17 de dezembro de 2013

Quebrando vitrines

___Ouvir outros pontos de vista é algo que, muitas vezes, serve como um bom apoio para reflexões. Ainda mais se esses pontos de vista são de alguém interessante. 

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___Comecei a ler o livro O que é isso, companheiro?, do Fernando Gabeira, para preparar as minhas aulas de 2014. Logo na parte I, encontrei um trecho que pode servir para algumas reflexões sobre os protestos de 2013. 
___Narrando como a resistência ao Golpe Militar acabou sendo fraca e desorganizada em 1964, Gabeira diz:
___Lembro-me de que, na saída do Sindicato dos Gráficos, meio corridos, e já ouvindo vozes do adversário na Rádio Mayrink Veiga*, resolvemos cruzar todas as ruelas ao lado da Rio Branco e evitar o tráfego. Numa delas, já estava tão deprimido que joguei uma pedra numa das vitrinas e sentei no meio-fio. Um amigo jornalista, mais experiente, voltou para me buscar: “Está bem que você seja idiota a ponto de achar que jogando pedras na vitrine você está resistindo. Mas não precisa ser demais, a ponto de jogar pedra e ficar aí parado”.

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___Antes que alguém resolva atacar o Fernando Gabeira, chamando-o de reacionário, antirrevolucionário ou algo do tipo por ter escolhido colocar essa historinha para ilustrar um dos parágrafos do livro, acho bom lembrar uma coisa: é possível encontrar muitas diferenças entre o Gabeira-político dos dias de hoje e o Gabeira-escritor-revolucionário de 1979. É sempre bom tomar cuidado com as análises.
___Antes que alguém resolva, utilizando como base esse trecho d’O que é isso, companheiro?, chamar todo manifestante, revolucionário ou afim de idiota é importante lembrar que esse é o livro em que o Gabeira conta sobre a sua participação no sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick para lutar contra do governo militar e salvar outros revolucionários. É sempre bom tomar cuidado com as análises.

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P.S.: Para mais reflexões sobre os protestos deste ano, recomendo, fortemente, o Rafucko

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* A Mayrink Veiga foi uma rádio carioca fechada pelos militares em 1965. 

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