26 de novembro de 2010

Artistas de rua

___Sou um tipo estranho na rua. Quase sempre andando rápido e com um pocket book na mão. Se a luz permite, não só seguro o livro como ainda leio caminhando. Mais estranho ainda, são os momentos em que não tenho horário para chegar a lugar algum e ando sem pressa. Paro por tudo. Olho pessoas interessantes, fico lendo em bancos de praça para ouvir conversas. Ou, se acho uma construção atípica, uma casa com mais de um século, fico dezenas de minutos a estudá-la. Porém, de todas essas diversões de rua, minha preferida são os artistas. Chega a me doer o coração quando vejo um bom artista de rua e eu estou atrasado para algo e não posso parar.
___Não sou um cara de grandes posses (e também não sou de grandes gastos), mas sempre tenho uns poucos níqueis no bolso para depositar em um potinho de uma estátua viva ou em um chapéu de mímico. Claro, só desembolso as moedas se acho o artista talentoso; gosto de ajudar quem parece estar a fazer um bom trabalho.
___Quando encontro um bom músico, ouço contente e, se estou (bem) acompanhado de uma dançarina, aproveito para dançar. Normalmente os tocadores apreciam e o público (e as moedas) aumenta(m). Para minha abençoada sorte, os músicos que tentam arrecadar uma grana na Avenida Paulista costumam ser bons.


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___Dia desses, tudo parecia ideal para uma brincadeira do tipo. Sem pressa nenhuma, eu passeava pela Paulista, muito bem acompanhado pela minha namorada (que, mesmo não sendo profissional, é um par maravilhoso para se dançar). O dia claro, nenhum sol forte na cabeça. De longe, avistamos um sanfoneiro sentando perto da Estação Brigadeiro, acabando de arrumar seus apetrechos. Paramos de longe, esperando ele começar.
___Ele começou. As primeiras notas não saíram muito bem. Talvez ele estivesse se ajeitando, vai saber. Esperamos o fim da primeira música. Os gemidos de dor que infeliz instrumento emitia no início da segunda canção demonstraram que aquilo não iria melhorar. Com dó da pobre sanfona, resolvemos seguir nosso caminho.
___Ao passarmos pelo “sanfoneiro”, vi que ele tinha um cartaz ao lado – “Ajude um artista.”. Quis ajudar, mas não vi nenhum artista por perto. Acho que ele conseguiria arrecadar mais moedas se escrevesse algo como “Preciso de dinheiro para pagar um professor de música.”. Eu teria dado uma nota de cinco.


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(Texto que estava esquecido na gaveta desde 2007.)

2 comentários:

  1. Eu já tive vontade de pagar alguns para permanecer em silêncio no ônibus, kkkkk!

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  2. Chato saber do ocorrido! Muitas vezes, principalmente na Avenida Paulista, vemos grandes artistas - principalmente músicos - que fazem nossa vida parecer com trilha sonora. Nunca me esqueço de quando um trio de cordas, sendo dois violinos e um cello, fizeram um medley de músicas dos Beatles em meio à milhões de bolhas de sabão. Lindo!


    mas mais chata ainda foi a nova proibição de nossa querida prefeitura: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pm-expulsa-musicos-de-rua-da-avenida-paulista,642169,0.htm


    nos próximos tempos, provavelmente, não poderemos mais apreciar os bons ou rir dos ruins.

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