5 de setembro de 2009

Deveria ser proibido proibir

_____Ânimos costumam ficar exaltados ao se discutir sobre o tipo de exposição que costuma figurar no Itaú Cultural – muitos amam, vários odeiam. Um ponto, entretanto, é quase uma unanimidade: as montagens costumam chamar muito a atenção. Na atual, sobre o Zé Celso, parte do projeto Ocupação, não foi diferente. Uma organização caótica e divina; só o modo como tudo foi montado já é uma obra de arte.




_____Gostei tanto da exposição que fui duas vezes. Na segunda, fui com bastante tempo livre para poder assistir trechos de peças, entrevistas e outros tipos de vídeos que estão sendo exibidos no local. Em um determinado espaço, vários televisores foram empilhados juntos: alguns estão no chão, outros mais acima, uns na linha dos olhos. Todos, com fones de ouvido para ouvir o que está passando na tela.
_____Assisti uma participação do Zé Celso no Roda Viva, da TV Cultura – o tempo todo em pé, o televisor na altura do meu peito. Em seguida, escolhi uma gravação do Teatro Oficina que fica ao rés-do-chão. Peguei o fone, sentei no chão, em frente à TV, e comecei a assistir. Alguns minutos depois, apareceu uma das meninas que guiam a exposição e disse que era proibido sentar no chão.
_____– Até para assistir?
_____Ela disse que nem para assistir. Se bobear, devo ter sido o primeiro a tentar assistir de verdade.
_____Se eu fosse o próprio Zé Celso, teria ignorado. Continuaria assistindo e ponto. Se ela insistisse, talvez eu até fizesse uma performance e continuasse a assistir, com menos roupa. Como sou, simplesmente, o Ulisses Adirt, eu me levantei e fui até algum canto em que era permitido sentar para rascunhar esta crônica.

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_____Acho importante que fique aqui o comentário: abrigar uma exposição sobre o Zé Celso, que sempre transgrediu diversos padrões, e não deixar alguém sentar no chão é um contrassenso (ainda mais se a pessoa estiver sentada no chão por essa ser a única alternativa viável para se assistir algo).
_____Quem estiver em Sampa e quiser aproveitar o evento, corra. A Ocupação fica em cartaz só até amanhã, domingo. Não dá tempo do Itaú Cultural arrumar guias que entendam mesmo do Zé Celso, mas, mesmo assim, a exposição é boa.

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P.S.: Para quem gosta do Zé, recomendo, também, o interessante texto "Zé Celso e o Efeito Encolhedor da Arte".

3 comentários:

  1. Se eu fosse o próprio Zé Celso, teria ignorado. Continuaria assistindo e ponto. Se ela insistisse, talvez eu até fizesse uma performance e continuasse a assistir, com menos roupa. Como sou, simplesmente, o Ulisses Adirt, eu me levantei e fui até algum canto em que era permitido sentar para rascunhar esta crônica.

    Eu também não teria feito diferente de ti =/

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  2. Vc não teria feito diferente de mim, Marcus... para a minha sorte e dos seus outros leitores. Vc tb escreve bem e o nosso jeito de revidar é ótimo. Os leitores ganham e pode até ser que as coisas mudem por causa de algum texto nosso.

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  3. [...] do espaço de maneira atípica, o projeto Ocupação, do Itaú Cultural, continua acontecendo, com seus defeitos e qualidades. A ocupação deste mês é uma homenagem a Chico Science. [...]

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