25 de janeiro de 2012

“Friends Lindy Exchange”, com Jamie Cameron e Carolina Leite

___Para quem gosta quando eu falo de dança, na sexta-feira agora, dia 27/I, vai rolar aqui em Sampa um workshop de lindy hop que eu dei uma mãozinha para que acontecesse.


Friends Lindy Exchange


___Jamie Cameron é britânico e só ficará em Sampa um dia, na sexta-feira. Portanto, quem quiser aprender um pouco de swing com ele, é bom aproveitar a chance. Deixo um vídeo com um improviso do rapaz para vocês se divertirem.


[embed width="550"]http://www.youtube.com/watch?v=pWP-Giax-cs[/embed]


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P.S.: Quem não está aguentando de vontade de contar a piada desde que leu o título, fique à vontade para brincar com a palavra swing e com o nome do evento nos comentários.

23 de janeiro de 2012

Impressões sobre a Manifestação em Solidariedade ao Pinheirinho ocorrida ontem na Avenida Paulista

[embed width="550"]http://www.youtube.com/watch?v=DcAqC_12yuw[/embed]


___Na manhã de ontem, desobedecendo a uma ordem judicial federal, a polícia paulista expulsou violentamente os moradores do Pinheirinho de seus lares. Eu, em meio a um domingo cheio, fui acompanhando, de maneira fragmentada, as notícias durante o passar do dia.
___Achando tudo que eu ficava sabendo sobre o caso extremamente triste, acabei me sentindo impotente; nada que eu pudesse fazer parecia ter chance de ajudar quem estava no Pinheirinho. Vi que uma manifestação em solidariedade estava sendo organizada. Cético, imaginei que não existiria a menor chance de uma passeata, organizada às pressas no mesmo dia, vingar. Mesmo assim, no fim da tarde, uma hora e meia depois do horário marcado para o início da Manifestação, eu estava na Avenida Paulista.
___Para o meu espanto, não apenas os manifestantes haviam conseguido parar todo o fluxo da Paulista em direção à Consolação, como, mesmo chovendo, centenas de pessoas estavam lá, prontas para protestar, para dividir com os outros o que pensavam do assunto, prontas para se planejar para os próximos dias.


Manifestantes


___Mesmo sabendo que dividir com vocês o que eu presenciei não é quase nada, contarei algumas das minhas impressões.


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___Sair de casa para mostrar um pouco de apoio pelos problemas dos outros já me parece algo bonito. Fazê-lo na chuva, então, acaba me parecendo duplamente admirável. Seria de se estranhar que pessoas que resolveram gastar suas horas livres indo prestar solidariedade aos outros não ajudassem umas as outras.
___Foi bonito ver um monte de guarda-chuvas juntos; ver, sem que ninguém precisasse dizer nada, aqueles que tinham o para-águas abrigando aqueles que não tinham. Era um gesto pequeno, provavelmente percebido apenas por aqueles que, naquele momento, estavam a tomar um pouco menos de chuva.


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Massacre do Pinheirinho, por Carlos Latuff


___Sempre acompanho com atenção os políticos nos quais votei. Tenho de dizer que fiquei muito feliz de saber que Eduardo Suplicy participou do ato e que Ivan Valente estava no Pinheirinho. Fico orgulhoso por ter votado em ambos – e por nunca ter dado o meu voto a Geraldo Alckmin.


