22 de junho de 2018

Relojoeiro em tempos de Copa do Mundo

___Já faz uns bons 10 anos que vou ao mesmo relojoeiro trocar a bateria do meu relógio de pulso. Pouco depois que percebo que o relógio está atrasando ou para, eu caminho até a relojoaria que fica perto de casa e peço para que ele troque a bateria. 
___O ritual é sempre o mesmo: com uma infinita calma ele se senta, olha o relógio com uma lupa, coloca no ouvido, abre o relógio, olha novamente com a lupa, testa a bateria, troca, limpa e me devolve. Eu apenas observo e fico ouvindo a rádio que toca pelos alto-falantes da loja. 
___Fui trocar a bateria do meu relógio nesta semana. O diferente é que, além da música tocada pelos alto-falantes da loja, em cima do balcão ainda havia um rádio ligado, sintonizado em um dos jogos da copa do mundo. Apesar da mesma calma do relojoeiro, a dissonância no pequeno espaço da loja estava bem incômoda. 
___Quando o relojoeiro terminou o serviço e veio me entregar o relógio, perguntei:
___– Por que o senhor deixa a música tocando junto com o jogo de futebol?
___– Porque alguns clientes gostam de ouvir a música. –, respondeu-me o relojoeiro sem se abalar.
___– Ah, tá... Então por que o senhor deixa o jogo de futebol ligado junto com a música?
___Como não podia deixar de ser, ele me respondeu: 
___– Porque alguns clientes gostam de ouvir o jogo. 
___Sorrindo, dei-me por vencido. Paguei a troca da bateria e saí da loja, para a dissonância própria das ruas de São Paulo. 

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