12 de agosto de 2008

As idéias que escorrem pelo ralo

_____Não sei os outros escritores do mundo, mas eu sou um escritor atormentado. Alguns parágrafos, do mais simples dos e-mails, às vezes, demora longuíssimos minutos para ficar pronto. Passo um tempão em cada frase. Travo, por dias, em uma palavra. Paro. Recomeço. Releio, cada texto, várias vezes.

_____Escrever é uma delícia, mas dá muito trabalho. Literalmente, cada pequena crônica que eu escrevo é feita de 10% de inspiração e 90% de transpiração. Mesmo assim, eu não disse, em momento algum, que a inspiração não é parte importantíssima dos meus textos. Eu preciso de uma idéia, necessito de um assunto, de um mote para escrever.

______Os assuntos estão em toda parte. As idéias estão pelo chão, é só tropeçar para encontrá-las. Consigo assunto para escrever enquanto leio, converso, vejo filmes. Quando danço, como ou ando de bicicleta. Em casa, no trabalho ou dentro de uma condução. Os assuntos surgem pelo simples fato de que eu vivo. Existo, logo tenho idéias.

_____Para evitar perder alguma boa idéia, vivo a rabiscar os marcadores dos livros com os assuntos que me surgem. Anoto na agenda ou em um caderno que estiver à mão. Fotografo o objeto/a situação que me deu uma idéia. Anoto no meu celular. Mando e-mail para mim mesmo. Todos esses artifícios são válidos e tem me ajudado a manter a média de um texto a cada dois dias aqui no blog.

_____Só existe um problema nisso tudo. Um dos lugares mais profícuos para que eu tenha idéias é no chuveiro. Debaixo da água, montes de assuntos bacanas surgem; formulo títulos, frases inteiras, parágrafos. Mais de uma idéia, motes que, se bem trabalhados, dariam ótimos textos aparecem com a maior desenvoltura, como se fossem as coisas mais obvias e naturais do mundo.

_____Onde está o problema? O problema é que no chuveiro eu não tenho nada para anotar. Alguém pode retrucar um “É só terminar o banho e escrever.”. Só que as coisas não funcionam bem assim.

_____Logo que eu desligo a água e começo a me enxugar parece que as idéias escorrem pelo ralo, parece que a toalha acaba absorvendo elas. Tento secar o corpo rapidamente, repetindo mentalmente o que me resta, corro para o papel mais próximo, mas, assim que anoto a primeira idéia, as demais não estão mais lá, fugiram. Por mais que eu me esforce, não consigo mais me lembrar, não consigo encontrá-las.

_____No fim das contas, não fico triste; perder assuntos me deu este texto. Sem contar que eu sei que, no próximo banho, vou encontrar mais algumas idéias novas.


P.S.: As mulheres bonitas também costumam me inspirar bastante. Entretanto, como elas me desconcentram, eu também acabo com as mãos vazias em pouco tempo (pelo menos vazias para a Literatura).

2 comentários:

  1. Não sou escritora mas... tbm passo por isso. Surgem várias idéias e afazeres no banho e, por mais que eu mentalize, qdo posso executá-las, elas desapareceram!!!

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  2. "Logo que eu desligo a água e começo a me enxugar parece que as idéias escorrem pelo ralo, parece que a toalha acaba absorvendo elas."

    Bravo, Ulisses! Bravo! Sinto o mesmo por aqui, rapaz. Escrever dói, não tem jeito. Só a prática para nos fazer acostumar com a dor.

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