25 de novembro de 2008

Prison Break: Início de uma temporada realmente nova

Atenção: Este texto contém um monte de spoilers.


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_____Já imaginaram o que aconteceria se Machado de Assis resolvesse dar uma forçada de barra para ganhar uma grana extra? Imaginem se Dom Casmurro fosse, na época, um best seller capaz de garantir um polpudo cheque, no fim do mês, na conta do pobre escritor. Feliz da vida com aquele inesperado sucesso financeiro, Machado, então, para faturar mais um pouco, resolve escrever Dom Casmurro 2, a Vingança de Escobar.
_____Querendo trabalhar com as mesmas personagens que caíram no gosto do público, Machado começaria o livro com a narrativa de um Bentinho mais casmurro ainda, começando suas novas memórias agora no cárcere. Após passar uns capítulos reclamando da situação horrível em que se encontra, Bentinho faz uma grande digressão e relata aos leitores que, após a publicação do seu primeiro livro de memórias, Escobar, revoltadíssimo, reapareceu para defender a honra da amiga. Seu ex-melhor amigo não havia se afogado e, sim, nadado até Ítaca e por lá ficado (foi sua maneira de livrar-se de Sancha). “O corpo que descrevi a encomenda em minhas memórias anteriores, querida leitora, estava todo deformado pelo afogamento. Quis poupar sua frágil imaginação daquele horror e não descrevi tão asquerosa cena. Mas, acredite, não menti: eu mesmo achei que fosse Escobar. Por isso fui atingido de tal surpresa quando, em uma tarde de abril, meu antigo companheiro do seminário de S. José reapareceu à minha frente.”.
_____E não seria só Escobar a voltar. Capitu, também, iria ter sua milagrosa ressurreição literária. Mas, seria por pouco tempo. Também revoltada por ter sua imagem tão denegrida, a dissimulada moça, no ápice da obra, diz que, na verdade, teve um caso com José Dias (“Um amante cheio de superlativos!”). Apesar do ódio de Bentinho, é Escobar quem acaba, definitivamente, com os dias de Capitolina (“... que não merecia mesmo defesa.”). E é o mesmo exímio nadador que consegue esquivar-se da culpa do crime e coloca o narrador na prisão.
_____Exagerei? Vocês acham que nenhum escritor faria um absurdo desses com a própria obra? Eu até que, em alguns momentos da minha vida, tive essa doce ilusão. Porém, depois de ter visto – ontem – o primeiro episódio da quarta temporada de Prison Break, sou obrigado a negar.



_____Prison Break é um seriado que começou bastante bem (apesar do tema já explorado à exaustão). Lincoln Burrows (Dominic Purcell) é preso e condenado, injustamente, à morte; seu irmão mais novo, Michael Scofield (Wentworth Miller), comete um crime para também ser preso e, assim, conseguir libertar o parente. Durante a primeira temporada, toda a fuga é organizada e executada. Perfeito. Na segunda, os irmãos e seus companheiros de fuga passam o tempo todo fugindo da polícia. Aceitável, condizente. O irmão mais novo, na terceira, tem de amargar uma nova entrada em uma prisão (colocado lá por pessoas poderosas que querem que ele liberte outro prisioneiro – missão em que Scofield, obviamente, é bem sucedido). Um pouco forçado.
_____O primeiro episódio da quarta temporada, então, organiza uma reviravolta absurda para que o tom de caçada e quebra de desafios continue. Apenas no primeiro episódio (único que eu vi até agora), maus tornam-se bonzinhos; personagens dispensáveis para a “nova história” são mortos ou desaparecem sem grandes explicações; outras, necessárias para trazer um novo tom de drama, ressuscitam; inimigos mortais tornam-se aliados (daquele tipo de aliado que arrisca a liberdade e até a vida pelo outro). Scofield tem suas tatuagens de corpo inteiro apagadas. A grande prisão da terceira temporada é destruída e outras personagens ficam soltas sem grande alarde. Um objetivo comum a todas as personagens é encaixado na trama quase sem questionamento. Só faltou fazer a mão amputada de um dos bandidos voltar a crescer.
_____Os pobres roteiristas quase devem ter tido cãibra para escrever o episódio. A forçada foi tão grande que tornou-se impossível disfarçar. E tudo isso, simplesmente, para manter uma franquia lucrativa. Poderia, até, ser triste, mas, na verdade, é feio, vergonhoso. Eu me sentiria menos envergonhado em dar uma desculpa esdrúxula para a minha namorada em um momento de desespero (“Não, amor, não é o que você está pensando. Essa linda morena, nua, na minha cama, lambendo a minhas partes íntimas, é apenas uma cientista fazendo uma experiência de estímulo aos meus neurônios. Estou fazendo esse sacrifício pelo bem da ciência.”), do que de ser o autor desse episódio.

6 comentários:

  1. "Faça um comentário"... bom, eu até ia mas... depois desse final, acho melhor nem fazer!!! rs.
    Ah, e olha q li esse texto mesmo sendo grande!!

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  2. senti a mesma coisa a partir da segunda temporada.
    abç

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  3. bom nem quero mais assitir...e pensar d estar todo envolvido pela trama..

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  4. bom..fiquei ate afim de parar de assistir ...+ até agora estou bem envolvido pela trama..

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  5. Eu tb estou a assistir esta última... Fico curioso, claro. Mas, dá para ver, de longe, que estão forçando para continuar até o último suspiro da série. É triste. A primeira temporada foi divina... pena mesmo q não mantiveram o mesmo nível.

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  6. [...] de novembro: publico um texto lascando o pau na nova temporada de um seriado. _____Início de janeiro, manchete: “Fox cancela Prison Break”. _____Meados de janeiro: pedido [...]

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