10 de fevereiro de 2008

Um dos meus motivos para escrever e seus perigos

_____Por mais piegas que pareça, um dos motivos para que eu goste tanto de lecionar é, exatamente, saber que influencio bastante a vida das pessoas (espero eu, que de maneira positiva). Por mais que esse seja apenas um dos motivos, é um motivo bem importante para mim. Quando escrevo, esse objetivo também existe.

_____Não planejo, de maneira alguma, ditar regras para a vida de ninguém. Porém, é bem bacana imaginar que, por causa de um texto meu alguém acabou sendo mais educado no cinema, escolheu um livro melhor para ler, foi ver uma exposição, ajudou alguém, sentiu-se melhor, divertiu-se com a namorada ou, até mesmo, imaginar que uma postagem minha fez uma faixa de pedestre ser pintada. A Carol Costa, por exemplo, fez um texto bem divertido sobre doação de sangue e aposto que ficaria muito feliz se soubesse que alguém se sentiu estimulado a doar por causa dela.

_____Claro que sempre é bom tomar cuidado. Quando falei (na postagem do dia 31/I) sobre o bom público no cinema, lembrei que é muito gostoso ter muita gente no cinema em uma comédia, que o filme fica muito mais engraçado, mas que é horrível quando alguém “participa” da maneira que não deve, atendendo um celular, por exemplo. Para terminar a postagem, coloquei um vídeo divertido mostrando David Duchovny, no seriado Californication, sentando a mão em um cara que mal educadamente atendia o celular no cinema.

_____A mensagem principal da postagem era “Aproveitem o filme com outras pessoas, é bem mais divertido. Mas, por favor, não incomode o programa alheio.”. Porém, como bem lembrou meu bom amigo Alex, o que o David Duchovny fez também é absurdamente ruim. Atrapalhou mais o filme do que dez pessoas atendendo o celular ao mesmo tempo. Ver o vídeo pode ter sido válido para a reflexão e bem divertido, porém, é sempre bom lembrar, a atitude dele não deve ser imitada de maneira nenhuma.

_____É o caso do clássico Uma modesta proposta para prevenir que, na Irlanda, as crianças dos pobres sejam um fardo para os pais ou para o país, e para as tornar benéficas para a República, de Jonathan Swift. Grosso modo, a proposta de Swift para melhorar a vida na Irlanda é utilizar alguns bebês de famílias pobres como alimento. Horrível? Não. Quem ler com atenção o texto dele irá perceber que, na verdade, Swift está fazendo uma dura crítica à sociedade e como ela tratava os seus membros menos favorecidos financeiramente. Como ficção e crítica política, o texto de Jonathan Swift é ótimo. Porém, obviamente, ele não deve ser aplicado no mundo real. Assim como o vídeo do David Duchovny: é engraçado como ficção, interessante para se refletir, mas é algo horrendo na realidade.

_____Para mim, escrever é muito gostoso. Saber que fiz alguém refletir sobre algo, melhor ainda. Porém, ciente de que muitas vezes escrevo de forma agressiva, é sempre bom tomar cuidado para não passar a mensagem errada. Não quero ninguém se matando ou cozinhando bebês por causa um texto meu, porém é sempre maravilhoso imaginar que alguém parou para pensar por causa de um texto meu.

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