver brincando, quando for ver um passo novo, mas não vai aprender a dançar. Logo, vai ficar triste a cada vez que for dançar, pois não conseguirá atingir o que almejou quando se dispôs a aprender.
___Por mais impopular que seja, é importante corrigir o aluno, colocar músicas que desafiem suas habilidades, repetir os movimentos mais difíceis. É errado trabalhar só com músicas fáceis, não passar detalhes que façam o aluno crescer ou ensinar centenas de passos sem que ele consiga usá-los de maneira minimamente correta.
___Claro que, sempre que possível, é bom fazer com que os alunos se divirtam, mas esse nunca deve ser o foco principal. O objetivo tem de ser ensinar.
___E se ensinar corretamente não der dinheiro? Bah... Se a ideia é ganhar dinheiro, não seja professor – vire empresário.
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P.S.: Obviamente, a reflexão não serve apenas para aulas de dança de salão. Só escolhi o exemplo por ter ficado abismado com a aquiescência dos professores perante as ideias do empresário. Para pensar mais um pouco, vale a pena dar uma olhada no “Ensinando os Livros Difíceis”, no LLL.
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* Sobre isso, recomendo uma boa olhada nas obras de Júlio Groppa Aquino.
1 de junho de 2010
Dois corpos que caem e a interpretação
___Vocês já conhecem o conto “Dois corpos que caem”, do João Silvério Trevisan? Se não conhecem, deveriam. É interessante e tão curtinho que, se vocês não gostarem, o tempo perdido não será tanto assim.
___Cliquem aqui e deem uma lida.
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___E, então? Gostaram?
___Interessante, né? Reflexivo, provocativo, engraçado, simples. Um trabalho legal.
___Querem ver o conto melhorar? Olhem, então, o trabalho que fez o Antônio Abujamra ao interpretá-lo para o antigo Contos da Meia-Noite da TV Cultura.
___Essa leitura corrida, desesperada, acaba dando uma ótica completamente nova para o conto. Ficou muito mais interessante do que a obra que existia na minha cabeça durante a leitura.
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P.S.: Creio que valeu ter feito o elogio, pois, realmente, o conto ficou muito mais interessante com a interpretação. Entretanto, cortar partes do conto foi um pouco bola fora. Não dá para acertar todas.