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___Para aqueles que nunca foram a manifestações, aproveito para contar: ouvir discursos de quem está participando costuma ser uma das principais atividades do início e do fim do evento. Eu cheguei exatamente no momento em que começavam os discursos da parte final: em frente ao Tribunal Regional Federal.
___Para aqueles que já foram a manifestações, nem preciso contar que dizer “Eu cheguei exatamente no momento em que começavam os discursos da parte final” não significa que eu apenas vi, rapidamente, o finzinho. Foram muitos discursos, umas boas horas.
___Como qualquer um que já parou para ouvir discursos alheios sabe –, seja em uma sala de aula, em um campo escocês antes de enfrentar os exércitos ingleses, em uma palestra, em um culto –, só é fácil manter a atenção por muito tempo quando encontramos bons oradores, quando quem está discursando fala de maneira interessante. Em manifestações, grande parte dos discursos acaba tendo o mesmo conteúdo. Depois de ouvir uns três, quatro atentamente, praticamente já se ouviu todos. É fácil perder a atenção.
___No ato de ontem, entretanto, alguns discursos, mesmo sem grandes oradores, mesmo entremeados com as inúmeras repetições, acabaram me deixando completamente preso ao que se dizia. Achei lindo cada um dos relatos de pessoas que estiveram no Pinheirinho e, lá, na frente de todos, dividiam o que tinham presenciado, visto, sentido. Foi muito bonito.*


"Todo brasileiro tem direito a moradia", por Jean


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___Depois de ver o ato, depois de ler muito sobre o que aconteceu, chega a ser triste a fraquíssima e parcial cobertura da imprensa. Parecem mais comunicados oficiais do PSDB do que uma cobertura real.


Der Bundesstaat São Paulo, por Carlos Fatuff


___Falando de comunicados oficiais, acho que vale ressaltar a versão do ataque ao Pinheirinho retirada do Blog da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Em uma postagem intitulada “Reintegração de posse pacífica em São José dos Campos/SP”, a PM tem a cara de pau de dizer que “A operação resultou na detenção de 16 pessoas, não havendo feridos ou mortos.” (grifos meus e um par de prints screens, caso necessário).
___Termino este texto de impressões perguntando para a PM se o rapaz que aparece entre 35” a 46” do vídeo abaixo estava simplesmente sujo de groselha. Ou a Polícia Militar de São Paulo já se acostumou tanto com o crime que não se importa mais em publicar mentiras e agir injustamente?


[embed width="550"]http://www.youtube.com/watch?v=DDKp4wJPMxI[/embed]


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* Menção honrosa para o discurso final de Herbert Claros, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.

21 de janeiro de 2012

Nós já fomos mais inteligentes

___Nos últimos dias, muito tem se falado sobre dois assuntos: o caso de estupro ocorrido no Big Brother Brasil e as mil brincadeiras sobre Luiza, que está(va) no Canadá. Tanto se falou sobre essas coisas que, antes de ontem, Carlos Nascimento, apresentador do Jornal do SBT, perdeu a paciência e desceu o verbo. Vejam, abaixo, a fala principal do jornalista:


[embed width="550"]http://www.youtube.com/watch?v=t9O45Pfl3wc[/embed]


___Pelo visto muita gente admirou o que Nascimento falou. Vi um monte de pessoas compartilhando o vídeo no Facebook, recebi por e-mail, li notícias sobre a fala do jornalista em outros veículos. A repercussão foi grande e, pelo que eu pude notar, bem recebida por todos. Menos por mim.
___Nascimento começa sua fala dizendo “Ou os problemas brasileiros estão todos resolvidos, ou nós nos tornamos perfeitos idiotas. Porque não é possível que dois assuntos tão fúteis possam chamar a atenção de um país inteiro.”. Eu entendo a revolta, imagino que seria fabuloso se o país inteiro estivesse interessado em analisar, sob o viés hegeliano, a obra de Clarice Lispector, ou se todos estivessem engajados em auxiliar as crianças famintas da África. No entanto, não é errado, não é ruim, não é pecado se interessar por assuntos fúteis. E quem diabos disse que as mesmas pessoas que estão rindo da viagem a Luiza para o Canadá não estão ajudando criancinhas famintas?
___Digo mais, o senhor Carlos Nascimento luta para que, pelo menos no jornal que ele apresenta, assuntos fúteis não sejam pauta? Ele não vê nada de fútil no carnaval, noticiado no próprio Jornal do SBT, no mesmo dia? Não há futilidade no futebol, assunto perene de todos os jornais do país? Diga-me, senhor Nascimento, quem decide o que é fútil e o que não é? Antônio Cândido? A Dilma? Marilena Chauí? Pedro Bial? O mestre Yoda? Você?


