26 de fevereiro de 2018

A existência do triângulo rosa

___Em 2011, escrevi um texto tirando sarro de Carlos Apolinário e Eduardo Cunha tentando aprovar* o “Dia do Orgulho Heterossexual”. Como extra, para ilustrar o texto, coloquei algumas imagens extraídas do blog lusitano Panteras Rosa. Uma delas, é a figura abaixo. 

Orgulho Hétero

___Anos depois, uma pessoa que assina como Maick Love, apareceu e comentou o seguinte sobre a imagem:

A primeira foto é de JUDEUS. Não de gays.Mentirosos. Aludem suas causas pseudo fragilizadas, tentando fazer charme com "coitadismos".
Não pode mais ter opinião diferente que é preconceito?!?!
Sou hetero convicto e tenho amigos homossexuais (não bixinhas politicamente corretas), dois dos maiores poetas brasileiros eram homossexuais(não bixinhas politicamente corretas), que eram Renato Russo e Cazuza.
A diferença está em ser referência pelo talento (como os citados anteriormente), ao contrário do sub produto global que tenta empurrar uma ditadura gay goela abaixo (a saber Jean Willis).
Enquanto Cristian Prior critica a classe operária, chamando de pobre e ralé. Aí é liberdade de expressão. Mas se eu critico o trabalho fútil dele (indiferente da sexualidade), sou taxado de homofóbico.
Não dá pra compreender...

___Obviamente, eu poderia rebater muitos dos pontos levantados pelo revoltado leitor. Porém, como a parte histórica do comentário dele já dá bastante pano para o triângulo a manga, vou me ater a esse ponto: “A primeira foto é de JUDEUS. Não de gays.Mentirosos. Aludem suas causas pseudo fragilizadas, tentando fazer charme com ‘coitadismos’.”

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___Caro Maick Love, eu sei que é mais confortável achar que todos os grupos dos quais você discorda estão errados e “tentando fazer charme com ‘coitadismos’”, mas não é assim que as coisas funcionam. Por isso mesmo, vale sempre a pena, quando você desconfiar que alguma informação é falsa, pesquisar antes de atacar ganindo: “Mentirosos”.
___Eu sei que, ao ouvir falar sobre as atrocidades nazistas, o foco costuma ser a perseguição aos judeus. Entretanto, não foram apenas eles a serem perseguidos pelos nazistas: negros, ciganos, deficientes físicos, “mulheres antissociais” e homossexuais são apenas alguns dos outros exemplos.
___No caso dos homossexuais, os nazistas utilizaram uma reformulação do parágrafo 175, inserido no código penal alemão no século XIX, para tirar seus direitos civis e encarcerá-los. Quando digo encarcerá-los, estou me referindo, também, a mandar esses homossexuais para campos de concentração. 

Prisioneiros em campo de concentração (usando um triângulo na roupa)

___Nos campos de concentração, os homossexuais eram diferenciados dos demais prisioneiros por um triângulo rosa costurado às roupas. Essa marcação teve efeitos tanto dentro dos campos (com outros prisioneiros que maltratavam os homossexuais), como fora deles, mesmo depois do fim da II Guerra Mundial. 

___Acima d[a] matrícula deve-se [costurar] o pequeno triângulo feito de tecido colorido. Um triângulo de poucos centímetros de lado, usado com uma ponta para baixo e costurado na camisa, na altura do coração. A cor depende do motivo da detenção. A matrícula 7952[, de Rudolf,] antes se referia a triângulos de cores diferentes: primeiro, o vermelho dos prisioneiros políticos (os dois poloneses), depois, o preto dos “antissociais, resistentes ao trabalho” e o verde dos “criminosos profissionais” (os dois últimos portadores da matrícula). Para Rudolf, a cor é rosa, escolhida para estigmatizar a homossexualidade. Um sistema de classificação bem simples, com uma particularidade para os presos judeus: para eles é uma estrela amarela, às vezes uma estrela de duas cores (um triângulo amarelo e um triângulo com a cor correspondente a um segundo motivo de deportação).** 

___A repercussão do sofrimento dos homossexuais foi muito menor que a dos judeus, seja pelo número de pessoas, seja pelo preconceito da sociedade. Entretanto, isso não significa que a perseguição a homossexuais não existiu. Ela só foi menos propagada. 
___Portanto, Maick Love, repetindo meu conselho anterior, antes de sair por aí chamando alguém de mentiroso, sempre vale a pena dar uma pesquisada antes. 

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P.S.: Para quem quiser se informar mais sobre a perseguição nazista aos homossexuais, recomendo o extremamente didático Marcados pelo triângulo rosa, de Ken Setterington. 

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* Cada um em sua espelunca legislativa.
** SCHWAB, Jean-luc & BRAZDA, Brazda. Triângulo rosa. São Paulo: Mescla, 2011. p. 86.

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