_____Terminei de auxiliar uma jornalista amiga minha a revisar umas matérias e, aproveitando que o trabalho terminou mais cedo do que eu planejava, corri para o metrô para ir ao Letras em cena. Cheguei cedo (sou minimamente educado, obviamente eu nunca entraria atrasado no evento) e, mesmo sem ter me inscrito antecipadamente no site, consegui um ingresso. Entrei calmamente, com meu livro na mão, e sentei lá pela quarta, quinta fileira.
_____Apesar de ter levado um livro (o evento não costuma atrasar, eu é que não costumo sair de casa sem um livro na mão), nem o abri ao entrar no auditório do MASP. Assim que entrei, ouvi um som de piano e, portanto, após escolher o meu lugar, fiquei a apreciar o pianista e sua música. Porém, mais gente foi chegando e o auditório foi enchendo. Não que ele tenha ficado lotado (nunca vi ficar completamente lotado), apenas a parte da frente é que ficou realmente cheia.
_____Pois bem, o auditório foi ficando cada vez mais cheio e as pessoas, apesar do pianista tocando no placo, entravam como se não houvesse mais nada por lá, só uma comum busca por um lugar para sentar. Aquela manada de mal-educados entrava conversando e continuava conversando, falando em voz alta mesmo, dando risada. Uma menina peituda atrás de mim resolveu mudar o toque do celular. Um grupo de velhinhos sentou-se separado e, após alguns instantes, um dos velhinhos começou: “Roberto! Pâmela! Aqui, ô! Tem lugar sobrando aqui do lado, vem sentar aqui!”. E o infeliz que eu acho que chama Roberto, na primeira fileira, respondeu, também em voz alta: “Não quero! Ela disse que prefere ficar aqui na frente.”. E o outro retrucava: “Deixa disso, fica com a gente! Vem prá cá.”. Isso por vários minutos.
_____Creio que o pianista tocou umas três músicas desde o momento em que eu entrei. Só que as duas últimas eu nem consegui ouvir direito, dada a balbúrdia que estava aquele lugar.
_____Então, o que aconteceu? O pianista terminou de tocar a última música, levantou-se para sair e... o que o público fez? O que aqueles animais que pareciam ter sido criados em um celeiro fizeram? Aplaudiram! Fervorosamente o público aplaudiu. Não é possível. As pessoas não podem ser mais caras-de-pau. Aqueles símios nem tinham ouvido o trabalho do infeliz do pianista. Por que diabos começaram a aplaudir? Eles deveriam era abaixar a cabeça e murmurar um pedido de desculpas. Deveriam sair de lá e se auto-flagelarem em casa. Deveriam sair do MASP e se jogarem todos na frente de um ônibus, na Avenida Paulista. Vão todos para o meio do inferno. Cambada de mentirosos. Aplaudiram como se tivessem ouvido. Pena que o pianista agradeceu. Eu teria baixado as calças e mostrado a bunda.
_____Pelo menos durante a leitura da peça as pessoas respeitaram e não fizeram barulho. Com exceção do celular da menina atrás de mim que tocou (com o toque novo) bem perto do fim da peça.
P.S.: A leitura da segunda-feira vindoura será uma reunião de textos louvando os atores, chamada de “Ser ator”. Serão apresentados textos de Fernando Pessoa, Cassiano Ricardo, Louis Jouvet, Plínio Marcos, Luis A. de Abreu, Tankred Dorst, Shakespeare, Antunes Filho, Bertolt Brecht, Caetano Veloso, Laurence Olivier, Chico de Assis, Antonin Artaud, Fernando Veríssimo e Fernando Bonassi, com a participação de Antônio Petrin.
Imagem: Foto de Márcia Nicolau, disponível em http://www.letrasemcena.art.br.
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