15 de junho de 2012

A solução

___ O sol estava forte, o céu sem nuvens; não ventava. Nenhum pássaro parecia disposto a cantar. ___Tudo o que havia acontecido naquele dia parecia ruim. Toda aquela comida teria de ser jogada fora e todas aquelas horas carregando os sacos tinham sido jogadas fora. Seus braços e suas pernas doíam. A cabeça também. ___Infeliz, o pobre caipira afastou-se dos outros. Não era fácil se livrar do incômodo de uma noite mal dormida – catalizado por aquele dia problemático. Pensava no filho doente, na esposa que ele não suportava mais, no trabalho penoso. Queria resolver tudo de uma vez, mas não conseguia vislumbrar solução alguma. ___Viu, então, esquecida em um canto, uma faca. Apreciou-a: grande, afiada, razoavelmente limpa. Olhou para os lados, ninguém por perto. Pela primeira vez no dia, sorriu. ___Com a faca nas mãos, as coisas já pareciam mais calmas. Sem tirar os olhos da arma, sentou. Remexeu os bolsos. Respirou fundo e, alguns segundos mais tarde, sentiu-se bem melhor.

Almeida Júnior. Caipira Picando Fumo (1893).

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