Poetisa: Você pode ler um poema novo que eu escrevi?
Cientista: Claro.
Cientista: Hum... É impressão minha ou você resolveu falar um pouco sobre sexo?
Poetisa: Você interpreta bem. Estava escondido.
Cientista: Depois de achar, torna-se um texto bem provocante... Você deveria tomar cuidado para quem o mostra.
Poetisa: Desculpa. Falei demais. Não deveria mostrá-lo para quem entende.
Poetisa: Para falar a verdade, eu tô falando demais agora. Vou calar a boca.
Cientista: Nada disso! Nada de parar de falar! Pode continuar... E, de preferência, pode explicar por que você acha que "falou demais".
Poetisa: Não sou sua professora de interpretação de texto. Eu sei que você não precisa de confirmação pras suas interpretações.
Cientista: Eu sou um cientista. Eu sempre preciso de confirmação para as minhas interpretações.
Poetisa: Teste sua hipótese, então.
29 de julho de 2010
O cientista e a poetisa
25 de julho de 2010
Falta de tato
___Reconhecer que nem todo mundo é igual, que algumas pessoas possuem necessidades que outros não possuem, é bastante importante. Mesmo assim, apenas reconhecer é um passo pequeno. Ajudar pode ser um dos passos seguintes, mas nunca ajudando automaticamente, sem parar para pensar - ou toda a boa vontade pode ir por água abaixo.
___A Pinacoteca do Estado é, atualmente, um dos melhores museus de São Paulo. Além de um excelente acervo, a instituição renova suas exposições constantemente e mantém bons trabalhos até fora dos próprios muros. Seu “Núcleo de Ação Educativa” é organizado e possuí, inclusive, um “Programa Educativo para Públicos Especiais”.
___Entretanto, só organizar um programa para pessoas com necessidades especiais não resolve tudo. Tentar se colocar no lugar do outro tem de ser a base para qualquer ação desse tipo.
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___Aproximo-me de um grupo grande e vejo a guia segurando um gravador que descrevia a obra. Alguns deficientes visuais tocavam a escultura Moema, de Rodolfo Bernardelli. Assim que o gravador parou de falar, a instrutora começou a contar a estória da índia.
___Ao terminar, ela perguntou para o grupo:
___– Viram?
___De pronto, um garoto respondeu:
___– Não.
___Para vocês visualizarem um pouco melhor a cara de sem graça que a guia fez, deem uma olhada na Fernanda Gentil, há mais ou menos um mês.
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___Tudo bem, eu concordo, qualquer um pode escorregar e cometer uma gafe. Mesmo assim, só uma falta de cuidado sem par pode justificar as fotos a seguir.
___Estão vendo a maquete aí de baixo? Perceberam a plaquetinha, com braille, para que os deficientes visuais consigam não só sentir a miniatura do prédio, como, também, saber textualmente do que se trata?
___Ótimo. Agora notem que a maquete está dentro de uma redoma de vidro e, portanto, a plaquinha com o braille está totalmente inacessível ao toque.
___Empatia pura, né?
23 de julho de 2010
Tempo valioso
___Faz umas semanas, recebi uma proposta de emprego; oferta praticamente irrecusável.
___Ligaram, marcaram horário. Assim que cheguei, fui bem atendido, elogiaram meu currículo, disseram que já conheciam – e admirávam meu trabalho –, só faltou dizerem que me achavam um gato. Tratava-se de uma instituição de ensino renomada, queriam horário fixo, dedicação exclusiva e fizeram uma proposta de salário que supera minhas pretensões de consumo.
___Para o pasmo de quem estava me propondo o emprego, recusei.
___– Como assim? É uma proposta muito boa. Está bem acima da média! Pagamos o que os bons professores merecem. Por que você não quer?
___Eu queria o salário “bem acima da média”, mas não preciso de um tão acima. Claro que, se alguém quiser abrir a carteira e fazer uma polpuda doação para a FAVDU (Fundação de Auxílio a uma Vida mais Divertida para o Ulisses), ficarei eternamente grato, porém, sinceramente, consigo viver muito bem com um quinto do que me ofereceram.
___Tergiverso. O motivo para a minha recusa, claro, não foi porque me ofereceram dinheiro demais. O problema é que queriam muito do meu tempo, não aceitavam menos.
