17 de maio de 2010

Espalhando poesias

___Como qualquer pessoa que me conhece por 5 minutos sabe, eu adoro escolas. É lindo saber que existe uma instituição cuja função primordial é apresentar para seres humanos calouros um monte de coisas que a humanidade veterana fez e descobriu, uma instituição que fornece ferramentas que os novatos, se forem espertos, vão poder utilizar pelo resto da vida. Mesmo assim, não é incomum encontrar gente que despreza a função da escola.
___Sinceramente, digo, se quase tudo que os colégios fazem não se justificasse por si só, um ponto salvaria toda a instituição: a Poesia.
___Quem lê com regularidade, costuma ler prosa. É possível perceber isso em bibliotecas, pontos de ônibus, salas de espera de proctologistas. Posso contar nos dedos as vezes que, fora dos arredores do campus da Letras, encontrei gente lendo livros de poemas que não fossem obras obrigatórias de vestibular.
___Eu mesmo, que já adorava ler antes de ter algum professor mandando fazer isso, nunca havia tocado de verdade em um poema até ser apresentado aos versos e estrofes em sala de aula. Fazer os alunos percorrerem um caminho pelo qual raramente eles andariam é uma das funções da Educação.


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___Não é à toa que estou adorando o projeto Poesia no Metrô, que está acontecendo, desde o ano passado, aqui em Sampa. Em diversos trens e estações, é possível parar um pouco e ler algum trabalho de poetas consagrados. Já perdi mais de um trem enquanto interpretava algum poema.


___Espalhar poesias boas pelo mundo deveria ser uma prática mais comum, quem sabe até incitada pelo governo. Imaginem como seria maravilhoso se ao invés dos prédios serem obrigados a colocarem ao lado de cada elevador aquela placa inútil e mal escrita, pudessem escolher um soneto de Camões, uma estrofe de Whitman, um verso de Bilac.


___Antes que algum chato venha me perguntar para que é que isso serviria, respondo sem hesitar: para nada, pelo menos nada além de uma fugaz esperança de que neste lugar sem jardim, uma atitude como o espalhar de poesias faça nascer flores desse “secreto investimento em formas improváveis.”.


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P.S.: Mesmo tendo adorado a iniciativa do Metrô, tenho de dizer: publicar poemas é algo que demanda cuidado. A escolha de cada palavra pode ter um significado intrínseco, cada mudar de linha, um valor. Não se deve, como no exemplo abaixo, ignorar a separação das estrofes.


7 comentários:

  1. Cogito

    eu sou como eu sou
    pronome
    pessoal intransferível
    do homem que iniciei
    na medida do impossível

    eu sou como eu sou
    agora
    sem grandes segredos
    [dantes
    sem novos secretos dentes
    nesta hora

    eu sou como eu sou
    presente
    desferrolhado idecente
    feito um pedaço de mim

    eu sou como eu sou
    vidente
    e vivo tranquilamente
    todas as horas do fim.

    Torquato Neto.

    ;-D

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  2. Tbém acho ótima a ideia de espalhar poesias!!

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  3. tome como uma dúvida humilde: o termo não seria espalhar "poemas" ? é claro que definir "poesia" e "poema" é algo impossível, porém diferenciar "poema" de "poesia" seria algo mais simples, sendo "poema" o "texto literário" (em estrutura etc - que tanto varia e nao é mais uma vez passível de apontar uma definição universal - porém o que diferencia da prosa, por exemplo) e "poesia" aquilo que "desperta lirismo", sendo assim, uma imagem, uma frase. Portanto, o que se lê é poema, mas foi usado os dois termos. Entendo que ao espalhar poemas, a poesia também é disseminada.. mas fica um pouco confuso [?].

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  4. vc sabia que esse projeto é da minha empresa?

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  5. Jee, fique sempre à vontade para perguntar o q quiser. Vamos para as respostas.

    Escolhi “Espalhando poesias” como título propositalmente. (1) Porque brincava com a atitude do metrô e (2) porque quero que espalhem o que “desperta o lirismo” – para combinar literalmente com o poema do Drummond.

    No resto do texto, usei quase que de maneira indistinta, mas, relendo depois do seu puxão de orelha, vi q em um dos locais é necessário corrigir e a correção já está feita. Obrigado.

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  6. Não, Capitu, eu não sabia... Q legal. Fiquei contente de saber por dois motivos: (1) pq posso parabenizar alguém e (2) pq sei q a crítica q eu fiz chegou a alguém ligado ao projeto.

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  7. Falando do projeto Poesia no Metrô, iniciativas semelhantes deveriam ser tomadas no Brasil todo. Nosso país carece muito de cultura!!

    twitter - @marcelomunizr

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