Naqueles
segundos em que duas pessoas semidesconhecidas ficam trancadas dentro de um
elevador, muitas vezes rola um silêncio sem graça; em outras, aprofunda-se em
um interessantíssimo tratado de meteorologia – “Tá quente, né?”. Não são essas as
estratégias de uma vizinha que, recentemente, mudou-se para o meu prédio.
Tentando aparentar
intimidade, logo no primeiro encontro que minha esposa e eu tivemos com essa
vizinha, após as protocolares trocas de cumprimentos, ela já mandou:
– E as
crianças, como estão?
Estranhando
um pouco e meio constrangidos, respondemos um “Bem...”.
Nos encontros futuros, o “E as
crianças?” se repetia e o diálogo nunca caminhou muito mais que isso. Até que,
em um final de semana, no início da noite, nós chegamos ao
prédio, chamamos o elevador e, enquanto esperávamos, a vizinha chegou:
– Boa noite.
– Boa noite. Tudo bem? – respondi,
enquanto abria a porta do elevador.
– Tudo. E as crianças, como estão?
– Ah, hoje devem estar um pouco
chateadas. Passamos a tarde toda fora e elas ficaram sozinhas.
Estranhando a informação, a
vizinha ficou um segundo parada depois de apertar o botão do sétimo andar. Virou-se,
olhou nos olhos da minha esposa e perguntou:
– Mas... são crianças ou
adolescentes?
– ... Éééé... São cachorros.
– Ah, tá.
Subimos o resto da viagem em
silêncio.
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