19 de maio de 2009

Culpado por ser inocente

_____Querendo ajudar, ao mesmo tempo, os meus alunos, um bom autor (o Alex Castro) e uma editora independente (Os Viralata, do Branco Leone), adotei o livro LLL – Crônicas com uma de minhas salas. O texto e as reflexões do Alex, como sempre, são ótimas e o resultado está sendo melhor que eu esperava: mesmo pedindo, por enquanto, para que lessem apenas algumas das crônicas, quase a totalidade da turma, em menos de um mês, leu a obra inteira.
_____Como o livro é de uma editora independente, não existem tantas opções para adquiri-lo – a forma mais comum de obtê-lo é por encomenda (a editora envia o livro pelo correio para a casa do comprador). Para facilitar para os meus alunos e tentar angariar (para eles) um desconto, negociei com o autor e com o responsável pelos Viralata. Consegui o desconto, avisei para os alunos, peguei o dinheiro deles e fui até a casa do Branco pegar os livros.
_____Sabendo bem como são os textos do Alex, eu já fiquei preparado para algumas polêmicas ou, até, pequenas rusgas com a direção do colégio e/ou os pais dos alunos. Certas reações, entretanto, acabaram por me desagradar mais ainda. Além de aguentar o que eu já esperava, ainda tive de ouvir perguntas como “Quanto você está ganhando com a venda do livro?” ou, pior, gente que viu desonestidade intrínseca ao meu ato e já veio atacando – “Você deveria se sentir mal de pegar o dinheiro dos estudantes para você.”. Alguns conhecidos, mais condescendentes e preocupados comigo, disseram “Não faça isso. Ir comprar o livro para os alunos só vai trazer desconfiança para o seu lado.”.
_____Pára tudo! Meu trabalho como professor de História é ensinar, não? Cacete. Isso é exatamente o que eu estou fazendo: consegui fazer com que uma sala toda lesse - de boa vontade - o livro solicitado e estou utilizando a obra para diversas reflexões históricas interessantes. Não é exatamente com isso que as pessoas deveriam estar preocupadas?
_____Quando negociei o preço do livro, corri atrás do autor, fiquei andando com dinheiro alheio e fui buscar o livro na editora (e, depois, carreguei a caixa de livros no metrô para entregá-los para os alunos na escola), eu só perdi meu tempo (e dinheiro), arrumei trabalho extra e me cansei. Como pode alguém pensar que eu estava buscando algum lucro pessoal? As pessoas são loucas? Eu sou professor por escolha própria; gosto de ser professor. Se eu almejasse ser rico, faria outra coisa da vida.
_____Simplesmente me esforcei para fazer meu trabalho direito (o que, pelo visto, tenho conseguido). Não entendo de onde vem toda essa desconfiança. Todo mundo é desonesto e vê desonestidade em tudo? Só eu que não? Mas, pensando bem, não tenho mesmo motivo para me espantar. Em um mundo em que um delegado competente e correto como o Protógenes só se ferra ao fazer seu trabalho, é óbvio que um professor que tenta mesmo ensinar vai se dar mal.

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P.S.: Aproveito para agradecer ao Branco que, alem de ter sido extremamente atencioso e profissional, acabou por me receber muito bem em sua residência.

15 comentários:

  1. Sabe o que acontece Ulisses? As pessoas não estão acostumadas com gente de bom coração e com boa vontade... E quando se deparam com uma atitude dessas acham logo que se tira proveito de alguma forma afinal "O cara está fazendo isso de graça?". É assim que pensam, que hoje ninguém faz algo sem cobrar, que não existem mais favores, que não há mais atos como os seus... Parabéns pela sua iniciativa e maravilhosa forma de trabalhar!

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  2. Ulisses,
    tudo isso é resultado do espelho que nos envolve, que cerca cada um de nós. Quem olha pra você e vê um ladrão em potencial, infelizmente, não passa disso: um ladrão em potencial. De maneira análoga, você imaginou que as pessoas não fossem duvidar da sua honestidade porque você não duvidaria, sem motivo, da honestidade alheia.
    É tudo culpa do espelho. O maldito espelho. O bendito espelho.
    Aproveite o espelho, olhe para si mesmo e siga em frente.

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  3. Ulisses, está muito claro o que acontece: estas pessoas que lhe acusaram de desonestidade são, na verdade, pessoas desonestíssimas. E, ainda por cima, burras, estúpidas, incoerentes e desrespeitosas.

