26 de fevereiro de 2013

Jogo dos muitos erros: calçadas

___Consegue achar o erro dessa imagem?


Calçada: padrão de uma sociedade carrocrata


___Se você é um paulistano que utiliza o seu carro no dia-a-dia, provavelmente não. Se você é um pedestre típico, talvez a nossa sociedade carrocrata tenha anestesiado tanto o seu cérebro que você não consegue perceber. No entanto, se é um cadeirante, pode apostar que você sabe exatamente qual é o erro.


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___Faz tempo que eu esbocei o parzinho de parágrafos acima, mas foi essa boa sacada sobre as reportagens de capa da Veja São Paulo que me fez tirá-los da gaveta.


Veja - Que vergonha


___A primeira capa, esperançosa quanto ao “futuro” do centro de Sampa, data do primeiro ano de José Serra (do PSDB) na prefeitura de São Paulo. A segunda procura redimir o péssimo mandato de Kassab (atualmente no PSD, que, na época, apoiava o PSDB) nos últimos meses de seu governo. Por fim, é no segundo mês de um prefeito petista que a Veja resolve dizer “Que vergonha!” para as calçadas paulistanas, como se seus buracos e afins tivessem surgido nessas últimas semanas.


___Coincidência?


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___O que com certeza não é coincidência é o descaso com os principais frequentadores das calçadas. Mesmo se, milagrosamente, em menos de dois meses o prefeito Fernando Haddad tivesse conseguido fazer com que todas as calçadas de São Paulo ficassem sem buracos, ainda assim elas não seriam confortáveis para os pedestres.


___Entre os grandes vilões das calçadas, estão os automóveis e a primazia que a nossa sociedade dá a eles. Deformar o passeio público para facilitar o deslocamento momentâneo de carros é o padrão para as garagens (como é possível perceber na primeira imagem que ilustra este post). Só para mostrar outro exemplo, veja como costumam ser os postos de gasolina brasileiros.


Posto de gasolina brasileiro: padrão de uma sociedade carrocrata


___Agora compare com o desenho básico de um posto em Santiago, no Chile.


Posto de gasolina em Santiago (Chile)


___Utilizando as palavras do autor da fotografia: “Calçadas que acompanham toda a extensão do estabelecimento e faixas pintadas de amarelo para ressaltar a preferência do pedestre nos locais onde não há calçada. / Os postos têm entradas e saídas, e não guias rebaixadas em toda a sua extensão. / Tão simples, tão óbvio...”.


___Comparando assim fica mais fácil de entender o desrespeito que os pedestres sofrem diariamente, não? Quase tão didático quanto colocar capas da Veja lado a lado.


 

22 de fevereiro de 2013

Gostar da profissão

___Minha esposa é uma veterinária em início de carreira.* Por conta disso, ela tem aturado toda a chatice clássica que acomete um novato, como os “disputadíssimos” plantões de natal e ano novo, os veteranos que não demonstram confiança, horários desumanos e coisas do tipo.


Residência Médica, por Solon Maia


___Como bem era de se esperar, de quando em vez esses percalços fazem com que a minha doce veterinária chegue em casa um pouco azeda. Com exceção de algumas agressões físicas a algum marido incauto, nada de grave acontece. No entanto, alguém desatento poderia achar que isso é sinal de alguém que não gosta do próprio trabalho.


___Eu vejo de outra forma.


___Mais de uma vez já a vi entrar em casa esbravejando e contar uma longa história sobre um dono de animal sendo grosso ou um colega de trabalho agindo de maneira errada. Mais de uma vez ela chegou com cara de choro, já pareceu querer jogar tudo para o alto. E, mesmo assim, sem nenhuma necessidade premente, mesmo nervosa, cansada, irritada, já a vi revisando os dados de um caso difícil, pegando um livro da área para estudar assuntos importantes para os seus diagnósticos.


___Estudar, revisar o próprio trabalho em casa, por livre e espontânea vontade, para mim parece um ótimo sinal de alguém que gosta do próprio trabalho. Sendo assim, também consigo concluir que eu não gosto nem um pouco de lavar a louça.


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*2012 foi o primeiro ano dela como formada.


