12 de março de 2012

Idade das Trevas revisitada

___Não há dúvidas de que existe tanta toupeirice no mundo que se idiotas voassem o céu viveria nublado. Mesmo assim, pelo bem da minha sanidade, tento ao máximo evitar, na minha dieta ocular, a leitura de textos de goblins, gente que leva a Veja a sério e outras criaturas do tipo. Isso não significa, claro, que eu nunca os leia, mas procuro fazê-lo com muita moderação.
___Nos últimos dias, entretanto, caíram na minha mão textos tão bizarros que eu achei que havia assinando o feed do blog do Reinaldo Azevedo ou estava inscrito em um curso do Luiz Felipe Pondé. Para que vocês, queridos leitores, também tenham a chance de dar risada ou sofrer, vou dividi-los aqui.


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A Dama de Ferro e a inutilidade do feminismo
___Para começar, um artigo publicado na Folha, no Dia Internacional da Mulher. A autora, Talyta Carvalho (filósofa, com mestrado e tudo), em um momento Margaret Thatcher, resume seu texto dizendo: “De minha parte, afirmo: não devo nada ao feminismo.”.


Dama de Ferro, Legado de Ferrugem - de David Simonds


___Não deixa de ser interessante: a moça formou-se em Filosofia, seguiu um tanto de carreira acadêmica, escreveu em um jornal de grande circulação... e não deve nada ao feminismo. Tal qual, segundo Churchill, a Inglaterra não devia nada aos aviadores ingleses.


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Intelectuais isentos? Procure na corretíssima Direita
___O segundo caso é o do jornalista Luiz Garcia, no jornal O Globo. Falando sobre o acesso um pouquinho maior dos cidadãos aos Arquivos da Ditadura Militar, Garcia diz que “Pode-se esperar que essa nova política permita que historiadores isentos – e esse adjetivo é obviamente indispensável – escrevam a história dos nossos anos de chumbo.”.
___Sobre a imbecilidade que é achar correto apenas se forem “historiadores isentos” a escrever a História da Ditadura, deixo vocês com os comentários do Alex. Eu comento que Luiz Garcia ou é muito ingênuo ou é um jornalista muito ruim para achar que existe isenção em reportagens ou estudos históricos. Não é à toa que o infeliz participou do lançamento da Veja, em 1968.


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Demitam esses professores abortistas!
___Para terminar, linko o texto do bispo Luiz Gonzaga Bergonzini. Cheio do amor cristão no seu coraçãozinho, o doce religioso pede que as PUCs tomem as medidas necessárias para se livrarem dos “professores abortistas, defensores da eutanásia, da liberação da maconha, da ideologia homossexual ou comunistas”. E completa: “[Esses professores] Não podem lecionar numa escola católica, que é totalmente contrária a esses posicionamentos.”. Só faltou pedir para jogarem o Leonardo Sakamoto na fogueira.
___Se as palavras imbecis do bispo não me causassem asco, eu talvez até achasse engraçado um idiota que pensa que uma universidade, antes de ser crítica, questionadora, construtora de conhecimento, tem de se subordinar ao amigo imaginário de uma religião qualquer. Saudade da Idade Média, senhor Bergonzini?

Um comentário:

  1. Oi, Ulisses! Pois é, a gente até tenta dar risada dessas coisas, porque parecem - sinceramente - tiradas de algum dos episódios do Zorra Total. O problema é que o Zorra Total não é engraçado, é tosco. :(

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