___Hoje morreu Manoel de Barros. Dono de uma prosa bem característica, estranha de dar orgulho. Uma prosa poética.
___Já falei dele aqui no Incautos em duas outras oportunidades e aproveito o triste acontecimento, para indicar o livro dele que mais gosto, o Memórias Inventadas - A Infância.
___Deixo, também, o "Parrrede!", o meu conto preferido do Manoel de Barros.
Quando eu estudava no colégio, interno,Eu fazia pecado solitário.Um padre me pegou fazendo.– Corrumbá, no parrrede!Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede edecorar 50 linhas de um livro.O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésimade Vieira.– Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.O que eu lera por antes naquele colégio eram romancesde aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiqueiembevecido.E li o Sermão inteiro.Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!E fiz de montão.– Corumbá, no parrrede!Era a glória.Eu ia fascinado pra parede.Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato.Decorei e li o livro alcandorado.Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.Gostar quase até do cheiro das letras.Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.Ficar no parrrede era uma glória.Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.A esse tempo também aprendi a escutar o silênciodas paredes.
___Sério mesmo, leiam o Memórias Inventadas - A Infância. E escutem bem o silêncio.
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