___Lendo, vendo uma exposição, andando na rua, conversando no metrô, eis se não quando, aparece a Ideia. Um pouco tímida, olhando de lado, fingindo que não está lá; calejado, o Autor arruma qualquer lugar em que possa anotar e pega o nome, telefone, e-mail da doce Ideiazinha.
___Depois de entrar em contato, encontros são marcados. O texto vai surgindo fácil, interessante. Até mesmo um título o Autor conseguiu – isso ainda no terceiro parágrafo do rascunho. Tudo parece andar às mil maravilhas.
___Querendo aprofundar o relacionamento, o autor começa a escrever o texto verdadeiro. Começa a escolher as palavras com atenção, a moldar cada uma das frases, a pesquisar. Então acontece a desgraça: em meio a pesquisa, o Autor descobre que aquela Ideia linda, para a qual ele havia dedicado horas, pagado jantar, mandado flores, aquela Ideia de que ele tanto gostava, é inconsistente.
___Ele deveria ter percebido. Estava tudo indo bem demais. Revoltado, pega o telefone, liga, esbravejando, tarde da noite, para a pobre Ideia. A discussão leva horas. Impaciente, o Autor grita:
___– Sua dissimulada! Capitu! Como assim você não me contou sobre a sua inconsistência.
___Apesar de triste, a Ideia tenta se fazer de durona. Engole o choro e retruca:
___– Como? Eu nunca escondi minha inconsistência. Ela sempre estava aí para quem quisesse ver. Você que não olhou direito.
___O Autor sabia; era verdade. Se ele tivesse prestado mais atenção, lido um pouco mais antes de se jogar em cima da Ideia, ele teria percebido. Infelizmente, ingênuo, ele se entregou e só veio a notar o problema quando aquele belo relacionamento já havia caminhado texto adentro.
___Na cama, o Autor vira para todos os lados, não consegue dormir. A Ideia, mesmo que inconsistente, não lhe sai da cabeça. Sem outro remédio, ele levanta da cama, abre a garrafa de sátira, mistura com um pouco de ironia, amassa uma rodela de humor no fundo do copo e coloca duas pedras de metonímia. Toma tudo de uma vez. Repete a dose, mistura com alguns outros elementos. Lá pelo quarto copo, o Autor percebe que talvez dali saia algo mais consistente. Esperançoso, talvez alto pelo efeito da bebida, ele se lança em mais um texto.
19 de novembro de 2011
Escrever, verbo intransitivo
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É tem umas idéias que parecem boas na cachola, mas quando a gente verte para o papel ou para a tela do computador fica faltando algo. Tem coisas que eu escrevo que algumas vezes ficam em "stand by" (e pela metade do caminho) por vários dias até conseguir completar ou decidir abandonar de vez.
ResponderExcluirEis aqui um verdadeiro Gigolô das Idéias!
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