31 de março de 2018

Carinhosa

___– Cala a boca, Eva! –, vociferou a velhinha para sua cachorra, que estava latindo.
___Levo minhas cachorras, quase todo domingo, para uma rua fechada para os carros (e aberta para as pessoas). Lá, durante as manhãs, vários donos de cachorros soltam seus bichinhos que ficam, alegremente, brincando. E, todo domingo, essa senhora fica brigando com a cachorra dela.
___– Sai, Eva! Já soltei você, agora sai do meu pé! Vai lá com os outros cachorros.
___Não importa o quanto a velhinha brigue, a Eva continua ao lado dela, completamente atenta à dona. Nunca se afasta mais do que alguns passos. E, continuamente, a dona fica brigando com ela.
___Até quando está conversando com outras pessoas, a velhinha fica reclamando da cachorra.
___– Queria que a minha cachorra fosse que nem a sua, que fica aí pulando e brincando com todo mundo. A Eva é um saco, não sai de perto.
___O tratamento que a velhinha dá para a cachorra me incomoda e eu não costumo ficar perto dela. Só que, como eu fico seguindo minha cachorrinha, a Isabel Allende, em alguns momentos, quando a Isabel chega perto da cadela da velhinha, ouço novamente os impropérios da senhora para a pobre Eva.
___No último domingo, além da Eva, a velhinha veio acompanhada do filho. Assim que me viu, ela me apresentou o rapaz:
___– Olá! Esse aqui é meu filho. Juan.
___– Prazer, Uliss...
___– Você não conheceu ele antes porque, desde que se casou, passou a só visitar a mãe quando é quase obrigado. É um ingrato.
___O moço, obviamente constrangido, não falou nada.
___Algum tempo depois, quando a Isabel se aproximou novamente da Eva, ouvi a velhinha falando do filho novamente.
___– Você viu? Meu filho já se afastou de mim! Nunca vem me ver, nunca passeia comigo e, quando vem, fica lá do outro lado da rua. Aposto que está olhando algum rabo de saia. Safado.
___Enquanto isso, Eva ainda estava ao lado da dona.
___– Cala a boca, Eva!

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