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___O primeiro assunto que Carlos Nascimento classificou como fútil foi o caso de estupro do BBB, que teoricamente não deveria ser discutido, já que foi “negado pelos dois protagonistas”. Diga-me, então, Carlos, não lhe parece normal um estuprador negar que cometeu o crime? Por um acaso você nunca ouviu falar em vítimas de estupro que por medo, vergonha ou qualquer coisa do tipo, negaram o ocorrido? E mais, caso a moça que pode ter sido estuprada estivesse bêbada demais para se lembrar (o que parece ter sido o caso), não seria difícil ela dizer que nada aconteceu.
___Discutir estupro, em uma sociedade machista como a nossa, é extremamente importante. Quer nesse caso o estupro tenha ou não acontecido, um país inteiro discutir o quanto é errado se aproveitar de uma mulher excessivamente bêbada, lembrar que isso é, sim, um crime, não é, de maneira alguma, fútil.


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___O segundo “assunto fútil” sobre o qual o apresentador reclamou, foram os inúmeros chistes feitos com o “menos Luiza, que está no Canadá”, tirado de uma propaganda de imóveis.
___É verdade, é só uma brincadeirinha vazia, simples. Mas, nada saiu do controle, só brincaram com o fato de que Luiza estava no Canadá e pronto. Não virou disciplina obrigatória do Ensino Médio, não organizaram uma romaria até o Canadá para trazer Luiza de volta, não decretaram feriado pelo retorno da moça. Fazer piadinhas sobre uma frase deslocada em um anúncio não tem nada de absurdo.
___Absurdo é um jornal que começa reclamando que o país inteiro está falando de futilidades (como as brincadeiras com a ausência de Luiza), e, logo em seguida, faz uma reportagem sobre a própria Luiza. Duvidam? Então, confiram aqui a reportagem completa.


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___Não estou dizendo que não existem assuntos fúteis, nem que se deva falar de futilidades o tempo todo. Só acho importante dar liberdade a todos e estar bem atento (inclusive ao próprio jornal em que se trabalha) antes de atacar a inteligência alheia. Se bem que, como parece que todo mundo gostou do que Carlos Nascimento falou, acho que ninguém, nem a Luiza, vai aprovar o meu texto.


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P.S.: Aproveitando que eu já estou implicando com o Carlos Nascimento e com o Jornal do SBT, acho que é importante fazer mais um pequeno adendo. A organização do jornalismo no Sistema Brasileiro de Televisão parece estar excessivamente machista. Não só o jornal começa com o apresentador dizendo que discutir sobre estupro é algo fútil, como, pouco depois, quando vão mostrar a imagem de Luiza (que estava no Canadá) pela primeira vez, fazem questão de escolher uma tomada que começa mostrando os pés da moça e subindo por todo o seu corpo – tratando-a, literalmente, como um objeto para o deleite do olhar.*


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* Confiram no vídeo da reportagem completa, de 1’19” a 1’22”.

