2 de fevereiro de 2008

Como se livrar de um seqüestro por telefone

_____Poucas das crônicas que escrevo são pura ficção. A maioria delas são casos que realmente aconteceram, para os quais eu, no máximo, altero alguma parte da realidade para o bom andamento da história. O caso que vou relatar hoje, por mais absurdo que pareça, é completamente verdadeiro.

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_____Minha avó estava em casa quando o telefone tocou. Ela atendeu, a ligação era a cobrar. Um desconhecido, do outro lado da linha, chamando-a de senhora, disse para ela esperar um pouco, pois o filho dela (meu pai) queria falar com ela. Minha avó, que sempre acha que alguma desgraça aconteceu, já começou a ficar preocupada.

_____“Por que será que não foi meu filho que ligou?”; “Por que ele pediu para alguém ligar?”; “Por que ele ligou a cobrar?”; “Será que aconteceu algum acidente?”. Foi com essa carreira de pensamentos positivos que outra voz apareceu no telefone, meio chorosa: “Mãe, mãe, você precisa me ajudar. Eu fui seqüestrado e não tenho dinheiro. Eles vão me matar, mãe. Você tem de depositar um dinheiro na conta que o moço vai passar para a senhora.”.

_____Assim que minha avó começou a fazer perguntas, o homem desconhecido que havia ligado pegou o telefone. Disse para minha avó se acalmar. Eles haviam seqüestrado o filho dela, mas, assim que ela depositasse o dinheiro na conta que ele passaria, eles iriam libertá-lo.

_____Pronto, minha avó começou a chorar. Ela chorou, berrou, praguejou, rezou, sem parar em nenhum instante. “Não façam isso, eu sou apenas uma senhora de 82 anos.”; “Meu filho é trabalhador, larga ele!”; “Isso é pecado, você sabia?”; “Deus vai castigar você.”; “Por favor, solta o meu filho.”; “Olha, isso não se faz.”; “Oh, Senhor, ajude meu filho. Pai nosso, que estais no céu...”; “Buáááá!”. Sem um só momento de intervalo, ela intercalava aquele misto de choros, ameaças divinas, orações, súplicas e lições de moral. O pobre seqüestrador não conseguia nem falar.

_____Após vários minutos de escândalo da minha avó, o seqüestrador gritou do outro lado da linha: “Você é uma louca! Não dá para negociar com uma pessoa nervosa desse jeito.”. E, então, desligou.

_____Depois de chorar mais um pouco, minha avó ligou em casa. Meu pai estava lá, sem nenhum problema. A ligação era apenas uma tentativa de golpe.

_____Chorando, minha avó contou toda a história. Disse que achou mesmo a voz do cara que falou com ela parecida com a do meu pai, que não sabia como agir e essas coisas que as pessoas falam quando passam por situações como essa. Meu pai disse que a conhece bem e que, mesmo que fosse seqüestrado, ela seria a última pessoa para quem ele pediria para os bandidos ligarem. Eu, pessoalmente, achei interessante o método dela para se livrar de seqüestros por telefone. Será que funciona, também, para se livrar das ligações de telemarketing?

P.S.: Resolvi contar essa pequena tragédia familiar após rir um tanto com uma crônica escrita pelo

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