___Estamos nos aproximando do dia dos pais. Quanto mais perto chegamos, maior acaba sendo o número de anúncios, reportagens e relatos sobre o tema. De lojas a blogs, da imprensa aos comentários de famílias, cada dia mais se falará no assunto, até o domingo, dia da catarse coletiva.
___De todas as falas sobre o assunto, quase a totalidade (com exceção daquelas que criticarão o caráter comercial da data) será de comentários meigos. Claro, nada contra os comentários doces sobre o dia dos pais –, adoro meu pai e ele merece ouvir incontáveis elogios. Mesmo assim, para sair um pouco da abordagem monotemática, achei que valia a pena mostrar alguns comentários negativos sobre pais.
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___Na ficção de Admirável Mundo Novo, algumas personagens, vivendo em uma sociedade futurista “perfeitamente organizada” criticam alguns vícios do passado, como, por exemplo, as famílias.
___– Era uma vez – começou o Diretor – quando Nosso Ford ainda estava neste mundo, um rapazinho chamado Reuben Rabinovitch. Reuben era filho de pais de língua polonesa. – O Diretor interrompeu-se: – Suponho que sabem o que é o polonês, não?
___– Uma língua morta.
___– Como o francês e o alemão – acrescentou outro, exibindo com zelo seus conhecimentos.
___– E "pais"? – perguntou o Diretor de Incubação e Condicionamento.
___Fez-se um silêncio embaraçado. Vários rapazes coraram. Ainda não tinham aprendido a fazer a distinção, importante mas por vezes muito sutil, entre a indecência e a ciência pura. Um deles, por fim, teve a coragem de levantar a mão.
___– Os seres humanos, antigamente, eram... – Hesitou; o sangue subiu-lhe às faces. – Enfim, eram vivíparos.
___– Muito bem. – O Diretor aprovou com um sinal de cabeça.
___– E quando os bebês eram decantados...
___– Nasciam – corrigiu ele.
___– Bom, então, eram os pais... isto é, não os bebês, está claro; os outros. – O pobre rapaz estava atrapalhadíssimo.
___– Em uma palavra – resumiu o Diretor – os pais eram o pai e a mãe. – Essa indecência, que, na realidade, era ciência, caiu com estrépito no silêncio daqueles jovens, que não ousavam olhar-se. – A mãe – repetiu ele em voz alta, para fazer penetrar bem fundo a ciência; e, inclinando-se para trás da cadeira, disse gravemente: – São fatos desagradáveis, eu sei. Mas é que a maioria dos fatos históricos são mesmo desagradáveis.
___(...) (Pois é preciso lembrar que, naqueles tempos de grosseira reprodução vivípara, os filhos eram sempre criados pelos pais, e não em Centros de Condicionamento do Estado.)
___É falando novamente sobre o assunto que, pouco depois, se faz uma das melhores piadas do livro. Outra personagem, ensina aos estudantes:
___– Nosso Ford – ou nosso Freud, como, por alguma razão inescrutável, preferia ser chamado sempre que tratava de assuntos psicológicos – Nosso Freud foi o primeiro a revelar os perigos espantosos da vida familiar. O mundo estava cheio de pais – e, em conseqüência, cheio de aflição; cheio de mães – e, portanto, cheio de toda espécie de perversões, desde o sadismo até a castidade; cheio de irmãos e irmãs, de tios e tias – cheio de loucura e suicídio.
___Claro que é um modo de ver as famílias que a própria obra vai criticar. Mesmo assim, achei que era digno de nota pouco antes de uma data festiva.
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___E, para quem não se divertiu com a citação, fica uma extra – do Calvin.
tem um trecho de 'operação shylock' sobre pais muito bom tambem.
ResponderExcluirhttp://presencadapeste.blogspot.com/2011/04/orelhas-de-shylock.html
considero deixar link do proprio blog uma certa indelicadeza, mas se trata de philip roth, então..
uia, vim comentar e vejo que a rayssa chegou antes de mim. ela é uma pessoa legal para se passear pelo prédio em dias de escuridão. ;) (mentira, ela é legal por outros motivos também, que estão para além de blackouts aleatórios).
ResponderExcluiria só dizer que se o pai do calvin tivesse pensado em adotar um vira-lata ao invés de comprar um basset, a troca seria mais sensata. afinal, conheço bassets que fazem o menino parecer o mais calmo dos mortais!
Rayssa, minha querida, seu texto sobre orelhas de livro é muito bom. Além disso, a citação é completamente pertinente. Fico mesmo agradecido por você ter indicado essa postagem do seu blog.
ResponderExcluirPara mim, quando a citação do próprio blog é pertinente, interessante, condizente com a postagem do outro blog, linkar não é indelicadeza. Ruim para mim são só aqueles malucos, que vivem aparecendo, que comentam assim: “Adorei seu blog. Visite o meu http://xxxxxxxxxx”. Provavelmente nem leram o q eu escrevi, só vieram fazer propaganda do próprio blog. O que você fez foi exatamente o contrário, vc só linkou um texto e foi exatamente pq era um texto q tinha mto a ver com o q estava sendo falado por aqui. Obrigado novamente.
Olha...! Vc conhece a Rayssa, Babi? Ela vai à FFLCH na segunda? Se for, vê se me apresenta ela. (se bem q eu vou ser péssimo ao vivo: vou ficar tímido e não vou saber o q dizer...)
ResponderExcluireu não lembro de tê-la visto em alguma aula nesse semestre. nossa última interação escolar foi o compartilhamento de chocolate em contemporânea I... mas podeixar que se eu a vir com você por perto, faço as vezes de intermediadora dos "oi!" da vida real. ;)
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