21 de dezembro de 2012

Competência médica

___Não costumo esconder minhas opiniões negativas sobre homeopatia. É um pouco difícil levar a sério um tipo de “medicina” que existe desde o século XVIII e não conseguiu nem produzir testes duplo-cegos decentes para mostrar a eficácia dos “medicamentos” comercializados. Exatamente por isso, faço de tudo para me manter longe dos “profissionais” que trabalham com esse tido de engodo.


___Finalmente, agora, depois dos 30, marquei uma consulta com o meu primeiro Clínico Geral. Como não conheço nenhum, escolhi o médico simplesmente pelos horários e pela distância.


___Ao entrar na sala de espera do consultório, já tive meu primeiro calafrio: quadros e símbolos utilizados pelo pessoal da medicina alternativa povoavam o local. A secretária perguntou se era a minha primeira consulta com o Dr. Samuel*; quando respondi positivamente, ela me entregou uma ficha para preencher.


MIB - Teste


___Sentei para escrever. Martelando um prego nas minhas esperanças, li no topo da ficha “Dr. Samuel Torquemada – Clínico Geral e Homeopata”. Apesar disso, parecia uma ficha normal: nome, idade, sexo, estado civil... Até mais ou menos a oitava pergunta: religião. Tentei imaginar justificativas – “Para um médico, isso deve ser importante. Se eu for Testemunha de Jeová, por exemplo, não vou poder receber sangue. Deve ser isso...”. Só que as perguntas bizarras não pararam por aí: hobby, cor preferida, signo. Sério mesmo que o Conselho Federal de Medicina (ou o Regional, não faz diferença) deixa alguém assim clinicar?


___De qualquer modo, eu já estava lá. Entreguei a ficha preenchida. A secretária levou para o médico e, algum tempo depois, fui chamado.


___Fui recebido de maneira cortês. O médico começou a preencher uma ficha própria, com o auxílio da que eu havia preenchido e me fazendo algumas perguntas realmente relevantes como “Toma algum medicamento?” e “Casos de doenças graves na família?”. Até que ele parou na leitura de uma das minhas respostas. Como um juiz saído da ficção de Albert Camus, o médico me perguntou: “O senhor não acredita em Deus?”.


___Impassível, respondi:


___– Não. E digo mais: minha cor preferida é o verde.


__________
* Nome fictício.

 

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