I – O horário fixo que a instituição delimitou não me deixaria tempo para mais nada. Eu teria de abandonar meus atuais alunos e as escolas que eu adoro; não poderia manter meus outros trabalhos, que tanto amo; faltaria tempo livre até para os mais simples lazeres. Esse não é, nem de longe, meu plano de vida.
II – Com o número de turmas que a instituição gostaria que eu assumisse, não seria possível preparar cada uma das minhas aulas, como gosto de fazer. Não restaria mais tempo para pesquisar, ver filmes, ler, ir ao teatro.
___O motivo para quererem me contratar é exatamente por conhecerem meu excelente trabalho (palavras deles). Aceitar a proposta que recebi iria fazer com que eu deixasse de ser o professor que sou.
___Agradeci a oferta, mas disse que não poderia aceitá-la. Continuo um ótimo professor. E, infelizmente, carne no prato continua sendo luxo.
21 de julho de 2010
Sabendo pedir
___Voltando do trabalho. 23h45min da noite.
___Assim que viro uma esquina escura, aparece um cara muito maior do que meus reles 1,80m de altura e fala:
___– Oi, amigo. Acabei de sair da prisão. Eu sei que errei, que matar é errado, mas eu estava necessitado. Sabe, não matei por maldade, foi mesmo porque eu precisava. Agora já cumpri minha pena e não quero fazer besteira novamente. Só que eu estou sem grana para voltar para casa...
___Enquanto ele não parava de falar, eu estava semi-paralisado, rosto voltado para cima, olhos alternando entre o rosto do rapaz e seu bíceps maior que o meu crânio, minha boca aberta sem produzir qualquer som. Ele, então, completou o discurso.
___– ... só para que eu não precise mais fazer besteira, só porque não quero mais matar ninguém, será que você pode me ajudar com uns trocados?
___Alguém acha que eu não ajudei?
18 de julho de 2010
Muito sono de manhã
16 de julho de 2010
“Acidente”
___Uma pessoa que era saudável não fica feliz com um diagnóstico de diabetes, mas, se ela abusava de açúcares em sua dieta, não tem como ficar espantada e dizer que a doença é simplesmente acidental. Por outro lado, fatalidades como atropelar alguém, bater em outro carro, sair da estrada, são chamados, sem o menor pudor, de acidentes. Tendo em vista que as mortes no trânsito, segundo a Organização Mundial de Saúde, estão entre as 10 principais causas de morte no mundo, não existe justificativa para chamá-las de acidente. Elas são comuns demais para isso.
___Chamar os casos de mortos e feridos por automóveis de “acidente” é forjar um discurso para tornar essas fatalidades aceitáveis. É exatamente o mesmo recurso que os norte americanos fazem hoje ao tacharem seus inimigos de “terroristas” e suas guerras de “luta pela liberdade”. Algo horrendo torna-se aceitável pela manipulação das palavras.
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___Só para dar um exemplo simples, cito duas pequenas partes do Caso dos dez negrinhos, de Agatha Christie. Uma das personagens, Anthony Marston, em seu carro esportivo, sente-se um deus – com direito a estabelecer sua (oni)presença onde bem entende, na velocidade que lhe interessa.
___Tony Marston, chispando na direção de Mere, dizia com seus botões:
___– Incrível a quantidade de carros que se arrastam pelas estradas! (...)
___Parava para tomar alguma cois ou tocava para diante? Tinha tempo de sobra! Apenas umas cento e poucas milhas ainda que andar. Tomaria gim com ginger beer. (...)
___Ao sair do hotel, espreguiçou-se, bocejou, olhou para o céu azul e saltou no Dalmain. (...)
___Embreou e partiu roncando pela rua estreita. Alguns velhos e meninos de recados saltaram para a segurança da calçada. Esses últimos acompanharam o Dalmain com um olhar de admiração.
___Anthony Marston prosseguiu na sua marcha triunfal. (Capítulo 1, parte VII)
___Mais à frente, ao ser acusado de causar a morte de um casal:
___– Estava pensando agora... John e Lucy Combes. Deve ser um casal de garotos que ficou embaixo do meu carro, perto de Cambridge. Um azar dos diabos.
___O Juiz Wargrave observou acidamente:
___– Para eles, ou para o senhor?
___– Bem, eu estava pensando que para mim... mas o senhor tem razão, é claro, foi um grande azar para eles. Um acidente imprevisível. Saíram correndo de uma casa qualquer... Cassaram-me a licença por um ano. Uma incomodação dos diabos.
