_____Nos meus cursos de História, sempre adoto alguns livros de literatura para trabalhar com os meus alunos do Ensino Fundamental e Médio. Um autor que sempre faz sucesso é Conan Doyle. Ele e seu famoso detetive acabam sempre empolgando parte da sala que acaba atraindo a outra parte para a leitura sem que eu precise insistir muito.
_____Escolher um autor que os estudantes gostam ou ficam com vontade de ler com facilidade é sempre ótimo. O Marquês de Sade, por exemplo, graças à temática sexual, já atrai quase a classe toda; só que os pais implicam fortemente. Conan Doyle não tem esse problema. Os estudantes logo se identificam com o Sherlock Holmes ou com o mistério da história e os pais nunca torram o meu saco. O trabalho flui com facilidade.
_____Desta vez, entretanto, creio que eu posso arrumar alguma encrenca. Resolvi escolher o livro O signo dos quatro, o segundo romance de Doyle sobre Sherlock Holmes. O texto é ótimo para trabalhar com o século XIX, porém parte dele pode ser considera um tanto polêmica para trabalhar com estudantes do Fundamental.
_____Logo no primeiro capítulo, Watson começa narrando:
_____Sherlock Holmes tomou o frasco que estava sobre a borda da lareira e, abrindo um elegante estojo marroquim, tirou a sua seringa hipodérmica. Com os dedos longos, brancos e nervosos, ajustou a agulha delgada e arregaçou o punho esquerdo da camisa. Durante um momento pousou o olhar no pulso e no antebraço vigoroso, pontilhado de inúmeras picadas. Finalmente, espetou a ponta aguda, comprimiu o êmbolo, e reclinou-se na sua poltrona forrada de veludo com um longo suspiro de satisfação.
_____Havia muitos meses que eu testemunhava aquela operação três vezes por dia... (...)
_____– Que é hoje? – perguntei. – Cocaína ou morfina?
_____Ele desviou languidamente os olhos do velho volume alemão que estava a ler.
_____– Cocaína – respondeu. – Uma solução a sete por cento. Quer experimentar um pouco?”.
_____A polêmica vai ser boa para atrair os alunos, vai me dar material para discussão ou para chamar atenção quando necessário. Sem contar que pode tornar o século XIX mais interessante ainda. O problema é que quando isso cair nas mãos de algum pai de aluno, eu vou ter que perder um tempão me justificando.
_____Pelo menos eu sei que os pais são preguiçosos e, no máximo, vão reclamar do primeiro capítulo. Duvido que algum chegue ao final da obra, no ponto em que Doyle retoma o assunto da cocaína.
Nenhum comentário:
Postar um comentário