___Depois de assistir Filadélfia com uma amiga, começamos a conversar sobre doenças degenerativas, mortes dolorosas e outros assuntos tristes. J., física de formação, ateia e cética, começou a defender o direito à eutanásia. Concordei e a conversa continuou rolando, até que ela disse que morre de medo de ficar doente daquela maneira.
___– Quer saber? Se eu pegasse uma doença degenerativa grave, que não tivesse cura, eu tentaria de tudo. Até coisas que, hoje, saudável e consciente, eu sei que são bobagens.
___– Como o quê? –, perguntei.
___– Ah, sei lá. Homeopatia.
___– Então você também aceitaria rezar e ir à missa todo domingo?
___– Eu tô falando sério! –, respondeu ela, exasperada.
___– Eu também estou falando sério, J.. Se você disse que vai tentar de tudo, por que não tentar pedir para uma divindade salvar você?
___– ... –, ela pensou por alguns segundos e disse: – Quer saber, Ulisses?
___– Hum?
___– Você é um babaca.
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