30 de junho de 2024

Capítulo "Passeando (virtualmente) no museu"

    No mês passado, foi publicado um capítulo que eu escrevi para o livro Metodologias ativas: práticas docentes em ensino híbrido

    Quem acompanha tudo que sai publicado aqui no Incautos do Ontem, durante a pandemia de Covid-19 não apenas viu minha análise sobre minha "prática docente em ensino híbrido remoto", como também pôde ver parte das aulas que ficaram gravadas em vídeos e podcasts.  

    No capítulo do livro, conto como foi uma das atividades, a do podcast do "Passeio virtual pelo Museu de Arte Islâmica do Cairo". Para quem estiver interessado, o livro pode ser encontrado aqui. Meu capítulo começa na página 216. 

Referência: TRIDA, Mauricio Camargo. Passeando (virtualmente) no museu. In: BELEZIA, Eva C.. Metodologias ativas: práticas docentes em ensino híbrido. São Paulo: Centro Paula Souza, 2024. pp. 216-221.

31 de maio de 2024

Referências

 

            Eu e minha esposa acabamos de adotar uma cachorrinha. Como gosto de nomes históricos para meus bichinhos (e tive de adaptar seu nome anterior, já que ela tem uns 10 anos), resolvi chamá-la de Sherazade. Para minha surpresa, quase sempre que me perguntam o nome da cachorra e eu respondo, as pessoas ficam me olhando com a maior cara de dúvida. Variações do seguinte diálogo costumam acontecer:

            – Que diferente, de onde você tirou esse nome?

            – Do livro As mil e uma noites. É a Sherazade a contadora de estórias da obra.

            – Puxa, nunca ouvi falar.

            Acho muito estranho. Pensei que todo mundo conheceria a Sherazade. Mesmo com ninguém assistindo ao formidável enterro de minha última quimera, sempre me impressiono ao ver o quão diferentes são as referências de cada pessoa.

 



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P.S.: Até agora, encontrei mais pessoas que conhecem a Rachel Sheherazade do que a personagem dAs mil e uma noites.

P.P.S.: Em 2020, em meio as aulas online da pandemia, gravei um podcast em que cito a literária Sherazade. Está no Spotify for Podcasters ou no YouTube, caso alguém se interesse.



1 de abril de 2024

O veto covarde de Lula (e seu pequeno acerto)

 

            Historicamente, as Forças Armadas brasileiras, ao invés de serem uma força preparada contra algum invasor externo, são especialistas em atacar a própria população e o próprio Estado. Em mais uma tentativa de pacificar essa Força Armada golpista, o presidente Lula acertou em vetar eventos públicos que utilizariam o dia 31 de março para criticar o Golpe de 1964.

            Claro que os militares devem ser criticados pelo tanto de pessoas torturadas e mortas durante a Ditadura Militar. Obviamente, eles merecem críticas pelos mais de 20 anos no poder e por terem deixado a economia brasileira em frangalhos, com uma dívida externa altíssima e uma inflação descontrolada. Sem dúvidas os milicos devem ser criticados por toda a corrupção ocorrida durante a Ditadura (com qualquer tipo de denúncia a essa corrupção sendo censurada).

Eu poderia continuar os exemplos por inúmeras frases. Motivos para criticar o Golpe de 1964 não faltam. O mal que que os militares causaram ao país ainda nos aflige absurdamente. Lula está certo em não permitir que eventos que façam alusão ao Golpe ocorram no dia 31 de março, mas muito errado em não permitir eventos públicos lembrando o quanto a Ditadura foi ruim.

Datas são historicamente escolhidas para marcar eventos. Escolhemos o dia 7 de setembro de 1822 como marco para a independência do Brasil em relação a Portugal. Poderíamos ter escolhido o dia 2 de setembro de 1822, quando Maria Leopoldina, como princesa regente, assinou a carta de José Bonifácio que seria entregue ao príncipe – que estava em viagem. A data escolhida poderia ser 2 de julho de 1823, com a vitória dos baianos sobre as tropas lusitanas. Ou 25 de agosto de 1825, com o Tratado de Paz e Aliança, o reconhecimento oficial da independência do Brasil por Portugal. Porém, escolhemos uma imagem quase mítica de dom Pedro gritando “Independência ou morte!” no dia 7 de setembro.

Voltando aos milicos, sempre me agrada a ideia de que eventos criticando a Ditadura Militar não devam mesmo acontecer no dia 31 de março. É importante consagrar o dia 1º de abril como o dia do Golpe de 1964.

