1 de maio de 2015

Tatuagem e etiqueta II

___No final do ano passado, eu publiquei um texto por aqui perguntando, para pessoas tatuadas, qual é a etiqueta para se olhar tatuagens de desconhecidos em lugares públicos. Agradeço às respostas, se bem que ainda mantenho minhas dúvidas. 


___Hoje, venho aqui relatar um pequeno ocorrido sobre tatuagens e dividir com os leitores minha reação. Vamos à narrativa.

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___Encontrei uma moça que estudou comigo no colegial. Aquele tipo clássico de encontro de antigos conhecidos: ela gritou meu nome, eu olhei, demorei um pouco para reconhecê-la e, depois de alguns minutos, estávamos relembrando o passado e comentando sobre a vida pós-escola. 
___Ela, que sempre foi muito tradicional e recatada na escola,* estava bem mais solta. E, também, estava toda tatuada. Comentei que havia gostado das tatuagens nos braços. Animada, ela se virou, levantando o cabelo e dizendo “Essa foi a minha última!”. Eu, que gosto de ver tatuagens, fiquei sem reação: o carpe diem que ela havia tatuado no pescoço estava escrito errado. 
___Fui assolado por um turbilhão de pensamentos. Eu deveria falar alguma coisa? Adiantaria falar de um erro em uma tatuagem, em algo que seria difícil de ser apagado ou corrigido? Se soubesse do erro, ela tentaria saná-lo ou só ficaria chateada? Se ela não soubesse, a tattoo poderia virar motivo de escárnio? 
___Quando ela se virou, com o olhar ávido, esperando para ver minha reação, engoli em seco e disse:
___– Acho muito legais essas letras rebuscadas que são usadas nas tatuagens...
___Não sei se agi bem. Mas, pelo menos, ela sorriu. 

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P.S.: Aproveitando o ponto, vale lembrar que erros também podem ser propositais. Ou alguém pode afirmar, com certeza, que o fuck the system da tatuagem acima não foi uma escolha completamente consciente? 

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* Na década de 1990. 

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