2 de janeiro de 2010

Orgulho de ser bêbado

___De quando em vez, aparece algum leitor por aqui perguntando por qual motivo eu resolvi contar determinada história. Para quem pergunta educadamente, respondo que contei porque eu achei a história interessante, porque imaginei que poderia servir para que os leitores refletissem sobre algo ou porque seria possível contá-la de maneira divertida.
___– Puta vergonha! Os meninos aproveitaram que eu estava breaca e tiraram muitas fotos do meu decote e linkaram no Orkut. Dia seguinte, na faculdade, eu não tinha coragem de olhar para ninguém.
___Tempo é algo muito precioso. Se alguém me concedeu o privilégio da sua atenção, tenho quase obrigação de tentar contar uma boa história ou, pelo menos, contá-la de maneira interessante.
___– Naquele dia eu tava tão bebaço que dormi na rua. Acordei com um monte de gente passando, arrumados para o trabalho, e eu, lá, jogado. Até lasquei um dente e nem sei como.
___Em uma confraternização qualquer, acabei sentando em uma mesa em que praticamente todos bebiam. Depois de algumas rodadas, uma menina comentou que já estava ficando alta. Ao invés de parar, ela pediu outra bebida e começou a contar qual havia sido sua pior bebedeira. As pessoas em volta animaram-se com o assunto e começaram a contar os próprios casos.
___– Nunca havia bebido tanto. Todo mundo conta que eu fiquei rindo que nem uma tonta. O pior é que eu não queria parar de servir e acabei derrubando e desperdiçando um monte de bebida. Só me fizeram parar quando quebrei o copo e cortei a mão. Aqui, ó.
___As histórias não eram boas, nem engraçadas e muitas delas eram nojentas. Mesmo assim, cada bobo da mesa quis contar a sua. Sempre narrativas fracas, ridículas, humilhantes (tais quais os parágrafos em itálico que ilustram esta postagem), parecia uma longa sessão de autoflagelação religiosa.
___– Eu tomei tantas naquele dia que nem sei como cheguei em casa. Só sei que, na manhã seguinte, não tinha nenhuma parte do meu quarto que não estivesse cheia de vômito.
___O pior é que quando digo, em qualquer mesa, que beber parece algo extremamente estúpido, eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Sou tachado de ridículo, sofro enxovalhos e calo.


___Talvez me cale porque prefiro abrir a boca para contar histórias melhores.


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P.S.: Claro que não quero impedir ninguém de beber. Cada um que enfie goela abaixo o que bem entender. Só gostaria que as pessoas bebessem conscientemente, não porque lhes parece algo natural e muito menos porque isso faz com que elas pensem que ficam mais interessantes.
P.P.S.: A Skol produziu uma campanha publicitária intitulada Redondo é rir da vida e convidou os comediantes Rafinha Bastos e Danilo Gentili como seus garotos-propaganda.











___A graça dos vídeos parece a mesma das histórias de bêbado que as pessoas contaram na confraternização que eu frequentei (deveriam pesquisar se o álcool atrapalha a capacidade das pessoas de contar boas histórias). Mesmo assim, a campanha recebeu uma ótima paródia do comediante Ronald Rios acrescentando algumas reflexões sobre a graça das histórias de bêbado. Segue abaixo, devidamente censurado pela agência da cervejaria:









P.P.P.S.: Para terminar esta postagem abstêmia, cito o genial Jeff Mumm (original aqui):

12 comentários:

  1. Ulisses, tive pai alcoólatra e vou te dizer uma coisa: não é nada engraçado.
    Agora ficar na mesa cheia de gente que bebe e fica dando risada sem motivo ninguém merece... eu 'tô fora'!
    Forte abraço! ;-)

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  2. "sofro enxovalhos"
    "Para terminar esta postagem abstêmia"
    " parecia uma longa sessão de autoflagelação religiosa. "

    putz, cada palavra! o texto nao fica melhor botando palavras dificeis. Eu conheço todas mas é chato ler algo que poderia ser mais facil ou mais simples

    todo estrcitor comete o erro de escrever algo dificil pra parecer melhor, ledo engano. bom, fora isso gostei da "matéria" e espero mais e mais reportagens

    te adoro ulisses!

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  3. Obrigado pela atenção no comentário, Abstrato. Mesmo assim, tenho de dizer: não fiquei procurando palavras difíceis para tentar tornar o meu texto melhor ou para dar a ele uma aparência mais culta. A maior parte das palavras que coloco em meus escritos costumam ser naturais para mim. Imagino eu que elas deixaram de ser difíceis, de tanto que já as li/ouvi.

    Mesmo assim, deixe-me justificar cada um dos trechos que vc selecionou:
    - “parecia uma longa sessão de autoflagelação religiosa.”: não esqueça que sou historiador e que, em algumas épocas, em algumas culturas, os crentes se machucarem pela religião. Isso foi tão comum em alguns períodos da história humana que eu, como estudioso de História, já encontrei a expressão milhares de vezes. Resultado: “autoflagelação religiosa” não tem nada de incomum para mim.

    - “Para terminar esta postagem abstêmia”: usei “abstêmio” pq nem agora consigo encontrar uma palavra mais fácil. Eu queria fechar o texto com uma piadinha, como escrevi a postagem inteira falando “mal” do álcool, chamá-la de abstêmia (que não bebe) me pareceu a única solução. Veja se não ficaria estranho usar outra opção “Para terminar esta postagem que não bebe, cito o genial Jeff Mumm” ou veja como estragaria a piada colocar “Para terminar esta postagem ‘contra’ o álcool, cito o genial Jeff Mumm”. Entendeu?

