28 de junho de 2012

Nero Fiddled

___Woody Allen é fantástico. Ele é tão bom que quase todo filme que ele faz acaba tendo sempre o mesmo defeito: um monte de chatos, assim que o filme estreia, praticamente sem nem precisar assistir, começam a falar que “Esse filme saiu uma droga!”, que “A nova fase do Woody Allen não se compara com a da década de [inclua aqui qualquer década, até as anteriores a 1935].”, que “Ele já foi melhor.”. Tenho a impressão que, se ele espirrar duas vezes, deve ter algum mala que vai dizer que o segundo espirro não conseguiu a profundidade do primeiro. ___O caso é exatamente o mesmo para o novo e divertidíssimo Para Roma com amor (dois exemplos). Filme esperto, bem estruturado, com ótimas sacadas, que flui deliciosamente. Dividido em 4 histórias independentes, todas ambientadas capital italiana, o filme parece brincar com a mesma premissa de Boccaccio no Decameron.*

Para Roma com amor, de Woody Allen

___Logo depois da sessão de pré-estréia para a imprensa que eu assisti,** alguns dos seletos membros do público se juntaram para conversar. Profissional em meter a orelha em rodinhas nas quais eu não fui convidado, parei um pouco para ouvir e, sem nenhuma espera, pude presenciar uma crítica-clichê completa para um filme do Woody Allen: “Essa nova fase nonsense do Woody está por demais vergonhosa. Será que ele não consegue mais fazer algo do nível de Annie Hall? Que porcaria era aquela do cara no chuveiro? Nos bons tempos, saia-se pensando dos filmes; mas agora parece que ele não tem mais nada para falar.”. ___O mais divertido é que não apenas muito foi dito no episódio do chuveiro citado pelo crítico, como, também, essa foi exatamente a historinha escolhida pelo Woody Allen para bater nos seus repetitivos críticos. ___Woody Allen interpreta Jerry, diretor de óperas aposentado que descobre que Giancarlo***, o sogro italiano de sua filha, canta maravilhosamente bem no chuveiro. Desafortunadamente, fora do banho, Giancarlo não apresenta o mesmo talento. Mostrando sua ousadia como diretor de ópera, Jerry consegue levar Giancarlo para os palcos – com chuveiro e tudo. O tenor faz um sucesso estrondoso, mesmo assim o diretor não escapa das duras críticas da imprensa: “Só mesmo um completo imbecil para colocar o cantor tomando banho enquanto se apresenta.”.

Fabio Armiliato em Para Roma com amor

___A interpretação é simples. Sem o chuveiro, Giancarlo não conseguiria cantar bem. Todos os elogios dos críticos ao cantor só foram possíveis graças ao talento, inteligência, coragem do diretor. Sem Jerry, Giancarlo como tenor, aquela maravilha musical, nunca existiria. Sem entender direito, presos a brumas e preconceitos, os críticos, mesmo gostando do resultado musical, bateram no principal artífice. Exatamente como essa gente que sempre diz que o Woody Allen já foi melhor. ___Meu conselho sincero – conselho também do próprio Woody Allen – é para que esses críticos, antes de começarem as reclamações da maneira mais clichê possível, parem e pensem um pouquinho. Respirem um tanto depois do filme, reflitam. Vai que hora dessas você está por aí, recitando toda a sua “sapiência” sobre a obra de Woody Allen, e ele sai de um canto qualquer para corrigir você.

[embed width="500"]http://www.youtube.com/watch?v=OpIYz8tfGjY[/embed]

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P.S.: Eu sei... Eu já escrevi textos melhores.

__________ * Não é à toa que, originalmente, Woody Allen pensou em chamar o filme de Bop Decameron. ** Deixo meus agradecimentos à Paris Filmes e ao Fabio Allves pelo convite. *** Interpretado pelo tenor profissional Fabio Armiliato.

24 de junho de 2012

O Bem sempre vence o Mal

O Bem sempre irá vencer o Mal? Então é justo dizer que os povos que venceram durante muito tempo em determinado momento eram “do bem”? Tendo como base: - Bem – praticar boa ação em relação ao próximo e a si mesmo. - Mal – praticar uma ação ruim em relação ao próximo e a si mesmo.
___Não sei se ele vai apreciar muito a resposta. Mesmo assim, respondi. Como o texto talvez interesse para mais alguém, segue abaixo.

