10 de janeiro de 2015

Diógenes, o Mendigo

___Diógenes de Sinope, mais conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um importante filósofo da Antiguidade, que viveu mais ou menos entre 404 e 323 a.C.. As lendas sobre sua vida como filósofo-mendigo são quase tudo o que restou de sua obra. Entre essas histórias, as minhas preferidas são as conversas de Alexandre, o Grande, com o filósofo. Encontrá-las não é nada difícil. Por isso mesmo, ao invés de simplesmente contá-las, resolvi adaptá-las para Sampa dos dias de hoje. 
___Diógenes, como era de seu feitio, fica sendo um mendigo. Alexandre, o Grande, nesta adaptação, fica como um executivo de sucesso. 


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___Irritado, Alexandre sai do edifício espelhado para as calçadas da avenida Paulista, quase nove da noite. Foi um dia estressante: reunião atrás de reunião, clientes ao telefone a cada intervalo e ainda seria necessário fazer um pouco de serviço em casa. Enquanto afrouxava a gravata, o executivo olha para o lado e vê um mendigo deitado na calçada, ocupado em fazer carinho em um cachorro vira-lata. 
___Alexandre sorri, o mendigo sorri de volta. Talvez mais à vontade por conta da interação, talvez para desestressar-se um pouco, o executivo diz:
___– Queria ter uma vida tranquila como a sua. 
___– Por que você não tem?
___– Talvez um dia. Ainda tenho muito que conquistar. Quero viajar, ter dinheiro para garantir o meu descanso futuro, ter outro apartamento. Essas coisas. 
___– Se você precisa de mais alguma coisa –, responde o mendigo –, você nunca vai ter o que eu tenho. 
___O executivo sorri e pergunta o nome do mendigo. 
___– Diógenes. 
___– Diógenes do quê?
___– Só Diógenes já me basta. Não preciso de mais nada. 

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___Saindo de uma unidade do Itaú Personnalité, Alexandre coloca seus óculos escuros e sai a caminhar. Não anda nem meio quarteirão e encontra Diógenes encostado em uma parede. Ainda positivamente impressionado com a conversa que tiveram alguns dias antes, Alexandre para na frente do mendigo, coloca a mão no bolso, segurando a carteira e diz:
___– Diógenes, diga-me: o que você quer? Posso lhe dar dinheiro, trabalho, lugar para morar. Peça e eu darei. 
___– Só não me tire o que você não pode me dar. –, respondeu Diógenes, deslocando-se um pouco para o lado para voltar a pegar sol. 
___Percebendo, então, que havia tirado o sol que aquecia o mendigo, Alexandre, envergonhado, pega uma nota de cinquenta reais, coloca no chão e se vai. 
___Diógenes não pega o dinheiro. 

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___Perto do trabalho, Alexandre vê dois outros executivos rindo de Diógenes, que dorme, sujo e seminu, na calçada. Irritado, Alexandre diz:
___– Se eu não fosse o executivo de maior sucesso da nossa empresa, gostaria de ser aquele mendigo. 

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P.S.: As estórias desta postagem existem graças a Diógenes, o Cínico, à minha amiga Fernanda e ao lindo SP Invisível


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