___[Ao ser questionado] (...) Anthony deu de ombros e disse:
___– Estamos na era da velocidade, não adianta querer mandar contra. As estradas inglesas são um caso perdido, é claro. Não se pode fazer uma média decente. (...) Bem, afinal de contas a culpa não foi minha. Um acidente imprevisível! (Capítulo 4, parte II)
___Para sair do campo da ficção pura, creio que vale relatar um caso pessoal:
___Faz uns meses, eu e mais três conhecidos fizemos uma pequena viagem de carro. A velocidade limite da estrada era 110 km/h e eu estava perto desse limite. Em um determinado trecho surgiu um aviso para que se diminuísse a velocidade e uma placa marcando 60 km/h. Dei seta, fui para a direita e fiquei na velocidade correta. Carros e mais carros começaram a me ultrapassar velozmente.
___– Ei, Ulisses, por que diabos você diminuiu? – perguntou um dos passageiros que estava no banco traseiro.
___– É um trecho de velocidade menor – respondi, apontando uma nova placa marcando a velocidade mais baixa.
___– Isso é bobagem. Os caras colocam essas placas só para multar quando eles querem mais grana. Isso é bobagem!
___– Você é engenheiro de trânsito?
___– Quê?
___– Quero saber se você é engenheiro de trânsito ou algo do tipo – falei, mantendo os 60km/h.
___– Não. Claro que não. Por qu...
___– E físico, você é?
___– Também não!
___Demonstrando que fui educado em um celeiro, sorri e falei:
___– Então você não entende merda nenhuma sobre o assunto! Assim como os idiotas que estão correndo aí do lado. Prefiro confiar em alguém que trabalha com isso e teoricamente diminuiu a velocidade neste trecho por alguma razão. Talvez por segurança.
___O clima dentro do carro ficou um pouco ruim. Porém, todos chegaram sãos e salvos ao destino.
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[embed width="500"]http://www.youtube.com/watch?v=HeUX6LABCEA[/embed]
Link para o vídeo.
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___Se eu tivesse ficado acima da velocidade e algo de ruim tivesse acontecido, o mundo não acabaria. Iriam dizem simplesmente que aconteceu um acidente. A verdade, no entanto, é que desrespeitar a velocidade que estava sendo estipulada poderia causar uma fatalidade e a culpa seria do motorista.
___Não escrevo tudo isso porque eu gostaria que os carros fossem destruídos; nem quero que o último motorista seja enforcado nas ferragens do último automóvel. Eu gostaria simplesmente de incitar as pessoas a tomarem muito cuidado, a não esquecerem que carros matam.
___Não criticar um imbecil que corre, tratar as tão comuns mortes causadas por carros como meros “acidentes”, não brecar em uma faixa de pedestres, só faz perdurar a calamidade que existe hoje em relação aos automóveis e que todos acham normal.
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___Faz um tempo, rolou uma campanha de conscientização – feita pelo Grupo Ikoé, da Escola de Comunicação e Artes da USP, e promovida pela Abramet – que dizia que “Nem todo acidente é um acidente.”, lembrando aos motoristas que eles têm responsabilidades em suas escolhas de beber, correr, dirigir com sono.
___Gostei da campanha, mas eu iria mais longe. Preferia ter visto algo como “Quase todo acidente não é um acidente. Tenha respeito pela Vida quando for dirigir.”.
___Seria maravilhoso se os motoristas lembrassem que eles têm de zelar pela vida de todos que estão à sua volta quando estão dirigindo. Seria fabuloso se a sociedade parasse de considerar ferimentos e mortes causadas por automóveis como algo normal e inevitável. Se isso acontecesse, quem sabe um dia seja mesmo possível chamar uma morte no trânsito de acidente.
13 de julho de 2010
The California Rolls
___Os One2Swing Jitterbugs, mais conhecidos como The California Rolls, são uma das melhores equipes de swing da atualidade. Ano passado, vale dizer, faturaram a Teams Division do US Open.
___A coreografia que lhes valeu o título vai logo abaixo. Deem uma olhada, até quem não entende de dança deve conseguir perceber a inventividade e a musicalidade, com o grupo todo interagindo às nuances da música. Entretanto, o que me deixa pessoalmente maravilhado com essa coreografia, são as diversas figuras que a equipe consegue montar – principalmente se for possível assistir bem do meio da platéia. Confiram.
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P.S.: Para quem gostou muito e/ou se interessa pelo assunto, a secção de vídeos do site do The California Rolls mostra as coreografias dos anos anteriores. É bem legal ver a evolução do grupo.