    Bastava perguntar para um aluno o valor pago pelo livro, acessar o site dos Viralata e ver o valor individual do livro e todo o resto que você se refere (deslocamente até o branco, metro, seu trabalho, etc) vem junto no cálculo em uma cabeça normal com mais de dois neurônios - que falta a estes imbecis críticos.

    Assino embaixo o que o Branco e a Vandressa escreveram acima.

    Se essas pessoas tivessem um botão de autodesintegrar, era melhor que o apertassem.

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  4. Ligue um es-adof e replique-o aos infelizes.
    Assim se arrasta a humanidade...

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  5. Melhor que indecente por ser culpado...
    abçs

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  6. Me lembrei de uma reunião de pais na escola de minha filha de 9 anos de uma (super?)mãe reclamando à professora das leituras de Tintin recomendadas por esta, pois num dos episódios havia o contrabando em latas de Ópio. Em que mundo esta mãe vive?

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  7. Eu ia dizer que tudo isso não passa de reflexo dessa sociedade desonesta onde a gente vive e lhe felicitar por ser parte das felizes exceções, mas já disseram isso antes de mim.

    Então o que me resta é dar-lhe os parabéns por ser um professor tão dedicado, que está realmente preocupado com a aprendizagem e o senso crítico dos alunos. Pena que professores dedicados como você sejam raros.

    Por isso, siga em frente! Não deixe que a mesquinez dos outros atrapalhe seu belo trabalho com os alunos.

    Abraços

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  8. Oi Ulisses

    Eu concordo com o Branco e o Rafael quando dizem que há má-fé nas pessoas que sugerem desonestidade no que vc faz. Na pior das hipóteses, elas não podem provar nenhuma das acusações e ofensas. Então que permaneçam caladas, desconfiadas ou não.
    Por outro lado, eu acho que é triste e razoavelmente esperado que as pessoas não suponham apenas boa vontade de sua parte, sendo professor ou não. Culturalmente nós temos a política do gerson, do benefício próprio acima dos demais. E, participando ou não desse tipo de atitude, espera-se do outro essa malícia. É de extrema maldade proferir qualquer supeita sobre você, mas cogitar e sustentar a suspeita, ainda que silenciosamente, pode ser inércia mesmo. Preguiça mental, senso comum, cristalização.

    Além de orgulhar-se de si mesmo (coisa que vc certamente tem que fazer) imagino que como historiador e pensador da matéria humana, vc consiga usar essas situações pra olhar mais e melhor pra o que nós somos, e fazer com que seus alunos também façam isso.

    um abraço, ulisses

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  9. O que a gente precisa fazer numa hora dessas é não dar atenção. Não deves nada a ninguém! Se querem desconfiar, que desconfiem , mas vir tirar satisfações sem saber ao certo é ridículo! Com certeza as pessoas que fizeram esses comentários, teriam agido dessa maneira e acham que, por isso, todos os outros também agiriam.

    Eu amei o livro, é muito bom :D
    E você está com certeza conseguindo cumprir seu papel de professor.
    Pela primeira vez li um livro pra escola, sem que tivessem pedido, e
    suas aulas são as melhores aulas de história que eu já tive =)

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  10. Aloha Ulisses!
    "Toda boa ação tem a sua punição".
    Nota Mental: adicionar "gigolô de livros" na ficha do Ulisses. Para futura referência.
    Aloha!

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  11. Analisando o caso, todos sairam ganhando. Inclusive você, com a melhoria no aproveitamento das aulas...

    Mas infelizmente, com essa "Síndrome de Trouxa" que o brasileiro tem, se tiver dinheiro na jogada todo mundo acha que tem alguém querendo se dar bem...

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  12. Cassete é pouco, Ulisses.
    '... é que narciso acha feio o que não é espelho...'
    Beijos muitos.

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  13. [...] idéia onde ficava a Unip em Água Branca-SP e como sou péssima com caminhos mandei um email para o gentil Ulisses que me indicou uma direção. Longe pacas: metrô até a Sé, depois outro até Barra Funda e [...]

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  14. [...] Há 3 anos; Meninas no ataque;  A L’Oreal apronta mais uma vez; Quando a vergonha acaba ; Culpado por ser inocente e Lâmpadas Fluorescentes: todo cuidado é [...]

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  15. salut les gens j'aime bien cette facon de y croire ce commentaire mais l' immobilier est mon choix avant tout.

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