29 de maio de 2016

Flor no asfalto

___Caco Barcellos é um dos melhores jornalistas ativos da televisão brasileira. A maior parte das produções dele que eu li ou assisti, só me fizeram admirá-lo ainda mais. 
___Recentemente, por conta de conversas que eu tive com meus alunos (inclusive alguns alunos agredidos por policiais militares que, sem mandato judicial, desocuparam violentamente algumas escolas), reli o Rota 66: a história da polícia que mata, trabalho mais famoso do Caco Barcellos. O livro é fantástico, mas extremamente violento. Em vários momentos, tive de interromper a leitura para respirar e conter a ânsia de vômito. 
___Mesmo assim, é impressionante como até em uma narrativa violenta, como a do Rota 66, é possível encontrar beleza – e não estou falando apenas da beleza doce e ingênua do autor de esperar uma diminuição da violência policial com o seu livro. Em meio a todo o peso da dura e triste narrativa, Barcelos conseguiu espaço para publicar um poema encontrado no bolso de João Augusto Diniz Junqueira, uma das vítimas da PM:

Pensou em subir na vida
Notou que os degraus eram os seus semelhantes
Que a escada era feita de homens curvados
De crianças maltrapilhas
De velhos com fome
Pediu perdão
Se afastou de cabeça baixa