10 de julho de 2010
Dó? De quem?
___Eu: Amor, amanhã vou dar uma aula extra.
___Ela: No meio das férias?
___Eu: Sim. Vou ajudar meus alunos com umas coisinhas de Antiguidade Clássica.
___Ela: Nossa, amor. Em plenas férias escolares?
___Eu: É...
___Ela: Você não tem dó dos alunos?
___Eu: Não. Eles que pediram.
___Ela: Eles não têm dó do professor? Sacanagem fazer você trabalhar no meio das férias.
___Eu: Não. Os alunos sabem que eu me divirto com isso.
___Ela: Você não tem dó da sua namorada que poderia estar com você nesse mesmo horário?
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___Minha resposta? Relembrei ela de um pequeno relato, publicado aqui em 2009: “Sem tempo para quase nada”.
8 de julho de 2010
O homem de cabeça de papelão
P.S.: Para quem precisa mais do que um simples título, segue a explicação, aqui, e o conto do João do Rio, aqui.
P.P.S.: Para fãs do cronista, diga-se de passagem, recomendo enfaticamente a seleção atípica de textos feita por Nelson Schapochnik no livro João do Rio, um dândi na Cafelândia.
P.P.P.S.: Aproveito para deixar meus agradecimentos ao Incubus e à Luciana pelas ótimas indicações.
6 de julho de 2010
Livrarias e sebos: passeio ou negócio?
___Se alguém tivesse me ensinado isto na minha adolescência, eu teria conseguido evitar alguns tormentos. Dei alguns tropeções, chutei algumas pedras e, hoje, minhas retinas tão fatigadas me ajudam a ceder uma pequena lição a quem quiser ler: livrarias e sebos são diferentes e nunca devem ser tratados da mesma forma.
___Acha que a diferença é que as livrarias possuem livros novos e os sebos, velhos? Lamento informar que ou o seu modo de ver é um pouco pobre, ou, simplesmente, você não gosta de ler. A diferença entre os dois locais é mais sutil e apenas um Leitor pode entendê-la. Livraria é um local de passeio, de turismo; já os sebos, são próprios para compras, negócios.
___Ambos são templos de livros e um fiel esperto sabe qual a oração que deve ser rezada em cada um. Muitas das obras que são expostas em sebos não são mais editadas, são raras ou estão lá com um preço mais acessível. Nas livrarias, os livros costumam ser mais recentes, quase tudo que está exposto conta com outras trocentas cópias na editora ou na própria livraria.
___Sebo não foi feito para se passear, deve-se ir a um para comprar. Claro que um passeio a um sebo pode ser gostoso, é óbvio que existem alguns estabelecimentos aconchegantes nos quais costuma ser bacana sentar e ficar lendo (se o leitor não sofrer de rinite). Entretanto, como eu já disse, os livros dos sebos muitas vezes são únicos.
___– Amor, você viu que aquela edição linda do Moby Dick, da Cosac Naify, pela metade do preço?
___– Nossa! Não é o Cidade Ausente, do Ricardo Piglia, que está esgotado já faz um tempão?
___– Verdade que esse foi autografado pelo Saramago?
___Livro em sebo é que nem namorada oferecendo ménage à trois: talvez aquela oferta nunca se repita, aquela chance pode ser a única. Por isso mesmo é bom ir sempre preparado. Sebo é lugar para tentar, para procurar, para garimpar, mas sempre com dinheiro para o caso de surgir algo imperdível. Ou você acaba sendo obrigado a ir correndo a uma farmácia para comprar camisinha e, quando volta, a amiga da sua namorada já foi embora.
___Em uma livraria tudo muda. Se você encontrou um livro apaixonante, se você topou com aquela obra que você p-r-e-c-i-s-a, não há problema. É possível voltar no outro dia e encontrar o livro por lá. Existem um monte de cópias do livro. Se bobear, outras livrarias também vão ter aquela mesma obra.
___Livraria é lugar que dá para ir sem dinheiro, sem nenhum stress. Local próprio para passear, fazer turismo, ficar folheando livros, sentar e ler. Se precisar de mais tempo, no dia seguinte, a obra vai estar esperando o leitor. Naquela livraria ou em outra, seja para ler, seja para comprar.
___Depois que eu me toquei disso, parei de sofrer em sebos e relaxei mais ainda em livrarias. Ainda bem que, para mim, as bibliotecas nunca deixaram de ser um seguro final feliz.