18 de janeiro de 2012

Dificuldade de reagir

___Funcionária pequena de um grande hospital de São Paulo. A cara toda roxa, só um olho aberto, braços completamente marcados, mancando. Mais um pouquinho, pareceria Jesus Cristo em filme do Mel Gibson. Para todos que perguntam pelo caminho, ela fala, rapidamente, que caiu da moto. Chegando à secção em que trabalha, local mais privado, só com três outras pessoas, suas colegas mais íntimas, a pobre funcionária cai no choro.
___Sem que seja necessária muita insistência das colegas, a funcionária conta que apanhou, novamente, do marido.
___– Achei que ele ia me matar...
___As colegas falam que ela tem de ir a uma delegacia. Chorando, a esposa agredida conta que foi, logo depois da surra.
___Antes que alguém pudesse perguntar o resultado, a esposa agredida começou a chorar mais, dizendo que os policiais disseram que não podiam fazer nada, que ela deveria ir a uma delegacia da mulher. “Aí eu tive que voltar para casa. Não tinha onde dormir. ’Inda bem que ele já tava pregado no sono.”.
___Algumas horas depois, uma das colegas falou que havia conseguido arrumar o telefone da delegacia da mulher mais próxima. Na hora do almoço, todas se reuniram para ligar.
___A esposa agredida, tentando conter o choro, respondeu às perguntas que lhe eram feitas e, pouco depois, desligou. Mal colocou o telefone no gancho, as lágrimas voltaram a cair. Haviam dito a ela que o ideal seria ir à delegacia, diga-se de passagem, o melhor mesmo era ir à delegacia mais próxima à casa dela, não aquela.
___A 8ª Delegacia de Defesa da Mulher, de São Mateus, a mais próxima da casa da esposa agredida, ficou com o telefone ocupado até o final do dia de trabalho. Com o término do expediente, todas foram juntas para o ponto de ônibus.
___A esposa agredida, mesmo com medo de voltar para casa, não chorava mais. Se foi direto para casa ou à delegacia da mulher mais próxima quando entrou no ônibus, eu não sei.


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P.S.: Sim, o caso é real.
P.P.S.: Essa história estava na gaveta fazia um tempinho. No entanto, tudo o que as pessoas andam falando sobre o estupro no BBB (principalmente o texto do Alex, no Papo de Homem, e o que a Letícia F., do Cem Homens, tem falado) me deixaram sem alternativa: tive de compartilhar o texto.
P.P.P.S.: Lidar com o próprio caso de violência doméstica já é extremamente complicado. Seria tão melhor se o serviço público não acabasse por ser mais um entrave.*


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* Meu objetivo não é criticar aqueles que atenderam a moça e a mandaram para outro lugar. Imagino que deva mesmo ser difícil para um policial de uma região ajudar alguém de outra, imagino que as instruções que os policiais recebam sejam exatamente essas. Isso, entretanto, não exime o poder público que deveria arrumar meios de atender os cidadãos da melhor maneira possível.

15 de janeiro de 2012

Promoção imperdível

___– Alô.
___– Alô, por favor, o senhor Ulisses.
___– Sou eu.
___– Olá, senhor Ulisses. Aqui é o Fulano de Tal da operadora Vivo. Estou ligando porque o seu número foi selecionado para uma superpromoção.
___Como eu só estava a caminhar na rua, dei trela para o rapaz.
___– Ah... Que promoção?
___– Você não pode perder! Assinando o novo pacote XYZ, você ganha ligações mais baratas e o direito de gastar até 20 reais por mês, ligando para qualquer operadora.
___– Qual é a mensalidade do pacote?
___– Apenas 20 reais.
___– Que máximo! –, respondi irônico. – Por apenas 20 reais eu vou poder gastar 20 reais ligando para qualquer operadora?
___– Isso mesmo! –, respondeu animado o rapaz, mostrando que não é necessário saber o que é uma ironia para se trabalhar em telemarketing. – Quer assinar?


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___Melhor promoção que essa da Vivo, só a de colchões de ar que eu vi no Submarino dia desses.


Promoção - Submarino


12 de janeiro de 2012

Ironia uspiana

___Como muito bem me apontou um aluno meu, com tudo que tem acontecido na USP, chega a ser bem irônico que o tema da redação da Fuvest deste ano tenha sido




... redija uma dissertação em prosa... argumentando de modo a deixar claro o seu ponto de vista sobre o tema Participação política: indispensável ou superada?



