22 de agosto de 2014

Nicolau Sevcenko, o meu professor

___Sempre gostei muito de ler. Não é à toa que, durante muitos recreios do colégio, eu utilizava o meu tempo livre para ficar lendo algo que me interessava. Quando os professores pediam algum livro de leitura obrigatória, eu costumava ler feliz e contente. Meus colegas de escola, por outro lado, não gostavam muito de ler os livros que os professores mandavam. Por conta disso, quando chegava perto de alguma prova, muitos colegas se reuniam à minha volta para me ouvir contando a história do livro. 
___Como eu gostava de explicar os livros para os meus colegas, como aquilo, para mim, era uma diversão sem fim, acabei descobrindo que queria ser professor. Minha grande dúvida, então, foi escolher quais das minhas matérias preferidas se tornariam o meu métier. A grande dúvida estava entre História e Literatura. Como, para ensinar Literatura, eu teria de fazer uma faculdade de Letras e estudar (e talvez ensinar) Gramática, acabei escolhendo História.

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___Em uma aula de História Moderna, um aluno levanta a mão e pergunta:
___– Em que ano terminou o reinado de Guilherme de Orange?
___O professor Nicolau Sevcenko olha para o estudante, pensa um pouco mexendo nos próprios cabelos e responde:

Nicolau Sevcenko

___– Hum... Desculpa, mas eu não sei. 
___Com uma cara de revoltado o aluno esbraveja:
___– Como assim? Como você pode não saber? Você é um especialista!
___Nicolau, como um gatinho, inclina a cabeça para o lado, como se achasse a reação do estudante a coisa mais curiosa do mundo. Alguns segundos depois, calmamente, responde:
___– Desculpe-me, mas se você acha que decorar nomes e datas são tão importantes assim para um historiador, lamento dizer: você está no curso errado. Ou, pensando bem, talvez você esteja no curso certo. Veja o restante das aulas com muita atenção. 

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___Os incontáveis elogios que o professor Nicolau Sevcenko recebia dos outros estudantes, fez com que, logo no segundo semestre do curso, eu procurasse o seu curso. Sem dúvida, as aulas eram fantásticas. Mas, de todas as maravilhas que a aula do Nicolau oferecia, a que mais me fascinou foi o quanto ele usava textos literários para fazer suas análises históricas. Depois de suas aulas, nunca mais fiquei chateado por não ter a chance de trabalhar com Literatura. Ele me mostrou o quanto História e Literatura podem se complementar.*
___Tristemente, na semana passada, com apenas 61 anos, o professor Nicolau veio a falecer. Resolvi relembrar um pouco dele escrevendo este texto. Fica como uma pequena homenagem para um professor que muito me ensinou. 

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* Não foram apenas nas aulas que o Nicolau me mostrou o quanto um historiador poderia trabalhar com Literatura. Seu livro Orfeu estático da metrópole é imperdível para quem se interessa pelo assunto. 

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