 

17 de fevereiro de 2013

Prioridades na Educação

___Faz parte do trabalho de um professor se atualizar constantemente. É necessário aprender mais, revisar o que já se sabe, descobrir coisas novas. Infelizmente, nem todo professor faz isso: alguns por falta de possibilidade (pouco tempo, pouco dinheiro...), outros por falta de vergonha na cara.


___Tentando ajudar seus professores, uma das escolas que eu leciono mantém uma prática bacana. Todo ano acontece, no mínimo, uma palestra obrigatória para todo o corpo docente,* durante a reunião de início de ano.**


___Este ano, tivemos duas palestras. Infelizmente, elas foram completamente desperdiçadas. O que aconteceu foi, simplesmente, um culto à deusa que domina escolas, universidades, repartições públicas, hospitais. Uma missa em louvor à deusa Burocracia.


Palestras educacionais


___Reunir praticamente todo o corpo docente de uma escola e escolher falar de “Elaboração do Plano de Trabalho Docente” e “Preenchimento e Entrega das Papeletas”. Não há dúvidas que, para algumas pessoas, a Burocracia Escolar é mais importante que a Educação. Só gostaria de saber qual é o limite. Será que, no futuro, burocratas planejam sacrificar alunos com boas notas aos sagrados Diários de Classe?


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___Em outra escola, a diretora distribuiu um texto de Gustavo Ioschpe, publicado em janeiro na Veja, intitulado “Se eu fosse prefeito”. Nem vou comentar sobre o quanto é triste a diretora ter selecionado algo publicado na Veja, vou apenas destacar dois trechos do texto:
a) “O maior problema de quem quer melhorar a educação é a solidão. (...) Os sindicatos de professores lutam apenas por maiores salários e menos trabalho.” (Trecho também destacado pela revista, podem conferir aqui).
b) “No caso dos diretores, a pesquisa mostra que o salário está relacionado ao desempenho: quanto mais altos os salários, maior o aprendizado das crianças da escola. Portanto, selecione e remunere bem os diretores da escola.”.


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___Burocratas com palestras sobre a importância da burocracia e uma diretora defendendo uma busca por altos salários apenas para diretores. É tão bom perceber como existem pessoas “interessadas” na Educação.



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* Claro que apenas uma palestra é muito pouco. De qualquer modo, já é algo. Melhor uma do que nenhuma.


** Inclusive, comentei um pouco sobre a do ano passado aqui no Incautos.


 

9 de fevereiro de 2013

Idiotas que sobrevivem

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___Talvez alguém diga que o vídeo acima, feito pelo metrô de Melbourne, é bobo e desnecessário. Eu gostei. Mais ainda, eu entendo quando questionam a ideia de sobrevivência dos mais aptos. Como pode existir tanta gente idiota no mundo, fazendo imbecilidades sem motivo algum e continuando a nadar viver?


___Noutro dia, no metrô aqui de São Paulo, fotografei um homem e uma mulher, ambos um pouco depois da faixa amarela de segurança.


Idiotas que ultrapassam a faixa amarela


___Pelo visto não fui só eu a percebê-los. Pouco depois que eu guardei o celular, os alto-falantes disseram: “Respeite a faixa amarela. Ela é a sua segurança.”. Assim que ouviu o recado, a moça que estava pouco depois da faixa olhou para baixo, deu um passo à frente e continuou a conversar com a amiga. O moço de vermelho, por sua vez, ignorou solenemente o aviso.


___Novamente os alto-falantes: “Por favor, não ultrapasse a faixa de segurança.”. Para o meu embasbacamento, o infeliz não ignorou o que foi dito, ele “desafiou”: como quem não quer nada, o moço foi um pouco mais para frente, ficando com os pés inteiros depois da faixa amarela.


___Talvez por conta dos avisos que não vingaram, ou quiçá por ter achado que o perigo aumentara, um segurança do metrô apareceu e, educadamente, pediu para que o homem de vermelho ficasse atrás da faixa. O rapaz mediu o segurança com uma enorme cara de tédio, respirou fundo e foi para trás da faixa amarela.


___Infelizmente, é possível que esse idiota passe os seus genes para frente. Claro que sempre existe a possibilidade de que ele não consiga se reproduzir, mas isso vai atrasar a viagem de muita gente.