8 de julho de 2007

Revolta preconceituosa

_____As pessoas se revoltam por cada coisa. Para ser mais exato, é impressionante como as pessoas ficam revoltadas por umas bobeiras enormes e parecem nem ligar para outros assuntos realmente revoltantes. Uma das revoltas de botequim do momento é reclamar do infeliz do norte-americano que escreveu em um quadro no Riocentro a frase “Welcome to the Congo”.

_____Eu pergunto, e daí? Grande porcaria. Se ele tivesse escrito “Welcome to the França”, “Welcome to the Inglaterra”, “Welcome to the Suiça”, “Welcome to the Austrália”, “Welcome to Canadá” ou “Welcome to Raio que o Parta” alguém estaria reclamando? Se é que o comentário teve algo de preconceituoso, para se ofender com o comentário você também tem que ser bem preconceituoso. Diga-se de passagem, os brasileiros, tão revoltados de serem comparados ao Congo, acham o Congo tão ruim assim? Preconceituosos!

_____Um dos diálogos mais emocionantes do cinema atual foi feito no filme Hotel Ruanda, de Terry George (2004). Nele o africano Paul Rusesabagina (personagem de Don Cheadle) agradece ao operador de câmera de uma emissora de televisão, Jack Daglish (interpretado por Joaquim Phoenix), por gravar imagens do massacre que estava acontecendo na região, pois, graças àquelas cenas, haveria chance de alguém do “mundo civilizado” intervir. O cinegrafista, então, informa que provavelmente ninguém irá intervir no massacre. Espantado, Paul Rusesabagina pergunta como poderiam não intervir após verem tais atrocidades. Após um longo suspiro, Jack Daglish explica para o seu interlocutor: “Eu acho que as pessoas vão ver as imagens em um jornal, comentar ‘Oh meus Deus, é horrível.’ e vão terminar seus jantares.”.


_____Coisas assim acontecendo o tempo todo no mundo, no Brasil e as pessoas se preocupam com uma piadinha de um norte-americano, sem nem notar os próprios preconceitos, as próprias atitudes. Pessoas que só mudaram o mundo daquela maneira que o Greenpeace falou em uma de suas novas campanhas.


P.S.: Aproveitando para lembrar (ou contar, já que ninguém na América conhece nada sobre a África), a maior cidade do Congo e também sua capital chama-se Brazzaville. Brazzaville, começando com as mesmas letras do internacional Brazil.

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