12 de fevereiro de 2007

Bárbaros!

Quem? Os godos ou os romanos?


_____Nem preciso perder meu tempo dizendo que achei um absurdo o caso do garoto João Hélio Fernandes, de 6 anos, que foi morto após criminosos terem roubado o carro de sua mãe e arrastá-lo por 7 quilômetros. Entretanto, sou obrigado a lembrar: todo esse escarcéu só está acontecendo porque a família do menino tinha um pouco de poder aquisitivo. Se os pais de João Hélio fossem uns pés rapados, a imprensa não teria feito nem um décimo dos comentários que fez e todos que estão tristes e revoltados não teriam lido a notinha de 5 linhas sobre o incidente que talvez tivesse saído em dois ou três jornais.

_____Antes que alguém me odeie, acho que vale bastante a pena dar uma olhada, com atenção, na letra da música “Classe média”, de Max Gonzaga, e refletir bastante sobre como encarar um fato que realmente é triste. Atenção, principalmente, para a parte que grifei.

Classe Média (Max Gonzaga – 2004)

Sou classe média

papagaio de todo telejornal

eu acredito

na imparcialidade da revista semanal


sou classe média

compro roupa e gasolina no cartão

odeio coletivos e

vou de carro que comprei a prestação


só pago impostos

estou sempre no limite do meu cheque especial

eu viajo pouco, no máximo um

pacote CVC tri-anual


mas eu “tô nem aí”

se o traficante é quem manda na favela

eu não “tô nem aqui”

se morre gente ou tem enchente em Itaquera

eu quero é que se exploda a periferia toda


mas fico indignado com Estado

quando sou incomodado

pelo pedinte esfomeado

que me estende a mão


o pára-brisa ensaboado

é camelô, biju com bala

e as peripécias do artista

malabarista do farol


Mas se o assalto é em “Moema”

o assassinato é no “Jardins”

e a filha do executivo

é estuprada até o fim


aí a mídia manifesta

a sua opinião regressa

de implantar pena de morte,

ou reduzir a Idade penal


e eu que sou bem informado

concordo e faço passeata

enquanto aumento a audiência

e a tiragem do jornal


porque eu não “tô nem aí”

se o traficante é quem manda na favela

eu não “tô nem aqui”

se morre gente ou tem enchente em Itaquera

eu quero é que se exploda a periferia toda


toda tragédia só me importa

quando bate em minha porta


porque é mais fácil condenar

quem já cumpre pena de vida

P.S.: Para quem gostou, é possível fazer o download da música em mp3 ou assistir ao vídeo de “Classe média” cantada ao vivo. Diga-se de passagem, o disco todo (com uns sambas ótimos) está disponível no site de Max Gonzaga.