 

31 de março de 2024

O dinheiro da passagem e a falta de funcionários no metrô

 

            Metrô de São Paulo. Pouco depois das 23 horas. Catraca da estação C.*.

            Saindo do trabalho, cansado, subo as escadas rolantes em direção às catracas. Nas roletas, um homem, do lado de fora, conversa com um funcionário que estava do lado de dentro.

– Por favor, onde eu posso comprar a passagem?

– A bilheteria só funciona até as 22 horas. Agora, só ali no totem eletrônico.

– Mas, o totem só aceita cartão. Tô só com o dinheiro da passagem. –, responde o homem, mostrando uma nota de 5 reais.

O funcionário faz a maior cara de porra-amigo-só-tenho-eu-aqui-não-tem-como-resolver-o-seu-problema-que-é-que-eu-posso-fazer-se-estão-substituindo-trabalhadores-por-essas-máquinas-idiotas. Ou simplesmente fui eu que imaginei que ele fez uma cara dizendo tudo isso. O que aconteceu é que ficou um silêncio sem graça de alguns segundos, o metrô começou a chegar, o homem fez uma cara de triste (essa eu tenho certeza) e o funcionário disse:

– Pode guardar seu dinheiro.

E liberou a catraca para o moço.

 

 

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* O nome da estação foi suprimido para que um funcionário que fez uma boa ação, dada a péssima situação, não recebesse punição.

29 de fevereiro de 2024

Religiosos do século XIV e do século XXI

 

            Minha parte preferida da introdução do clássico The Canterbury Tales, de Geoffrey Chaucer, é quando ele descreve o “folgazão e alegre” Huberd, o frade mendicante. Chaucer começa dizendo que, entre as ordens religiosas, “não havia ninguém que conhecesse melhor as artes do galanteio e da linguagem florida; e para as mocinhas que seduzia ele arranjava casamento às próprias custas.”. Sempre pesando na ironia, ele descreve que o frade “Era um nobre pilar de sua irmandade! Conquistara a estima e a intimidade de todos os proprietários de terras de sua região, assim como de respeitáveis damas da cidade, – pois, conforme ele mesmo fazia questão de proclamar, por licença especial de sua ordem tinha poder de confissão maior que o do próprio cura. Ouvia sempre com grande afabilidade os pecadores; e agradável era a sua absolvição. Toda vez que esperava polpudas doações, eram leves as penitências que impunha, porque, do seu ponto de vista, nada melhor para o perdão de um homem que a sua generosidade para com as ordens mendicantes: quando alguém dava, costumava jactar-se, sabia logo que o arrependimento era sincero. A tristeza só não basta, pois muita gente tem o coração tão duro que, mesmo sofrendo muito intimamente, não é capaz de chorar. Por isso, em vez de preces e prantos, é prata o que se deve ofertar aos pobres frades.”.

            É impressionante ver que um texto do século XIV pode encontrar tanto eco nos nossos dias. Ainda mais em um momento em que hordas de pessoas se juntam para atacar um religioso como o padre Júlio Lancellotti que realmente se dedica àquelas pessoas que nada têm. Bem diferente de Lancellotti, boa parte dos que pregam a Bíblia fazem como o frade medieval descrito por Chaucer que “Conhecia as tavernas de todas as cidades, e tinha mais familiaridade com taverneiros e garçonetes que com lazarentos e mendigas. Não ficava bem para um homem respeitável de sua posição privar com leprosos doentes: lidar com esse rebotalho não trazia nem bom-nome nem proveito; por isso, preferia o contato com os abonados e os negociantes de mantimentos.”.

Ao falar sobre as roupas do frade mendicante, ele conta sobre o “respeito que incutia, pois não lembrava um frade enclausurado, – com as roupas andrajosas de algum pobre clérigo, – mas sim um Mestre, ou mesmo um Papa. Seu hábito curto era de lã de fio duplo, redondo com um sino saído da fundição.”. Voltando pro século XXI, tenho me divertido (e me entristecido) muito com o trabalho do @outfitdotemplo. Aposto que Chaucer iria ficar com a mesma sensação. Tão longe e tão perto...



 

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P.S.: Citações retiradas de CHAUCER, Geoffrey. Os contos de Cantuária. São Paulo: T.A. Queiroz, 1988. pp. 6-7.

P.P.S.: Quer ouvir umas pessoas bacanas falando sobre Idade Média? Meu amigo Alex Castro acabou de começar um curso sobre literatura chamado “Grande Conversa Medieval”. A didática Aria Rita de quando em vez também resolve falar sobre o assunto focando em música. Aproveite que ambos são maravilhosos.