11 de novembro de 2009

O hábito não faz o monge

___Em pleno século XVI, o escritor François Rabelais, autor de Gargantua e Pantagruel, cunhou o dito “O hábito não faz o monge”. Para ser mais exato, a frase completa foi “O hábito não faz o monge, e há quem, vestindo-o, seja tudo menos um frade.”. A genialidade do autor e da expressão a mantiveram viva até hoje; só é triste saber que ela continua não só absurdamente atual, como, também, ainda não foi aprendida por inumeráveis grupos de ignorantes.
___O exemplo mais clássico é o do judiciário. Ao obrigar o uso de camisa social, calça e sapato (ou até terno e gravata para homens e a ridícula proibição de calças para mulheres), os membros do judiciário não só excluem parte da população como, também, parecem deixar claro que o respeito a eles devido não vem do seu mister, mas, sim, das suas roupas.
___É possível encontrar diversos outros exemplos pelo país. Desde o Congresso que obriga que seus membros usem terno e gravata (e, vale a repetição: parece ficar claro que o respeito a eles devido não vem do que fazem, mas, sim, das suas roupas), a faculdades vagabundas que tentam expulsar uma estudante por utilizar uma roupa “inadequada” ao ambiente “escolar” – após a aluna ter sido agredida pelos colegas “estudantes”.
___Como professor, frequentemente encontro escolas que proíbem o uso de bermudas. A medida, para dizer o mínimo, é burra. O objetivo do professor é ensinar seus alunos. A instituição de ensino que proíbe o uso de uma vestimenta que pode deixar o docente mais à vontade em um dia de calor está descaradamente atrapalhando a aula. Uma calça comprida em uma sala quente desconcentra o professor e, portanto, deixa o seu raciocínio mais lento e a aula pior.
___Já cansei de ver advogados, políticos, estudantes e professores com os mais “dignos” trajes. Muitos deles, afirmo sem medo, vestindo aquelas roupas eram tudo, tudo menos bons... “frades”.

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P.S.: O Mauro Castro tem uma ótima crônica chamada “Para não dizer que não falei de roupas” que toca levemente no assunto do meu texto. Não encontrei o escrito pela internet, mas ele está no Taxitramas – Diário de um taxista, o livro que ele publicou. Confiram e leiam (com os trajes que vocês preferirem) o restante do livro que vocês vão se divertir até não poderem mais.

3 comentários:

  1. Bom, eu também gostaria de vir trabalhar de bermuda num dia de calor. Com certeza nem me deixariam entrar, apesar de trabalhar numa sala fechada sem contato com o resto da humanidade.

    Ou será que ao ver algum projeto meu realizado diriam: Ah!!! Quem fez esse projeto aqui estava usando bermudas! Eu quero um que foi feito por alguém de roupa social!

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  2. Veja amore. Achei um monte de comentários a respeito da frase.
    Esta está bem interessante.

    Te amo muito.
    Sposinho

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  3. [...] Para acrescentar uma reflexão extra, vale, também, dar uma lida em um texto do ano passado: “O hábito não faz o monge”. [...]

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