15 de setembro de 2012

Mago Merlin, o cristão

___Bons exemplos são ferramentas extremamente úteis para se conseguir resultados positivos em sala de aula. Infelizmente, nem sempre é fácil encontrá-los. Por vezes, quando preparo uma aula, lembro-me de uma cena de um filme, de uma música, de uma pintura que encaixariam perfeitamente com o assunto; infelizmente, quando vou procurá-las, nem sempre as encontro ou preciso de muitos dias de garimpo para achar.*


Desvendando o universo Arthuriano


___Tenho dado, na ETESP, um curso sobre Ciclo Arthuriano com outra professora. Em uma aula, quis mostrar para os alunos a existência de elementos cristãos e pagãos completamente interligados em muitas das narrativas.
___Peguei para ler e ver se era possível encontrar algo do tipo no A História do Mago Merlin, de Dorothea e Friedrich Schlegel. Elementos pagãos, seria algo simples: tratando-se de uma história sobre Merlin, feitiços, dragões, espadas encantadas, magia e outros elementos do tipo apareceriam fartamente. Mas, será que eu conseguiria encontrar algum elemento cristão fácil de identificar e de passar para os alunos?
___Sem que eu tivesse trabalho algum, logo na primeira página encontrei o que eu precisava. O livro começa assim:




_____O Maligno estava irado por Jesus Cristo ter descido ao inferno e libertado Adão e Eva, junto com todos os que com eles lá estavam. ‘Quem é esse homem’, perguntaram os demônios, cheios de temor, ‘que deita abaixo os portões do inferno, e a cujo poder não podemos resistir? Jamais pudemos crer que um ser humano, nascido de uma mulher, não nos pertencesse... e esse aí vem e destrói nosso reino. Como pôde ele ter nascido sem que nós o tenhamos maculado com o pecado, como acontece com todos os outros homens?’ A isso um outro respondeu: ‘Ele nasceu sem pecado, e não do sêmen de um homem, mas foi concebido pelo Espírito Santo no corpo de uma virgem, segundo a vontade de Deus. Por isso seria bom que também achássemos um meio de gerar, no corpo de uma mulher, um ser, feito à nossa imagem e semelhança, que aja segundo a nossa vontade e que saiba, como nós, de tudo o que aconteceu, acontece e é dito. Um tal homem nos seria de grande valia. Temos, pois, que nos empenhar em encontrar uma forma de recuperar o que o Redentor dos homens nos roubou.’



___Alguns dias, encontrar bons exemplos pode ser um grande desafio. Outras vezes, a Sorte sorri para um pobre professor.


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* Menção honrosa à professora Diana Luz Pessoa de Barros, com quem aprendi Semiótica na faculdade. Além de dar uma aula muito boa, a professora Diana tinha uma compilação gigantesca com os melhores exemplos para cada assunto que ela iria tratar em sala.

2 comentários:

  1. Bem que esse curso podia ter uma edição noturna para pessoas que trabalham.

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  2. Perdoe-me, Ashen, mas, por enquanto, com as nossas verbas inexistentes, não é possível. De qquer modo, dou cursos gratuitos quase todos os semestres. Se hora dessas for possível, vc é mais do que bem vinda.

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