___Woody Allen é fantástico. Ele é tão bom que quase todo filme que ele faz acaba tendo sempre o mesmo defeito: um monte de chatos, assim que o filme estreia, praticamente sem nem precisar assistir, começam a falar que “Esse filme saiu uma droga!”, que “A nova fase do Woody Allen não se compara com a da década de [inclua aqui qualquer década, até as anteriores a 1935].”, que “Ele já foi melhor.”. Tenho a impressão que, se ele espirrar duas vezes, deve ter algum mala que vai dizer que o segundo espirro não conseguiu a profundidade do primeiro. ___O caso é exatamente o mesmo para o novo e divertidíssimo Para Roma com amor (dois exemplos). Filme esperto, bem estruturado, com ótimas sacadas, que flui deliciosamente. Dividido em 4 histórias independentes, todas ambientadas capital italiana, o filme parece brincar com a mesma premissa de Boccaccio no Decameron.*
___Logo depois da sessão de pré-estréia para a imprensa que eu assisti,** alguns dos seletos membros do público se juntaram para conversar. Profissional em meter a orelha em rodinhas nas quais eu não fui convidado, parei um pouco para ouvir e, sem nenhuma espera, pude presenciar uma crítica-clichê completa para um filme do Woody Allen: “Essa nova fase nonsense do Woody está por demais vergonhosa. Será que ele não consegue mais fazer algo do nível de Annie Hall? Que porcaria era aquela do cara no chuveiro? Nos bons tempos, saia-se pensando dos filmes; mas agora parece que ele não tem mais nada para falar.”. ___O mais divertido é que não apenas muito foi dito no episódio do chuveiro citado pelo crítico, como, também, essa foi exatamente a historinha escolhida pelo Woody Allen para bater nos seus repetitivos críticos. ___Woody Allen interpreta Jerry, diretor de óperas aposentado que descobre que Giancarlo***, o sogro italiano de sua filha, canta maravilhosamente bem no chuveiro. Desafortunadamente, fora do banho, Giancarlo não apresenta o mesmo talento. Mostrando sua ousadia como diretor de ópera, Jerry consegue levar Giancarlo para os palcos – com chuveiro e tudo. O tenor faz um sucesso estrondoso, mesmo assim o diretor não escapa das duras críticas da imprensa: “Só mesmo um completo imbecil para colocar o cantor tomando banho enquanto se apresenta.”.
___A interpretação é simples. Sem o chuveiro, Giancarlo não conseguiria cantar bem. Todos os elogios dos críticos ao cantor só foram possíveis graças ao talento, inteligência, coragem do diretor. Sem Jerry, Giancarlo como tenor, aquela maravilha musical, nunca existiria. Sem entender direito, presos a brumas e preconceitos, os críticos, mesmo gostando do resultado musical, bateram no principal artífice. Exatamente como essa gente que sempre diz que o Woody Allen já foi melhor. ___Meu conselho sincero – conselho também do próprio Woody Allen – é para que esses críticos, antes de começarem as reclamações da maneira mais clichê possível, parem e pensem um pouquinho. Respirem um tanto depois do filme, reflitam. Vai que hora dessas você está por aí, recitando toda a sua “sapiência” sobre a obra de Woody Allen, e ele sai de um canto qualquer para corrigir você.
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P.S.: Eu sei... Eu já escrevi textos melhores.
__________ * Não é à toa que, originalmente, Woody Allen pensou em chamar o filme de Bop Decameron. ** Deixo meus agradecimentos à Paris Filmes e ao Fabio Allves pelo convite. *** Interpretado pelo tenor profissional Fabio Armiliato.
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