___Caso o reitor Rodas resolva corrigir as redações, imagino qual o melhor caminho de resposta.

9 de janeiro de 2012

Abuso policial

___Não gosto muito de publicar algo sem deixar o texto marinando na gaveta por um bom tempo. Mesmo assim, existem assuntos mais urgentes e, portanto, vale postar com um pouco mais de pressa para ajudar na repercussão. No caso, hoje, o flagrante da violência desmedida, racista e injustificada da Polícia Militar, contra cidadãos, na USP.
___Antes de continuar a reflexão, vamos aos vídeos:
- primeira parte:


[embed width="550"]http://www.youtube.com/watch?v=iNAolrMSioU[/embed]


- segunda parte:


[embed width="550"]http://www.youtube.com/watch?v=oHthT-YtNSo[/embed]
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___Na sexta-feira, dia 6, em meio às férias escolares, o reitor João Grandino Rodas alegou que o espaço do Diretório Central dos Estudantes estava abandonado e, arbitrariamente, fechou-o. Por conta disso, tem ocorrido certa movimentação no local e, hoje de manhã, lá estavam a PM e os estudantes. Esse é o cenário dos vídeos acima.


Rodas e a autonomia universitária, por Carlos Latuff


___Para deixar tudo bem claro – principalmente para aquela gente que sofre DDDA (Distúrbio Direitista de Déficit de Atenção) –, vou pontuar alguns acontecimentos do vídeo. O primeiro e mais básico é que os estudantes não fizeram nada de injustificado: não agiram com violência, não agrediram ninguém, mal chegaram a usar palavras de baixo calão. Conversar, argumentar, discutir, questionar ou discordar de uma “autoridade” não é crime, não é contravenção. Diga-se de passagem, é algo inclusive permitido pela constituição. Ou nenhum policial aqui conhece o artigo 5º?
___Por outro lado, tenho até dificuldade em apontar o que os policiais fizeram de certo. Para começar, o caso mais simples: o policial de menos destaque nos vídeos. Ele errou ao se omitir quando o seu colega policial abusou da autoridade e agiu com violência; errou novamente ao permitir que seu colega policial agisse contra as leis ao esconder o próprio nome. Não só foi covarde ao ficar quieto, como ainda teve a cara de pau de filmar os estudantes como se eles é que fossem os criminosos do local.
___O policial de mais destaque nos vídeos, o violento que tentou esconder o próprio nome, saibam, é o sargento André Ferreira. Seus erros foram tantos que eu precisaria de mais de um texto para apontá-los. Vou pontuar alguns.
___Para começar, é possível ver facilmente seu completo despreparo para dialogar com os estudantes (4” a  38”). Imagino que quando o próprio sargento Ferreira se deu conta disso, ele procurou um bode expiatório e pensou: “Ah, olha lá: um preto! Esse com certeza não deve ter passado na USP. Esse merdinha eu posso intimidar de maneira mais pesada e deixar os estudantes com o cu na mão.”.
___O sargento Ferreira, então, questiona se o rapaz é realmente estudante. A pergunta, vale dizer, não tem o menor cabimento. A USP é um local público. É possível adentrar a Cidade Universitária para visitar parentes e amigos no Crusp, a morada dos estudantes; qualquer cidadão pode entrar na Universidade de São Paulo para apreciar um dos seus muitos museus; pode-se entrar na USP, sem que seja necessário estudar lá e sem dar justificativa para um sargentinho qualquer.
___Mesmo sabendo disso, o rapaz é estudante da USP, do curso de Ciências da Natureza, e disse isso ao policial. Talvez o preconceito do sargento Ferreira fez com que ele não acreditasse que um descendente de africanos estudasse por lá e, mesmo sem ter do direito de fazê-lo, o policial pediu a carteirinha para provar. Pediu e, quando não foi prontamente atendido, começou, de maneira criminosa, a agredir o pobre estudante.
___Mais do que agredir: mesmo sem nenhuma reação além de questionamentos verbais, o sargento Ferreira sacou sua arma e a ergueu contra cidadãos desarmados e que não o haviam agredido (1’ a 1’06”). Suas fala de então foi algo como “Eu quero [que você mostre o documento provando que estuda aqui] porque eu sou policial!” e repetiu isso retirando o estudante do local de maneira violenta. Ressalto que, nesse ponto, inclusive um membro da guarda universitária ajudou o policial a agredir o estudante (1’05” a 1’21”). Ressalto também, caso o sargento Ferreira ou algum outro policialzinho não saiba, que um policial não tem o direito de ver o documento de quem quiser sem justificativa, suspeita clara ou um mandato. E “Eu quero porque eu sou policial!” não é justificativa.
___Enquanto agredia de maneira cada vez mais violenta o estudante, outro aluno disse que o sargento Ferreira estava cometendo “abuso de autoridade” (1’27” a 1’29”). O policial parou um pouco com a abusiva agressão e disse:
___– Que abuso de autoridade? Que que você sabe de abuso de autoridade? (1’29” a 1’33”)
___Pois bem, já que o sargento Ferreira disse isso, vamos analisar a questão com um pouco mais de calma. Abuso de autoridade: “Três são os pressupostos para a existência de abuso de autoridade: a) que o ato praticado seja ilícito; b) que seja praticado por funcionário público no exercício de suas funções; c) que não tenha motivo que o legitime.”. Vamos ver: (a) obrigar um cidadão a mostrar documentos sem justificativa, agredir uma pessoa que nada fez além de questionar os desmandos de um policial, sacar uma arma e apontar para um cidadão pacífico. Tudo isso me leva a crer que o sargento Ferreira estava cometendo um ato ilícito. (b) O sargento Ferreira é um funcionário público, da PM, e, naquele momento, exercia suas funções. (c) Como o estudante não agiu de maneira violenta e estava apenas discutindo com o policial, e o próprio sargento não tinha um mandato, suponho que não há motivo que legitime a ação.
___Portanto, caro sargento Ferreira, você cometeu, sim, abuso de autoridade. Pelo visto quem não sabe o que é abuso de poder é você. Talvez até seja instrutivo para você ler o texto “Forças policiais e abuso de autoridade”, do juiz Paulo Tadeu Rodrigues Rosa.


