31 de dezembro de 2022

Erotismo e agricultura na antiga Mesopotâmia

 

            A Mesopotâmia, como frequentemente costuma ser explicada nas escolas, recebeu esse nome dos gregos por ser uma terra entre rios: o Tigre e o Eufrates. E, é importante lembrar, não foi à toa que essa civilização prosperou entre os dois rios, isso aconteceu porque o rio Tigre e o Eufrates deixavam a terra fértil e facilitavam a agricultura.

                O que entretanto não costuma ser explicado nas escolas, é que os mesopotâmicos, assim como nós, também falavam dos mais diversos temas, inclusive de pornografia. Veja um exemplo lírico muito interessante disso com Inanna (também conhecida como Ishtar), a deusa do amor, da fecundidade, do erotismo:

 

            Inanna – E quanto a mim, minha vulva, minha colina estremece.

Quem então me laborará?

A vulva que pertence a mim, a Rainha, minha gleba toda úmida,

Quem aqui passará o arado?

                Coro – Ó Dama Soberana, é o rei que te lavrará!

É Dumuzi, o Rei, que te lavrará!

               Inanna – E então! Lavra-me a vulva, o tu que eu escolhi!...*

 

                Pessoalmente, adoro o atípico desse tipo de documento histórico. Mais interessante do que o tema pornográfico, é ver como a sociedade mesopotâmica era completamente ligada à agricultura, utilizando imagens agrícolas para falar de sexo: “Quem aqui passará o arado? / (...) Lavra-me a vulva, o tu que eu escolhi!”. Do mesmo jeito que vai ser interessante para um historiador, daqui a séculos ou milênios, ver nossas narrativas pornográfico-amorosas citando aplicativos e eletrônicos em geral.

 

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* Citado por BOTTÉRO, Jean. Tudo começou na Babilônia. Amor e Sexualidade no Ocidente: Edição especial da revista L’Histoire/Seuil. Porto Alegre: L&PM, 1992. p. 29.

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