___Em pleno século XVI, o escritor François Rabelais, autor de Gargantua e Pantagruel, cunhou o dito “O hábito não faz o monge”. Para ser mais exato, a frase completa foi “O hábito não faz o monge, e há quem, vestindo-o, seja tudo menos um frade.”. A genialidade do autor e da expressão a mantiveram viva até hoje; só é triste saber que ela continua não só absurdamente atual, como, também, ainda não foi aprendida por inumeráveis grupos de ignorantes.
___O exemplo mais clássico é o do judiciário. Ao obrigar o uso de camisa social, calça e sapato (ou até terno e gravata para homens e a ridícula proibição de calças para mulheres), os membros do judiciário não só excluem parte da população como, também, parecem deixar claro que o respeito a eles devido não vem do seu mister, mas, sim, das suas roupas.
___É possível encontrar diversos outros exemplos pelo país. Desde o Congresso que obriga que seus membros usem terno e gravata (e, vale a repetição: parece ficar claro que o respeito a eles devido não vem do que fazem, mas, sim, das suas roupas), a faculdades vagabundas que tentam expulsar uma estudante por utilizar uma roupa “inadequada” ao ambiente “escolar” – após a aluna ter sido agredida pelos colegas “estudantes”.
___Como professor, frequentemente encontro escolas que proíbem o uso de bermudas. A medida, para dizer o mínimo, é burra. O objetivo do professor é ensinar seus alunos. A instituição de ensino que proíbe o uso de uma vestimenta que pode deixar o docente mais à vontade em um dia de calor está descaradamente atrapalhando a aula. Uma calça comprida em uma sala quente desconcentra o professor e, portanto, deixa o seu raciocínio mais lento e a aula pior.
___Já cansei de ver advogados, políticos, estudantes e professores com os mais “dignos” trajes. Muitos deles, afirmo sem medo, vestindo aquelas roupas eram tudo, tudo menos bons... “frades”.
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P.S.: O Mauro Castro tem uma ótima crônica chamada “Para não dizer que não falei de roupas” que toca levemente no assunto do meu texto. Não encontrei o escrito pela internet, mas ele está no Taxitramas – Diário de um taxista, o livro que ele publicou. Confiram e leiam (com os trajes que vocês preferirem) o restante do livro que vocês vão se divertir até não poderem mais.
Bom, eu também gostaria de vir trabalhar de bermuda num dia de calor. Com certeza nem me deixariam entrar, apesar de trabalhar numa sala fechada sem contato com o resto da humanidade.
ResponderExcluirOu será que ao ver algum projeto meu realizado diriam: Ah!!! Quem fez esse projeto aqui estava usando bermudas! Eu quero um que foi feito por alguém de roupa social!
Veja amore. Achei um monte de comentários a respeito da frase.
ResponderExcluirEsta está bem interessante.
Te amo muito.
Sposinho
[...] Para acrescentar uma reflexão extra, vale, também, dar uma lida em um texto do ano passado: “O hábito não faz o monge”. [...]
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