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Caro Bruno,
___Não sei se minhas respostas, se meus modos de ver o mundo vão lhe agradar. Mas, como acho importante abrir um caminho para você refletir sobre seus questionamentos, deixo aqui uma tentativa de resposta. 
___Para começar, você perguntou se “O Bem sempre irá vencer o Mal?”. A resposta é não. Mesmo se for possível definir perfeitamente o que é o Bem (o que, acredito eu, não é), esse “Bem Ideal” não só provavelmente vai perder muitas batalhas, como, também, já perdeu até dar dó. 
___Para exemplificar as derrotas do Bem, respondo seu segundo questionamento – “Então é justo dizer que os povos que venceram durante muito tempo em determinado momento eram ‘do bem’?”. Não, não é. Ou é possível dizer que os europeus eram o Bem, que eles estavam realmente tentando ajudar o próximo quando escravizaram, por séculos, os africanos? É possível chamar de Boas as sociedades que oprimiram as mulheres por tantos milênios? Todos os povos dominadores – e suas guerras, seus massacres de conquista – podem ser considerados Justos? 
___Claro, é possível questionar minhas respostas. Um retórico talentoso facilmente defenderia a escravidão, demonstraria que a opressão ajuda as mulheres e justificaria qualquer guerra que lhe aparecesse na frente. O que é praticamente inquestionável é o fato de que os vencedores manipulam as informações para demonstrar que eles eram/são o Bem. 
___Só para citar um exemplo fácil, se os alemães tivessem vencido a II Guerra e o nazismo proliferasse pelo mundo como louça suja na pia da minha cozinha, hoje falaríamos de como tudo está melhor depois que a humanidade se livrou dos judeus. As atitudes de Hitler seriam exemplos a serem seguidos; mais e mais pessoas glorificariam seus acertos e ignorariam seus erros. Em outras palavras: o nazismo caberia perfeitamente em muitas definições de Bem. 
___Parece nojento e absurdo, não? Então veja como nossa sociedade aceita a riqueza de poucos e a pobreza de muitos como algo perfeitamente normal, aceitável, natural. Vale dizer, nós inclusive justificamos a desigualdade e muitas vezes culpamos os oprimidos. “Esses vagabundos! Se realmente se esforçassem para trabalhar, não estariam assim.”.

"Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as pessoas que estão oprimindo." (Malcolm X)

___Espero ter sido claro. 
___Boa reflexão. 

___Abraços. 
___M. Ulisses.

19 de junho de 2012

Teste

Teste

___Existem muitas variações da imagem acima, todas com o mesmo conteúdo –; já encontrei milhares delas compartilhadas no Facebook, enviadas por e-mails e coisas do tipo. Se algum dia você resolveu compartilhar qualquer uma delas, tenho duas más notícias:

1) Você foi machista.

2) Você foi homofóbico.

___Existem outras más notícias, mas por hoje já é o bastante. Se você conseguir se tocar dessas duas, já será um grande passo.

15 de junho de 2012

A solução

___ O sol estava forte, o céu sem nuvens; não ventava. Nenhum pássaro parecia disposto a cantar. ___Tudo o que havia acontecido naquele dia parecia ruim. Toda aquela comida teria de ser jogada fora e todas aquelas horas carregando os sacos tinham sido jogadas fora. Seus braços e suas pernas doíam. A cabeça também. ___Infeliz, o pobre caipira afastou-se dos outros. Não era fácil se livrar do incômodo de uma noite mal dormida – catalizado por aquele dia problemático. Pensava no filho doente, na esposa que ele não suportava mais, no trabalho penoso. Queria resolver tudo de uma vez, mas não conseguia vislumbrar solução alguma. ___Viu, então, esquecida em um canto, uma faca. Apreciou-a: grande, afiada, razoavelmente limpa. Olhou para os lados, ninguém por perto. Pela primeira vez no dia, sorriu. ___Com a faca nas mãos, as coisas já pareciam mais calmas. Sem tirar os olhos da arma, sentou. Remexeu os bolsos. Respirou fundo e, alguns segundos mais tarde, sentiu-se bem melhor.

