22 de março de 2013

Papa Francisco e a Ditadura

___Desde que Jorge Mario Bergoglio foi escolhido como o novo papa, uma polêmica interessante tem rolado: teria Bergoglio apoiado a ditadura argentina (1976-83), inclusive denunciando outros religiosos que acabaram presos? Como o assunto é extremamente delicado, os dois lados têm sido extremamente passionais e, algumas vezes, irracionais. Como exercício histórico-reflexivo, vou pegar alguns dos comentários e argumentos mais utilizados e esmiuçá-los.


Bergoglio (papa Francisco) e a ditadura argentina, por Carlos Latuff
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___Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, afirmou que “nunca houve uma acusação concreta ou crível [de que o papa Francisco auxiliou a ditadura argentina]”. Lombardi vai ter de me desculpar, mas o padre jesuíta Orlando Virgilio Yorio afirmou até o fim de sua vida que Bergoglio é que havia entregado ele e seu companheiro, Francisco Jalics, aos militares. Por que a acusação de Yorio, preso e torturado pela ditadura, não é crível?
___É fácil contestar isso ao dizer que Francisco Jalics, o outro jesuíta preso pelos militares, falou que “É falso afirmar que nossa detenção foi provocada pelo padre Bergoglio.”. No entanto, avaliando essa afirmação com atenção, é possível perceber que essa não era sua declaração inicial. Jalics só eximiu o papa Francisco de culpa depois do dia 20 de março de 2013. No dia 15 e na época em que Jalics conduziu uma missa com Bergoglio, sua fala era simplesmente que eles estavam em paz, que estavam reconciliados. Pode-se acusar a Igreja Católica de muita coisa, mas não de ter pouca habilidade para mudar testemunhos.
___“Ah, mas o artista e escultor argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz em 1980, negou que o papa tenha colaborado com a ditadura.” OK, é muito fofo que o ganhador do Nobel da Paz tenha defendido o papa, mas qual a autoridade dele em afirmar que o papa Francisco não colaborou com a ditadura? Quais as provas? Se Esquivel afirmar que eu posso voar, eu devo começar a bater minhas asinhas? A afirmação dele é tão válida quanto a da moça que trabalha na loja de doces, não resolve nada.
___Quanto às pessoas que Francisco teoricamente ajudou na época da ditadura, por favor, apresentem-nas. Onde elas estão? Se alguém tiver alguma para mostrar, por favor mostre, vou adorar saber o que lhes aconteceu. Mas, atenção, mostre com algum relato feito antes que Bergoglio virasse papa, algum relato dado logo depois que a ditadura acabou. Milagre relatado só depois que o santo subiu ao altar não cheira lá muito bem.
___Por fim, cito que até Pérez Esquivel admite que o papa Francisco não lutou abertamente contra a ditadura. Vale dizer, nem durante a ditadura, nem depois do seu fim. Para um religioso que teve destaque após a ditadura –, tanto à frente da conferência episcopal, como sendo reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel –, Bergoglio nunca fez críticas abertas ao regime e isso é bem fácil de constatar. Portanto, sem dúvida, as críticas sobre a omissão do papa nessa questão, são extremamente bem fundamentadas.


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___Como bem disse o grande Arnaldo Branco, o problema todo aconteceu por não terem escolhido um papa brasileiro, já que “somos bem mais tolerantes que a Argentina com colaboradores da ditadura”.


Papa brasileiro - twitada de Arnaldo Branco
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___Brincadeiras ácidas à parte, deixo a questão do papa e da ditadura para os debates nos comentários. Só um pequeno lembrete, queridos leitores: demonstrem que vocês aprenderam algo com o texto e, se quiserem questionar um ponto ou acrescentar algum elemento, o façam utilizando citações, links, documentos, reportagens e afins. Este blog não trabalha com dogmas.

4 comentários:

  1. Toda história pode ter duas versões, a verdadeira e a narrada ,que depende da opinião de outro. Jw

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  2. quem vc acha q eh pra faalr do papa? seu esquerdopata PeTralha

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  3. Ainda estou construindo minhas opiniões quanto ao Papa Francisco e a ditadura militar.
    Me parece que o Papa (Pop?!?! Talvez!) ficou em cima do muro e não foi nem contra e nem cúmplice a ditadura. (Porém, na minha opinião, se ficou com DÚVIDA em quem apoiar, É A FAVOR. Dessa maneira, considero o Papa culpado!! hahahaaa...).
    Bem, mas convenhamos, Bergoglio treze anos antes de torna-se o Papa Francisco pediu desculpas por não ter feito o suficiente. Em fim... ele mesmo declarou a igreja (e ele!) culpados.
    Ulisses vc conhece esses textos:
    http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=638229&tm=7&layout=121&visual=49
    http://internacional.elpais.com/internacional/2013/03/23/actualidad/1364057234_327032.html

    Obs.: não tem muito a ver com o assunto, mas tenho outro texto para deixar aqui. Segue:
    http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/11/dura-vida-dos-ateus-em-um-brasil-cada-vez-mais-evangelico.html

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  4. Opa... obrigado pelos links, Fabinho. Ainda não tinha visto.

    Quanto ao último que você indicou, eu já conhecia. Adoro a Eliane Brum. Sempre leio o q ela escreve.

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