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Invasão ao morro, por Diego Novaes


___Por fim, imagino quanto disso já aconteceu fora da USP. Quanto disso já aconteceu sem que nenhuma câmera pudesse registrar o abuso de um policial. Quantas vezes algo assim aconteceu com gente que não pode colocar na internet um vídeo, como os linkados acima, no mesmo dia. Quantas vezes isso já aconteceu com gente que ninguém liga.


Operação na favela, por Carlos Latuff

8 de janeiro de 2012

Atire em seus amigos!

___Dia desses, entrando no Facebook, dei risada com a seguinte propaganda:


Atire em seus amigos!


___Nem me dei ao trabalho de clicar (só de tirar o print screen acima). Provavelmente este texto é o máximo de comentários que a tal propaganda vai receber. A não ser que alguma tragédia ocorra: estilo algum imbecil qualquer que resolva metralhar algum lugar, e, depois, alguém da imprensa ache essa mesma propaganda no Facebook do rapaz. Então passaremos por mais uma longa e chata temporada de especulações dos jornais tentando entender assassinos.


Dexter
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___Claro que sempre existe a possibilidade deste vídeo ter razão.


[embed width="550"]http://www.youtube.com/watch?v=Ewu5CK018pY[/embed]
Clique em “cc” aí no vídeo para ativar a legenda


___Aí, é melhor vocês tomarem cuidado comigo. :-)

5 de janeiro de 2012

Vencendo os Spams Persas

___Atualmente, graças a Frank Miller e ao cinema, muita gente sabe que, em 480 a.C., 300 espartanos e outros tantos gregos passaram por maus-bocados ao encontrar uma quantidade absurdamente superior de soldados persas. O que ultimamente não costumam lembrar é que, naquele mesmo ano, no Mar Egeu, outra batalha desigual aconteceu. Por mais admirável que tenha sido o feito e o sacrifício do rei espartano Leônidas, foi o ateniense Temístocles que conseguiu uma estrondosa vitória.
___Mesmo com menos da metade dos navios, os gregos conseguiram vencer o que podem ter sido 800 navios persas. Como foi isso? Com uma boa utilização dos rápidos trirremes, atraindo os inimigos para o Estreito de Salamina e com diversas outras estratégias de batalha. Mesmo lutando contra um número muito superior de navios, utilizando a sua inteligência, Temístocles conseguiu derrotar os persas.


