9 de maio de 2013

Não produza uma capa pela sinopse

___Eu bem imagino que deve demandar muito esforço para se fazer um trabalho bem feito de escolha da capa de um livro. Imagino que deve ocupar muito tempo e que, muitas vezes, o reconhecimento não deve ser dos maiores. Quase consigo ver a pobre infeliz que escolhe as capas lendo um livro chato, que, se não fosse pelo trabalho, ela largaria antes da vigésima página; após terminar a obra, horas e horas pesquisando, pensando e escolhendo para tentar representar bem a obra toda (sem revelar o mais importante) apenas com uma capa . Por fim, ninguém, nem o chefe, nem o público e nem a autora, ninguém sequer comentam a capa. Deve ser mesmo um trabalho inglório.
___Sem dúvida, existem muitas maneiras de fugir do trabalho duro. Capas quase sem nada além do título e do nome do autor já resolvem o problema. Uma ilustração abstrata, então, é praticamente impossível de errar. E, claro, dá para ler bem por cima uma sinopse do livro e escolher uma figura genérica qualquer. Imagino que foi essa última opção que levou à capa de Maigret se diverte, publicado pela L&PM.


Maigret se diverte


___Quem já leu os mistérios que Simenon escreveu, vai estranhar um pouco esse Maigret se diverte. Ao contrário do habitual, nessa obra o comissário Jules Maigret não está à frente de uma investigação, tentando resolver algum crime; Maigret está de férias e a estória se passa com o comissário acompanhando a resolução de um crime pelos jornais.
___Pobre Ivan Pinheiro Machado, devia estar com pressa, cheio de livros para resolver. Simplesmente passou o olho rapidamente pelo início de um resumo do livro, soube que tratava de uma historinha em que Maigret estava de férias, viu o ano em que a obra foi publicada, pegou uma fotografia de praia tirada mais ou menos na mesma época por algum fotógrafo famoso, colocou um filtro e mandou publicar. O problema é que a história toda se desenrola com Maigret saindo de férias e resolvendo não ir à praia ou a qualquer outro lugar, o comissário e a esposa resolvem ficar descansando em casa, em Paris.


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___Eu sei que alguém esperto facilmente deve conseguir justificar a capa, sei que podem falar que eu estou sendo chato, mas a verdade é que o trabalho de escolher capas de livro, mesmo sendo trabalhoso, deve também ser bem legal (ainda mais para as obras do Simenon). Se for para fazer malfeito, melhor arrumar alguém que leia a obra e faça bem feito. Ou escolher uma capa abstrata.
___De qualquer modo, esta postagem serve como adendo ao ditado de que não se deve julgar um livro pela capa.


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P.S.: Nem precisam me lembrar de que não é muito inteligente escrever um texto escancarando um erro do Ivan Pinheiro Machado. Para quem não sabe, Pinheiro Machado é o PM da editora L&PM* e, portanto, esta postagem intrometida pode me fechar muitas portas por lá. Mesmo assim, achei que valia o toque (ainda mais porque, verdade seja dita, mesmo com esse pequeno escorregão, é bom ressaltar que a L&PM é, de longe, a melhor editora de livros de bolso do país).


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* O L é de Paulo de Almeida Lima.


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