Almeida Júnior. Caipira Picando Fumo (1893).

11 de junho de 2012

Fale com a minha mão

___Adoro placas claras.

Fale com a minha mão - Talk to the hand

___Mas, prefiro as educadas.

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P.S.: Para quem não se divertiu com a placa engraçada, fica um vídeo extra.

[embed width="500"]http://www.youtube.com/watch?v=yRfdXZ4sFLU[/embed]

5 de junho de 2012

Orgulho do Tiririca

p style="text-align: justify">___O orgulho do título é para chamar atenção. Não votei no Tiririca, não o vejo como o Ivan Valente – deputado de que me orgulho bastante por ter votado. Mas, ao contrário de muitos paulistas, ao contrário de grande parte dos brasileiros preconceituosos, não tenho vergonha do deputado Francisco Everardo Oliveira Silva. O motivo disso? Porque, ao contrário de quase todo mundo que vejo por aí, eu acompanhei o mandato do comediante. ___Deem uma olhada nas críticas que o vlogueiro João Revolta fez quando Tiririca estava sendo cogitado para concorrer à prefeitura de São Paulo. Pior, vejam o que os universitários tinham a falar sobre o deputado.

[embed width="500"]http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3pJEJmFLV2c[/embed]

___As criticas – todas – foram vazias. Ninguém falou nada que vá muito além de “O Tiririca é um ignorante.”, ninguém apresentou um argumento sério que não fosse puro preconceito. Só demonstraram desconhecimento sobre o que o humorista havia feito no seu mandato por mais de um ano.* ___Tiririca tem, até agora, uma presença em plenário de 100% (podem conferir aqui para 2011 e aqui para 2012).** É autor de um projeto de lei que busca auxiliar analfabetos com mais de 18 anos a estudar (PL-1528/2011). Também é de sua autoria outro projeto lindo, o PL-3543/2012, que busca garantir “aos filhos de artistas de circo, na faixa etária de 4 a 17 anos, cuja atividade seja itinerante, vaga nas escolas”. Diga-se de passagem, para os trabalhadores de circo, Tiririca tem sido extremamente exemplar. ___Claro, tenho minhas criticas ao Tiririca: considero pífia sua atuação fora das suas lutas pelos profissionais de circo; acho que participar apenas de uma comissão é muito pouco; e foi vergonhoso vê-lo a favor das mudanças no Código Florestal. ___Ninguém precisa ser favorável ao Tiririca. Eu mesmo considero que sua atuação como político está bem longe de merecer o meu voto. No entanto, vale a pena ser coerente: é um pouco ridículo criticá-lo por ser ignorante e demonstrar completa ignorância na hora de falar sobre o seu mandato como deputado.

__________ * O vídeo é de março de 2012. ** A título de comparação, o deputado Paulo Maluf, motivo apenas de vergonha para São Paulo, contou, em 2011, com uma presença em plenário de apenas 56,1%.

1 de junho de 2012

Curso: Salve o seu casamento

p style="text-align: center">Alianças quebradas
___Dia desses, no Facebook, um ex-aluno chegou todo contente: Aluno: Professor, lembra da Samanta? Eu: Lembro. Aquela que andava sempre com você, com o João, com o Gabriel e a Ana. Aluno: Isso! Fiquei muito feliz. Ela entrou no curso que queria, lá na UFMG. Achei que você iria gostar de saber. Eu: Que bacana! O que ela queria? Aluno: Conservação (ou Restauração, não lembro) de Matrimônios. Eu: Nossa... Existe um curso sobre isso? Aluno: O senhor não sabia? Eu: Não. Nunca tinha ouvido falar. Aluno: Achei que o curso dela estava completamente ligado com a sua área... Eu: O que conservar ou restaurar casamentos tem que ver com História? Aluno: Nossa! Agora que eu vi o que eu escrevi acima. A Samanta está estudando Conservação de Patrimônios, com P.