___Acabei de assistir The Greatest Showman (O Rei do Show, aqui no Brasil) e me diverti, achei fofo, chorei. É um filme leve que acerta em muitos elementos: uma história gostosinha de assistir, músicas divertidas e cenas de dança e circo simples, mas muito bem filmadas e editadas.
___Ter gostado do filme não o torna perfeito e isento de críticas. Comentar sobre as diferenças entre a verdadeira história de P. T. Barnum e a narrativa boazinha do filme, pode até ser um bom caminho. Não é necessário, claro, fazer uma crítica como a do Cesar Soto para o G1, que estava tão mal-humorado na hora de escrever que deve ter visto o filme comendo jiló ao invés de pipoca.
___O roteiro de The Greatest Showman acerta bem ao refletir sobre desigualdade, privilégio, tolerância, preconceito, exclusão e afins. Em determinado ponto, a personagem de James Gordon Bennett, o fundador do New York Herald e ferrenho crítico do circo, diz que “Colocar gente de todos os tipos no palco com você, [senhor Barnum, pessoas] de todas as cores, formatos, tamanhos, apresentando-os como iguais... Outro crítico poderia até chamar de ‘uma celebração da humanidade’.”. Essa é uma das mensagens principais do filme: aceitar os diferentes, os excluídos, como iguais. E é aí que eu acho que vale a pena tecer a mais pesada crítica à obra.
___É muito bonito fazer todo esse discurso de aceitar os outros, mesmo que a sociedade preconceituosa não o faça. Porém, o próprio filme não faz isso.
___The Greatest Showman conta com duas histórias românticas: a de P. T. Barnum com Charity Barnum e a de Phillip Carlyle (Zac Efron) com Anne Wheeler (Zendaya). O romance de P. T. e Charity realmente aconteceu, porém o de Phillip e Anne é completamente ficcional. Não apenas o romance é ficcional, as personagens também são. Phillip e Anne nunca existiram (ao contrário do casal Barnum). É exatamente por isso que o belo discurso do filme de aceitar os excluídos cai por terra.
___Phillip e Anne são bonitos e jovens, um casal típico para uma historinha romântica em um filme. Aí está a covardia do filme. Mesmo sendo um casal inter-racial, algo realmente atípico e problemático para o século XIX, em um filme atual vira apenas um belo par romântico. Não condiz com a mensagem do filme. Funcionaria de maneira muito mais interessante um par romântico entre Phillip Carlyle e Lettie Lutz, a mulher barbada.
___Eu sei que isso chocaria, que poderia desagradar uma boa parcela do público, mas combinaria bem mais com a ideia da obra. Seria mais corajoso, mais bonito e muito mais didático. Caso contrário, vira um aceitar os excluídos apenas dentro de certos limites.
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P.S.: Se você é uma pessoa doce e acha que não existem pessoas no mundo que ficariam chocadas e revoltadas se um dos pares românticos do filme fosse um homem dentro dos padrões de beleza e uma mulher acima do peso e de barba, acho que vale a pena dar uma pesquisada. O seriado Mike & Molly, sobre um casal obeso, logo na sua estreia foi criticado por Maura Kelly, então colunista da Marie Claire, que disse “Acho que ficaria enojada se tivesse que assistir a dois personagens com quilos e quilos de gordura se beijando”.
P.P.S.: Já se você é o tipo de pessoa que acha que Lettie Lutz não poderia ficar com ninguém, tenho uma curiosidade para contar. Annie Jones, a mulher barbada que realmente trabalhou para P. T. Barnum no século XIX, foi casada. Mais do que isso, ela se casou com Richard Elliot em 1881 e divorciou-se dele em 1895 para se casar com William Donovan.
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