Trirremes


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___Novembro e dezembro de 2011 foram meses complicados para o pobre Incautos do Ontem. Acredito que o problema foi a quantidade gigantesca de spams que começaram a surgir como barcos persas no litoral grego do século V a.C. e que fizeram Leônidas e o servidor caírem.*
___Agora, acredito eu, tudo está resolvido. Para conseguir esse feito, foi instalado o NuCaptcha, um daqueles programinhas que obrigam os leitores a digitarem uma sequência de caracteres para comentar (no caso aqui do Incautos, os caracteres vermelhos que ficam se mexendo na imagem). Espero que não seja incomodo para nenhum comentarista; para mim, os spams estavam sendo uma bela chateação.
___O resultado tem sido fenomenal. Deem uma olhada na quantidade de spams dos últimos meses e depois da instalação do NuCaptcha, no dia 2 de janeiro.


Histórico de Spams - Incautos do Ontem (números)
Histórico de Spams - Incautos do Ontem (gráfico)


___Claro que eu sou um exagerado, mas vendo uma vitória tão grande assim contra os spams, quase me sinto o próprio Temístocles. Com um pouco de inteligência e estratégia foi possível vencer um número muito superior de navios persas e de spams. Só falta agora fazerem um filme sobre nós dois.


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P.S.: Como eu gosto de ouvir o que os meus leitores têm a dizer, caso algum de vocês não tenha gostado do novo sistema de Captcha ou tiver outra coisa a falar, por favor mandem ver nos comentários.
P.P.S.: Por conta de um artigo publicado, em 2008, pelo Atila Iamarino, do Rainha Vermelha, tentamos utilizar aqui no Ops! o re-Captcha. Infelizmente não deu certo, mas recomendo a leitura do texto para quem se interessar por instalar algo assim em sites.
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* Se bem que sempre existe a possibilidade, como bem sugeriu um leitor, de que “uma liderança opressora capitalista” tenha tentado calar o meu blog.


 

2 de janeiro de 2012

Eu sou um idiota, mas...

Nota: Se necessário, cliquem nas imagens para visualizá-las em tamanho maior.


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___Entre os sites, blogs, tumblrs que surgem pela internet como moedinhas em caixa de igreja, um dos que mais me divertiu no ano passado foi o Classe Média Sofre. Inspirado no norte-americano White Whine, normalmente o CMS reproduz reclamações da pobre e explorada Classe Média e consegue levar qualquer pessoa – que tenha um pouco de senso crítico – do asco ao riso em poucas postagens.


Classe Média Sofre #1
Classe Média Sofre #2
Classe Média Sofre #3
Classe Média Sofre #4
Classe Média Sofre #5


___Por vezes, os comentários dos autores do tumblr tornam mais divertidos ainda os choramingos selecionados.


Classe Média Sofre #6
Classe Média Sofre #7
Classe Média Sofre #8


___Para que eu pudesse me divertir um pouco mais no fim do ano passado, uma aluna querida me enviou o endereço de um tumblr parecido: o Não Tenho Preconceito! (mas...). O conteúdo é um pouco mais pesado e repetitivo e os comentários do autor costumam ser mais didáticos. De qualquer modo, para quem acha interessante o Classe Média Sofre, acho que vale uma visita.
___Deixo uma pequena amostragem.


Não tenho preconceito, mas... #1
Não tenho preconceito, mas... #2
Não tenho preconceito, mas... #3
Não tenho preconceito, mas... #4
Não tenho preconceito, mas... #5


___E, por fim, para quem achou algo ruim e precisa de tudo mastigado para entender:


Não tenho preconceito, mas... #6