28 de fevereiro de 2023

No meio da sala de dança

 

No meio da sala de dança tinha uma coluna

Tinha uma coluna no meio da sala de dança

Tinha uma coluna

No meio da sala de dança tinha uma coluna.

 

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Por conta do meu nariz tão amassado.

Nunca me esquecerei que no meio da sala de dança

Tinha uma coluna

Tinha uma coluna no meio da sala de dança

No meio da sala de dança tinha uma coluna.


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P.S.: Feita minha paródia-piada, aproveito para linkar o próprio Carlos Drummond de Andrade recitando o original.

P.P.S.: Realmente é muito esquisito uma sala de dança com colunas no meio do caminho. E também é muito comum.

 

31 de janeiro de 2023

Guerra contra os indígenas

 

                Estamos passando por um raro momento em que a atenção da população está voltada para os problemas da população indígena. É um evento que acontece a cada cinco, seis anos. Às vezes mais tempo, mas essa atenção quase sempre vem ligada a tragédias. A atual é por conta da horrível situação dos yanomamis, efeito de tudo que foi feito durante o governo Bolsonaro.

                Não vou me estender na tragédia atual. O Normose e o Fantástico já fizeram um bom trabalho falando sobre o assunto. Só quero mostrar uma curiosidade de como o desrespeito aos povos originários é histórico e extremamente comum nos governos brasileiros.

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                Fui à exposição Xingu: Contatos, no Instituto Moreira Salles da Avenida Paulista. Recomendo. É gratuita e ficará aberta até 9/4/2023. A fotografia que mais me impactou foi uma com Getúlio Vargas, em 1954, na inauguração da Base do Cachimbo. Cercado por militares de alta patente devidamente uniformizados, o então presidente trava contato com os indígenas da região. A foto é inusitada pois Vargas coloca um cocar invertido na cabeça do indígena.



                A situação fica ainda mais emblemática do desrespeito aos povos originários e sua cultura porque Vargas e os militares estão rindo, achando a maior graça da situação. Do outro lado, os indígenas não parecem estar se divertindo tanto assim.

                Claro que eu estou aqui na torcida para que o novo governo Lula dê a atenção devida aos povos originários, mas essa foto do Vargas serve bem como lembrança de que o desrespeito aos indígenas é uma política constante nos governos brasileiros. Provavelmente muito pouco será feito.

Citando Ailton Krenak no primeiro episódio do documentário Guerras do Brasil.doc (Luiz Bolognesi, 2019), “Nós estamos em guerra. O seu mundo e o meu mundo estão em guerra. Os nossos mundos estão todos em guerra. A falsificação ideológica que sugere que nós temos paz é para a gente continuar mantendo a coisa funcionando.”.



31 de dezembro de 2022

Erotismo e agricultura na antiga Mesopotâmia

 

            A Mesopotâmia, como frequentemente costuma ser explicada nas escolas, recebeu esse nome dos gregos por ser uma terra entre rios: o Tigre e o Eufrates. E, é importante lembrar, não foi à toa que essa civilização prosperou entre os dois rios, isso aconteceu porque o rio Tigre e o Eufrates deixavam a terra fértil e facilitavam a agricultura.

                O que entretanto não costuma ser explicado nas escolas, é que os mesopotâmicos, assim como nós, também falavam dos mais diversos temas, inclusive de pornografia. Veja um exemplo lírico muito interessante disso com Inanna (também conhecida como Ishtar), a deusa do amor, da fecundidade, do erotismo:

 

            Inanna – E quanto a mim, minha vulva, minha colina estremece.

Quem então me laborará?

A vulva que pertence a mim, a Rainha, minha gleba toda úmida,

Quem aqui passará o arado?

                Coro – Ó Dama Soberana, é o rei que te lavrará!

É Dumuzi, o Rei, que te lavrará!

               Inanna – E então! Lavra-me a vulva, o tu que eu escolhi!...*

 

                Pessoalmente, adoro o atípico desse tipo de documento histórico. Mais interessante do que o tema pornográfico, é ver como a sociedade mesopotâmica era completamente ligada à agricultura, utilizando imagens agrícolas para falar de sexo: “Quem aqui passará o arado? / (...) Lavra-me a vulva, o tu que eu escolhi!”. Do mesmo jeito que vai ser interessante para um historiador, daqui a séculos ou milênios, ver nossas narrativas pornográfico-amorosas citando aplicativos e eletrônicos em geral.

 

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* Citado por BOTTÉRO, Jean. Tudo começou na Babilônia. Amor e Sexualidade no Ocidente: Edição especial da revista L’Histoire/Seuil. Porto Alegre: L&PM, 1992. p. 29.

29 de novembro de 2022

Pés molhados

 

                Semana passada, eu estava caminhando para o trabalho em meio a uma bruta chuva. Meus sapatos estavam encharcados e meu mal humor me fazia ficar praguejando contra toda e qualquer coisa. Em uma esquina, passo ao lado de uma barraca.

                Barracas, em que pessoas em situação de rua moram, se tornaram absurdamente frequentes pelas ruas de São Paulo. É triste, mas, como costuma acontecer em Sampa, tornaram-se parte do cenário.

Nos poucos segundos que estive ao lado da barraca, deu para ouvir lá de dentro:

– Ei, para de se mexer!

– É que tem uma goteira em cima do meu pé...

Continuei meu caminho em direção ao trabalho me sentindo mal de, alguns segundos antes, estar praguejando. Não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento para ajudar aquelas pessoas que estavam, em uma barraca furada, no meio da chuva. Pelo menos eu poderia ir para o trabalho sem reclamar.

27 de outubro de 2022

A ocasião...

 

                Busca por salvadores da pátria são sempre bastante incômodas. Ainda mais quando essa “figura heroica” tem atitudes e um passado para lá de problemático. Tanto que até hoje eu tenho muita dificuldade em entender como alguém no universo pode ter pensado em votar no Bolsonaro na eleição presidencial de 2018. Hoje, depois de 4 anos de desgraça, acho mais surreal ainda ver que alguém ainda pode votar no Jair, quem dirá defendê-lo.

                Pensando assim, obviamente acabo simpatizando com alguém que faz algo que incomoda nosso atual presidente. Porém, encarar Alexandre de Moraes como um “defensor da democracia”, como um herói, é olhar o cara com olhos melhores do que ele merece.



Até eu, que não entendo nada de Direito, vejo algumas escorregadas nas atitudes do nosso ministro do Supremo Tribunal Federal. Se bem que reclamar do Alexandre de Moraes, aqui neste blog, é tão 2009.

Claro, quero que o Bolsonaro seja derrotado nas urnas e perca apoiadores mais rápido do que ele é capaz de falar idiotices. Vou, inclusive, votar para isso. Mas, não vou louvar qualquer um só porque está contra o Jair. Ou por acaso alguém que me lê acha que eu vou aprovar o Alckmin como parte de uma chapa presidencial?