4 de julho de 2010
Elogio por excelência
___Foi de incerta feita, um professor me contava uma história de como havia reagido a uma intempérie de sala de aula. Empolgado com a narrativa, eu disse: “Nossa, adorei! Foi uma reação completamente pervertida.”. Ele fechou a cara e disse que aquilo nada tinha de sexo ou perversões. O rumo da conversa mudou e acabamos discutindo por um tempão o que é perversão.
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___Mesmo sabendo que as pessoas praticamente só usam a palavra de maneira pejorativa, gosto de usar “pervertido” como um elogio. Para falar a verdade, a palavra me parece quase um elogio por excelência.
___Perverter é perturbar a ordem das coisas; é, portanto, um ótimo caminho para trazer o novo. Quem perverte, desvirtua, inventa, muda, questiona, sai dos padrões. Sexualmente falando, então, a palavra parece ainda melhor. O pervertido é quem não fica apenas no papai-mamãe, quem faz o que realmente quer, quem sai do armário, é quem se realiza.
___Claro que é possível usar também a palavra de maneira negativa. Porém, abrir um pouquinho mais os olhos e perverter esse modo de ver me parece bem mais rico.
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___Fabiana Terra é a dona da academia de dança em que trabalho. Ela não apenas é uma das dançarinas mais talentosas do país, como, também, é uma ótima professora. Mesmo assim, raramente foge dos padrões.
___Dia desses, depois de me ver dançando do meu jeito atípico, Fabiana olhou para minha namorada e perguntou: “Seu namorado não gosta de ser normal?”. A mulher que eu amo fez a maior cara de dúvida e perguntou “Como assim?”.
___– Oras, ele sabe fazer direito. Por que ele vive fazendo desse jeito estranho?
___Minha gatinha apenas sorriu.
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___Não é um modo muito comum de se tocar bateria...
... mas, sempre parece que o Steve Moore está se divertindo – e, o mais interessante, o resultado musical também é bom.
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___Reza a lenda que, há muito tempo, um grego meio feio começou a questionar as pessoas, fazendo com que elas refletissem. Isso fez com que ele conseguisse muitos seguidores, mas também lhe valeu uma condenação à morte.
___Por que o castigaram de maneira tão severa? Simples: ensinando aqueles que o seguiam a perguntar sobre tudo, ensinando-os a questionar, Sócrates estava a “corromper a juventude”.
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___Sei que usar uma palavra da maneira menos usual provavelmente não vai me levar à morte; também sei que aprender a pensar em tudo – até nas palavras – de maneira pervertida, só faz com que o mundo torne-se um lugar mais interessante para se viver. No entanto, o mundo todo sabe que seguir os padrões, caminhar pelo já traçado, fazer o que é aceito não apresenta quase perigo nenhum e é sempre mais fácil.
___O fato é que a minha escolha é fazer como eu realmente quero. O mundo que tenha o trabalho de me olhar como um ser estranho e me mande tomar cicuta.
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P.S.: Viram como eu perverti a palavra perversão? Sem precisar de links, vídeos, belas mulheres, filósofos gregos e um elefante dermatologista, o fabuloso Guimarães Rosa fez uma brincadeira parecida. Claro, a brincadeira do Guimarães foi feita com muito mais propriedade e lirismo. Para quem não sabe do que eu estou falando, leia o conto “Famigerado” e delicie-se.
1 de julho de 2010
O melhor da Copa
___Faz meses (ou serão milênios?) que só falam da Copa do Mundo. Pode alagar o Nordeste, morrer ganhador do Nobel de Literatura ou chover nota de duzentos, o assunto não muda. Parece que os fanáticos por futebol (ou as manadas de empolgados que nem do esporte gostam) são portadores de uma fálica corneta monocórdica e não são capazes de produzir outro som que não seja “Copa”.
___Ainda bem que, pelas graças das boas Musas, existem pessoas como o Angeli, produzindo o que de melhor se falou até agora sobre o assunto. Segue abaixo duas tirinhas da série “Duas coisas que eu odeio... ... e uma que eu adoro.”.
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Atualização (2/VII/2010): Genialmente, outro cartunista, o André Dahmer, resolveu fazer um comentário sobre a reação das pessoas à Copa. Hoje de manhã, em seu Twitter, ele escreveu: “Acordei com o povo gritando o nome do meu país pelas ruas, acho que aprovaram a reforma do judiciário.”. Maravilhoso.