11 de agosto de 2013

A humilhação pública e os seus limites

___Viralizou, faz uns dias, um vídeo em que algumas pessoas, ao encontrar o imbecil do deputado Marco Feliciano em um voo, resolveram cantar a música “Robocop Gay”, dos Mamonas Assassinas, para “homenagear” todo o preconceito do político do PSC. Todo mundo que eu vi compartilhando o vídeo, tratou-o de maneira positiva. Pessoalmente, acho ótimo que incomodem o pastor Feliciano, acho que ele tem de ser achincalhado o tempo todo mesmo, mas o que aconteceu no vídeo me incomodou. 
___Por mais positivo que seja constrangerem publicamente um homofóbico como o Feliciano, acredito que os manifestantes passaram do limite em um ponto: tocar no pastor. 
___Talvez alguém diga: “Ah, Ulisses, seu mala, o máximo que fizeram foi dar uma passadinha de mão no cabelo dele.”. E eu vou retrucar: E por acaso tocar na pessoa é pouco? Você vai defender o homofóbico que “só quis dar um empurrãozinho” no homossexual para “ele parar de ser tão afetado”? Vai achar correto o machista que “só” deu uma passada de mão na moça porque “ela estava pedindo! Olha a roupa dela!”?
___“Ah, mas é diferente! Aí é uma agressão.”. Eu pergunto onde está o limite da agressão? Se o cara é homofóbico e racista como o Feliciano nós podemos passar a mão no cabelo dele e só? Ou também dá para provocar passando a mão na bunda? Vale dar um tapinha na cabeça? E um murro na cara? Digam-me, queridos, qual é o limite?
___A vantagem de achincalhar, de se humilhar publicamente um homofóbico, é que ele aprende, cada vez mais, a não demonstrar esse tipo de coisa. O homofóbico que está sendo humilhado e outros que estão observando passam a ter receio de mostrarem a sua homofobia, aprendem que as outras pessoas não veem suas ideias heteronormativas como aceitáveis. Com sorte e com o passar do tempo, a homofobia diminui. 
___Já um toque tem uma boa chance de levar a um retoque. Uma mão no cabelo tem uma chance bem maior de resultar em um soco na cara. Não que um achincalhe verbal não tenha, mas palavras provavelmente serão respondidas com palavras, o que só vai expor mais ainda os preconceitos do homofóbico, só vai, mais ainda, torná-lo mal visto. 
___Longe de mim defender um escroto como o Feliciano, mas acho bom ficar bem atento às formas de atacá-lo. Como eu bem disse em outra postagem, é bom tomar cuidado para não ser tão criminoso quanto o próprio bandido.
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P.S.: Falando em tocar na pessoa, para demonstrar como isso é uma agressão muito maior, tenho um vídeo para linkar. Caco Barcellos, um dos melhores, mais humanos e corretos jornalistas do país, um cara que sempre lutou pelas minorias,* foi expulso de uma das manifestações contra o aumento das passagens simplesmente por trabalhar, atualmente, na Globo.
___Calmo, Caco Barcellos percebeu que a massa dos manifestantes era formada simplesmente por um bando de ignorantes quem nem imagina o quanto o trabalho que ele já fez é importante. Barcellos sabia que aquela reação contra ele era feita por pura ojeriza à Globo, que quem se manifestava contra ele, não o conhecia; para os manifestantes, ele era apenas um repórter genérico da Globo. Notem pelas reações do jornalista que o que realmente incomodava eram os toques, que, como é bem fácil perceber, facilmente poderiam chegar a uma agressão mais grave.

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* Recomendo fortemente seus lindíssimos livros Abusado, o dono do morro Dona Marta e Rota 66 – A Historia da Policia que Mata.

Atualização (13/VIII/2013): Comentário lindo do pessoal do Bule Voador

Um comentário:

  1. Quando vi pessoas que eu admiro postando o vídeo nas redes sociais, eu fiquei muito triste e não entendi porque essas pessoas enxergaram algo bastante diferente do que eu enxerguei: violência, infantilidade e incômodo em pessoas que não tinham nada a ver com o momento.
    Infelizmente foi uma iniciativa vazia que só faz com que esse tal de Feliciano ganhe dinheiro processando dois rapazes que só querem mostrar aos amigos no facebook que defendem uma causa.
    A velha vontade de integrar um grupo está atingindo de forma errada muitas pessoas por aí...

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