20 de outubro de 2009

Thomas Jefferson: democrata e senhor de escravos

_____Afirmo sem hesitar que O mundo assombrado pelos demônios, de Carl Sagan, foi um dos mais fantásticos livros que já li. Lindamente, com uma argumentação sólida e bem exemplificada, Sagan defende a Ciência e, com ela, a Democracia. No último capítulo da obra, “Os verdadeiros patriotas fazem perguntas”, o astrônomo expressa sua admiração por Thomas Jefferson e a explica:




_____Jefferson foi um de meus primeiros heróis, não por causa de seus interesses científicos (embora eles tenham ajudado a moldar a sua filosofia política) mas porque, talvez mais do que qualquer outra pessoa, foi responsável pela propagação da democracia em todo o mundo. A idéia – emocionante, radical e revolucionária na época (em muitos lugares do mundo continua a ser) – é que as nações não devem ser governadas pelos reis, nem pelos padres, nem pelos chefões das grandes cidades, nem pelos ditadores, nem por um conluio militar, nem por uma conspiração de facto dos ricos, mas pelas pessoas comuns, trabalhando juntas.



_____Aqueles que não admiram Thomas Jefferson o atacam pelo fato de que ele foi dono de mais de uma centena de escravos. Escravizar outros seres humanos não parece condizente com alguém que dizia que os homens são iguais, que lutou pela independência de algum lugar e que assinou um documento que expressava ser alienável o direito à “vida, liberdade e à busca da felicidade”. Ser dono de escravos não parece ser uma atitude democrática.
_____Por mais absurdo que pareça, entretanto, escravizar alguém pode ser democrático, sim. A ideia básica da democracia é que o povo (direta ou indiretamente) escolhe o que será feito. Se o povo, se a maioria do povo escolheu iniciar uma ditadura, queimar todos os ursinhos de pelúcia ou escravizar um grupo de pessoas, a decisão, em sua essência, foi democrática.
_____Provavelmente nem estava aí a justificativa de Jefferson para a sua horrível atitude. Mesmo assim, é bom lembrar: a liberdade é algo intrínseco à Democracia. A instituição democrática que Thomas Jefferson ajudou a instaurar retirou um tijolo a mais do muro da escravidão. Pena que ele mesmo não ajudou diretamente na derrubada da muralha.

7 comentários:

  1. Já está na lista dos proxs livros a ler.

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  2. É. A democracia é apenas um dos fatores da liberdade...

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  3. Aloha Ulisses!
    Outra consideração, dentro desta abordagem, é:
    - como eram tratados os escravos?
    Porque, certamente, se não fosse TJ, seria algum outro "dono".
    Andrew, o Homem Bi-Centenário, por princípios éticos, pediu sua alforria muito depois que ser tratado como um igual durante muito tempo.
    E que foi concedida, numa sociedade muito mais justa, e infelizmente apenas literária. Maso conceito é válido.
    Se TJ libertasse seus escravos, quanto tempo assim permaneceriam na então sociedade americana?
    Aloha!

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  4. É um ponto importantíssimo e interessantíssimo a ser levantado, Luis. O problema é que os adoradores do TJ juram q ele era um doce com os próprios escravos; aqueles que o odeiam, dizem q ele era simplesmente um hipócrita. Difícil achar uma fonte 100% segura.

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  5. O que se pode dizer ao que parece ser uma contradição é algo bem simples , negros não eram considerados homens naquele momento da humanidade , a escravidão negra diferenciou-se das outras pelo fato desta indicar o povo escravizado como desprovido de algo que a então sociedade achava essencial para o fato de ser homen ,e os negros não o tinham.

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  6. [...] ___Deixem-me dizer uma coisa, alternância no poder não tem porcaria nenhuma a ver com democracia. Fico boquiaberto de ver gente que, normalmente, não come grama falando uma bobagem dessas. ___A essência da democracia é seguir as resoluções da maior parte das pessoas. Todos podem dar sua opinião, o seu voto, mas a resolução final é seguir a vontade da maioria. Por mais absurdo que pareça, se a maioria resolver votar pela implantação de uma ditadura, essa decisão será democrática.* A ditadura implantada provavelmente não será democrática, mas a decisão de implantá-la terá sido. ___Para que todos possam exercer plenamente a democracia, a liberdade é uma condição praticamente sine qua non. Ela é necessária, pois, para saber a vontade da maioria, todos têm de ter liberdade para expressar as próprias vontades. É a única forma de se descobrir se aquele desejo é o preponderante ou não. E, vale lembrar, se a escolha da maioria for acabar com a liberdade, essa escolha ainda assim será democrática. [...]

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