31 de agosto de 2016

Patriotismo... e sangue

___Em meio a uma competição das olimpíadas, aparece um argentino competindo. As pessoas, em frente à televisão, fazem comentários do tipo:
___– O brasileiro pode até perder, mas é bom que fique na frente desse argentino. 
___– É bom que todo mundo fique na frente do argentino. 
___Uma das pessoas levanta a voz e diz:
___– Parem de falar isso! Eu tenho sangue argentino!
___– Sério?
___– Claro. No meu para-choques. Atropelei um hoje de manhã. 
___Todos caem na gargalhada. 

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___Desde que o meu sobrinho nasceu, a minha irmã tem a mania (que eu adoro) de compartilhar com a família as coisas fofas que ele faz. Recentemente, por conta das olimpíadas, minha irmã compartilhou um vídeo com o meu sobrinho, em pé, com a mão no peito, enquanto o hino nacional tocava na televisão. Todo mundo achou a coisa mais fofa do universo e, efusivamente, elogiaram a professora da creche: “Tá ensinando direitinho!”. Sinceramente, achei horrível.  
___É correto ensinar um menininho de dois anos e meio a “portar-se corretamente” durante o hino? A honrar a pátria? A amar o seu país? A pobre criança não é capaz de discernir perfeitamente o que é certo e o que é errado e, nesse estágio do desenvolvimento, já sofre essa imensa lavagem cerebral. Não consigo achar bonito. Acho medonho. 
___Mais ainda, como minha irmã (e o restante da minha família) pode achar correto ensinar – em uma fase em que a criança não questiona nada – todo esse amor à pátria? Não passa pela cabeça deles que crescer nacionalista pode significar, no futuro, lutar e morrer em uma guerra? 
___Mesmo sem apelar para um exemplo tão sangrento, é exatamente essa forma irrefletida de patriotismo que leva as pessoas a rejeitarem os argentinos. Ou algum bobo que xinga as pessoas da Argentina sabem explicar o motivo da rixa? 
___Ainda é cedo, mas não tenham dúvidas que, assim que for possível, vou conversar tudo isso com o meu sobrinho. E, se ele quiser escolher ser patriota, que seja. Desde que ele escolha, não os outros.