    - “sofro enxovalhos”: esta talvez seja a única em que coloquei palavras mais complicadas de propósito. Deixe-me pegar o parágrafo todo para explicar. Eu escrevi “O pior é que quando digo, em qualquer mesa, que beber parece algo extremamente estúpido, eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Sou tachado de ridículo, sofro enxovalhos e calo.”. Escrevi essas frases estranhas para fazer uma brincadeira literária. Algumas dessas palavras fazem parte de um poema de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), chamado “Poema em linha reta” (http://www.releituras.com/fpessoa_linhareta.asp). Minha escolha de palavras, portanto, foi exatamente para causar uma surpresa para quem conhece o poema... Para quem não conhece, fica um pouco estranho mesmo. De qualquer modo, leia o poema e depois releia o que escrevi, fica bem mais legal.

    Bem... Eu sei que existem pessoas que usam palavras difíceis para parecerem mais cultas. Só que não é o meu caso e, aposto, tb não é de muitos bons escritores por aí. Eles simplesmente já leram tanto que se acostumaram com aquele vocabulário e sabiam que as palavras escolhidas eram as que se encaixavam mais perfeitamente naqueles trechos. Minha dica é: leia muito e não deixe de procurar as palavras que vc achar difíceis. Pode apostar que, com o tempo, elas vão se tornar cada vez mais naturais.

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  4. hehehe Ulisses, grande história, como toda boa história o é. Bem, posso dizer, sem sombra de dúvidas, como frequentador de mesas, redondas ou quadradas, regadas tanto a refirgerante, cafés, sucos ou ao bom e velho etanol - cerveja, vinho, etc. - já presenciei de tuido, muitas histórias protagonizadas por mim mesmo, inclusive muitas inincitáveis rsrsrsrs. Contudo, inúmeras vezes, mesmo etilico, nossa roda de amigos, historiadores, protagonizamos debates extremamente proveitosos. Sejamos nós ébrios ou abstêmios, nos deixamos rir, meditar e procurar manter nossos limites, inclusive qdo por quaisquer motivos queremos perder todos estes.
    Discordo dos que reclamam do palavriado rebuscado... o lexico está aí para ser usado e abusado rsrsrsrs
    Também discordo de alguém ser o chato que só bebe água... como libertário, a liberdade de cada um é áurea, e nem devemos dizer que discordamos disso - até pq vc deve beber refri, ou suco, não apenas água, né não? rsrsrsrsrs
    Bem, termino discordando da sua frase de que muitos bebem para parecerem mais interessantes, citando o grande filósofo Marx - Groucho Marx: "Eu bebo para fazer as outras pessoas interessantes".
    Abraço
    Arlei

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  5. [...] Orgulho de ser bêbado – Incautos do Ontem incautosdoontem.opsblog.org/2010/01/02/orgulho-de-ser-bebado – view page – cached O texto procurado encontra-se logo abaixo. Caso o seu gosto seja muito apurado e, portanto, o desejo de ler outros artigos do talentoso autor deste blog torne-se uma necessidade, conheça o restante do Incautos do Ontem clicando aqui. Para receber as novas postagens assim que elas forem publicadas, assine o RSS feed ou deixe o seu e-mail. Volte sempre. [...]

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  6. O pior é q tb já ouvi mta história boa de bebedeiras... mas, nesse final de ano, forçaram a barra... Acho q só peguei bebado chato. :-)

    Qto a frase do Groucho Marx, eu adorei. Fechou mto bem o texto.

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  7. Não bebo álcool, nunca bebi e vou ter que responder a minha vida inteira a razão: "Simplesmente acho o gosto ruim". Ninguém acredita! Nas festas eu fico sempre na coca e suquinhos!
    Tive um pai alcólatra também, mas nem sinto que essa seja A razão, apesar de ter sido uma merda a minha infância.
    Tenho um amigo que ontem perguntou quem tava no ano novo na festa na minha casa. ELE estava. Qual é a graça de não lembrar da noite? Não é a toa que tá sempre sozinho, nunca arranja namorada.
    Enfim, triste é quem não sabe beber e acha lindo tudo isso.
    Adorei o texto e esse vídeo do Ronald Rios.

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  8. Olha o q acontece com quem bebe: http://www.youtube.com/watch?v=mCeOERg4mmA

    ;-)

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  9. nossa, ótima postagem MESMO, o vídeo do Ronald Rios é ótimo... Talvez o dia de rir de tudo isso não seja hoje e nem nunca, né =P muito bom mesmo. Como gente aqui em cima, digamos que eu "me identifiquei" com a postagem. É, pais e pais... ;P
    E sem comentários pro tal do "palavras difíceis" :P... ai ai, essa gente o.o"

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  10. faço parte do time que não bebe. uma vez um sujeito veio me perguntar pq eu nao bebia, e eu, séria, respondi: "porque eu tomo antipsicótico e se misturar, posso me transformar em uma psicopata".
    nunca mais ninguém veio me oferecer cerveja ou pergunar pq eu nao bebo.
    beijo!

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  11. claudia fernanda cordeiro30 de junho de 2010 às 19:34

    meeu muito show altas vezes eu bebi mais agora parei de beber quero dizer de beber pouco né!!! rsrsrs altos micos normal se não fosse eu quem faria os outros rirem bjox

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